Reportagem NOS Alive 2022 (dia 3): Um dia glorioso que uniu a gigante família Metallica

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Num dia de temperaturas a roçar os 40 graus, o ambiente conseguiu aquecer ainda mais, à medida que a noite caía.

Pouco depois das 19h, o público começou a condensar-se no Passeio Marítimo do Algés com AJ Tracey no leme com o objetivo de guiar o barco a bom porto. O rapper britânico foi uma das confirmações mais tardias, substituindo o seu compatriota Stormzy… e bem!

Junto ao palco principal já se viam centenas de pessoas com t-shirts alusivas ao cabeça de cartaz da noite, Metallica, muitos dos quais menos convencidos com o contraste de género. Em contrapartida, ao longo do concerto alguns foram cedendo com a consistência do rapper, principalmente a partir de “Little More Love”, um dos aclamados hits do seu álbum mais recente, Flu Game.

Com uma camisola branca simples e calções bege para combater os trinta e muitos graus que se registavam em Algés, o rapper apresentou-se em palco sem grandes vaidades. Da simplicidade veio uma performance enérgica, bem disposta e recheada de interação com um público desafiante.
Poucos momentos depois, por algum motivo sem explicação, fazia-se a festa do lado direito do palco com crowdsurfing pelo meio, onde o público estava mais vibrante e AJ Tracey deu o devido reconhecimento.

Já assisti a alguns concertos de rap e reconheço que é um dos géneros mais complicados de corresponder e estar ao nível dos álbuns, muitas vezes porque não há fôlego para isso, outras porque as letras vêm meias esquecidas. Posto isto, é preciso dar o devido reconhecimento a AJ. O concerto não chegou a uma hora, mas foi constante com a mesma vibe e energia do início ao fim. Entoou-se “Thiago Silva”, nome da música da despedida. AJ Tracey abandonou o palco com uma despedida morna, mas mais quente do que a qual com que foi recebido, principalmente pela malta que se encontrava no lado direito do palco.

Se o crowdsurfing com AJ Tracey foi curioso, com Royal Blood, o nome que se seguia no palco principal, o momento replicou-se inúmeras vezes, tornando-se perfeitamente natural.

Depois de um excelente álbum de estreia em 2014 que trouxe reconhecimento ao duo britânico instantaneamente, dentro do universo Rock, foi com o 3º álbum que se tornaram um sucesso global. Typhoons, em tom mais comercial, foi o álbum que alavancou ao nível em que estão hoje. E foi por aí mesmo que começaram, com a música que partilha nome com o álbum (“Typhoons”) a abrir, e “Trouble Coming” pouco depois. Rapidamente o público cedeu e entrou em sintonia com a banda, que serviu também de aquecimento para os Metallica.

Com “Figure It Out” e “Out of the Black” a fechar, os chacras ficaram para o que vinha a seguir nesse mesmo palco. Por muito que tenha gostado da atuação de AJ Tracey, considero que tenha sido misturar água com vinho. Já Royal Blood apresentou a fórmula perfeita para concretizar essa simbiose.

Concerto bastante eletrizante, com Mike Kerr a conjugar os vocais com o baixo, que também serve de guitarra em simultâneo de forma irrepreensível, numa exposição muito fiel ao poderio do que é apresentado nos álbuns, acompanhado na perfeição pela bateria que tomou conta do espetáculo com um solo digno em “Little Monster”, que levou todos consigo.

Voltadas as atenções para o palco secundário, pelo menos com mais atenção do que durante Sea Girls, numa versão pin-up de assistente de bordo, St. Vincent entrou em palco sob uma chuva de aplausos e apupos que fizeram desta uma das receções mais estrondosas dos primeiros três dias de festival, no Palco Heineken.

Uma mulher com M grande, capaz de meter o público a vibrar com uma facilidade impressionante, não só pelo seu poder em palco, mas também pela personalidade teatral que tem. Começou de cima com “Down” (pun intended) a servir de exposição ao empoderamento feminino.

Bastaram quatro músicas para o concerto atingir o auge, com um momento ensaiado que fez o público levantar voo a servir de introdução para “New York”. St. Vincent desceu desse voo e, já ao nível dos festivaleiros, concluiu a música empoleirada na frontline para delírio dos presentes. Mas a escala foi curta e o concerto seguiu imediatamente para “Los Angeless”, mais uma escala na sequência de músicas de MASSEDUCTION, o álbum mais aclamado da artista norte-americana, e seguia-se “Sugarboy” e “Fast Slow Disco”, que falhou o embarque no álbum de 2017 por alguns meses.

Uma passagem por “Pay Your Way In Pain”, que mesmo com o nome e letra sugestiva, ninguém estava preparado para o que viria a seguir, embora não tenha dúvidas que toda a gente minimamente evoluída recebeu e percebeu a mensagem em alto e em bom som. “Cheerleader” de Strange Mercy, que já leva mais de uma década de idade, foi dedicada ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos, responsável por conduzir a população Estado Unidense de novo à idade negra.

Já o concerto ia longo no Palco Heineken, a fervilhar de calor e em erupção de entusiasmo, mas ainda dava tempo para mais músicas. “Fear The Future” seguiu “Cheerleader” e bem, com “Your Lips Are Red” do álbum de estreia de Vincent a puxar das palmas sincronizadas a pautar o ritmo. Para terminar, a fabulosa “The Melting Of The Sun” que não só é das melhores músicas do último álbum de St. Vincent, como foi uma das melhores de 2021. 

Foi um concerto rico, recheado de momentos fenomenais e carregado de conteúdo, numa montagem que fez passar uma mensagem em alto e bom som: “We know what we want and it is fucking basic human rights!”. Já a nível musical, a primeira analogia que me vem à cabeça, a nível de estilo e abordagem musical, é: Prince. A carreira ainda é curta, mas caminha nessa direção a passos largos!

Vincent é uma mulher com uma flexibilidade musical incrível, comprovada pelo quão ecléticos são os seus álbuns. Caso isso não for prova mais que suficiente para acreditar no que estou a dizer, sugiro que vejam um concerto desta senhora ao vivo. Portugal foi a última paragem da sua tour e foi especial. St. Vincent veio em vantagem, segura de si mesma e mostrou estar à altura, num concerto que deixou o público em apoteose. Deusa na Terra!

Nem um quarto de hora de descanso e, com o palco principal a abarrotar, tivemos uma passagem por “It’s a Long Way to the Top (If You Wanna Rock ‘n’ Roll)” dos AC/DC, seguida da lendária faixa “Ecstasy of Gold”, de Ennio Moriconne, que deu brilho a um dos filmes melhores filmes de western da história – O Bom, o Mau e o Vilão – a apimentar o início do concerto dos Metallica, sendo eles também lendários no seu ofício.

A suportar esta premissa, com braço de ferro, estavam as milhares de pessoas que inundaram o Passeio Marítimo do Algés envergando t-shirts alusivas à banda. Se isso não era indício suficiente para aceitar a longevidade da banda, as centenas de designs diferentes deixaram isso mais do que evidente, como se de uma tese científica se tratasse.

No concerto com maior afluência desta edição do festival, a banda de Los Angeles mostrou que os 40 anos de carreira são sinónimo de experiência e antónimo de cansaço, pois subiu a palco aparentando estar em excelente forma, como sempre.

Os êxitos sucederam-se num concerto onde parecia regra ter as letras na ponta da língua. O repertório luxuoso trouxe “Creeping Death”, “Enter Sandman”, “Ride The Lightening” e “Cyanide”, mas foi “Whatever I May Roam” que uniu a família Metallica numa bonita ode aos laços que são criados dentro de um género musical que teve de quebrar algumas barreiras para ser aceite globalmente. Falo, pois, do Metal.

Pausa nas guitarras mais aceleradas para dar lugar a um momento bonito de guitarra protagonizado por Kirk Hammett, abrindo portas à música que impede qualquer um afirmar que não gosta de Metallica: “Nothing Else Matters”. De punho bem alto, surgiram milhares de smartphones a captar o momento para imortalizar e relembrar um dia mais tarde. Se o momento foi bonito? Foi sublime.

As rotações voltam a aumentar com as sequências de guitarra e a efusividade da bateria de “Dirty Window”, seguida de “Sad But True” que provocou um efeito de coro, entre os presentes. Seguiu-se o cover “Whiskey In The Jar”, dos The Dubliners, na qual os Metallica pegaram em 1998 e lhes valeu um Grammy para Melhor Performance em 2000.

Um série de jatos de chamas cuspidos para o ar do topo do palco incêndiava os ânimos durante “For Whom The Bells Took” e “Moth Into Flame”, aumentando as altas temperatura que já se sentiam em Lisboa. No entanto, fazia todo o sentido face às músicas em questão, e a reação do fãs foi muito boa.

Antes do encore pode-se ouvir “Fade To Black” e “Seek & Destroy”, duas grandes malhas, num formato alongado recheado de interação com o público, que sorria de volta. A simular que era o final, os Metallica receberam aquele aplauso e ovação extra. Quase ninguém arredou pé, durante mais de dois minutos de espera, e quem ficou foi recompensado com um extra.

Para o encore ficaram guardadas “Damage, Inc.”, a abrir a sequência final acompanhada de fogo de artifício (inclusive na base do palco), assim como “One”, que, com uma abertura teatral, somou chamas à pirotecnia que tinha acontecidos momentos antes, também no palco. As pessoas nem sabiam onde fixar atenção, tal era a frequência de fogo de artifício, seguido de dezenas de lasers a sair do palco em direção ao céu, entusiasmando ainda mais a família Metallica, que cantava em uníssono.

A mais épica ficou para o fim. Falo, pois, de “Master of Puppets”, que recentemente viu a sua popularidade disparar com a exposição numa das cenas mais brutais de Stranger Things. Tão brutal que a banda lançou um comunicado público a agradecer e a louvar o que foi produzido, tendo a sua música como pano de fundo. Como homenagem, Robert Trujillo veio a concerto com a camisola do famoso “The Hellfire Club”, da série.

É bom constatar que, apesar das quatro décadas de carreira, a banda que partilha o nome com o género é intemporal. Digo isto devido à quantidade surpreendente de miúdos acompanhados dos pais a vibrar com a música e a entoar as suas letras. À semelhança de St. Vincent, a paragem de Metallica em Lisboa foi a última na sua tour europeia. E foi também uma despedida digna que emocionou a banda tanto ou mais do que os seus fãs.

De volta ao Palco Heinnken já tinha começado M.I.A., que, em contrapartida com Nilufer Yanya, teve posicionamento privilegiado a nível de alinhamento, a começar na mesma altura em que os Metallica saíram de palco. Graças a isso, teve uma recepção com uma quantidade estrondosa de pessoas, muitas delas fãs de Metallica que, ou por curiosidade ou por ainda terem energia de reserva para mais, se juntaram à festa e deixaram a tenda do Palco Heineken a abarrotar.

Recheada de entusiasmo, vestida de verde alface da cabeça aos pés, M.I.A. subiu a palco com uma equipa de dançarinas a explodir de energia. Energia essa que já faltava a muita gente, que optava por ficar sentada no tapete verde no lado de fora da tenda, e assistia ao concerto através do ecrã LED gigante na sua lateral.

O alinhamento contou com grande parte dos êxitos da rapper londrina, que faz 47 anos este mês, mas continua com a vivacidade que tinha aos 29, altura em que lançou o seu primeiro álbum. Álbum esse de onde saíram faixas como “10 Dollar” e “Gallang”, que constavam no alinhamento do concerto.

“Bad Girls” serviu de teste para descobrir se a malta estava só a olhar ou a ver. A resposta foi a segunda. E após uma saída breve do palco e já com um outfit novo, desta vez todo branco, mais angelical com uma mensagem na t-shirt: “Divine energy radiates through beauty and genius”, M.I.A. regressou para a melhor parte do seu concerto.

Esse regresso contou com a apresentação do seu novo single, “The One” que não só é o primeiro material que lança em mais de seis anos, mas também o mais surpreendente que M.I.A. lançou desde 2013. Imediatamente a seguir veio “Papper Planes” num contraste de eras, dado que foi a música que tornou a artista mundialmente conhecida. Por fim, coberta por um enorme véu branco, surge “Miracle”, com uma mensagem forte por detrás, que infelizmente faz mais sentido que nunca, onde se pode ouvir “When times are difficult, we gonna need a miracle”.

Sexta-feira gloriosa no Algés, com um balanceamento entre o Rap e o Rock que pôde agradar a todos os gostos e proporcionou vários espetáculos sensacionais onde a música saiu a ganhar, mas não mais do que todos os que a perseguiram.

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