Reportagem NOS Alive 2022 (dia 2): A experiência coletiva com os Florence + The Machine

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Um dia muito mais composto que ontem e que teve nos Florence + The Machine os protagonistas da noite. Sem margem para dúvidas.

Texto de: Alexandre Lopes e Diogo dos Santos

Segundo dia do NOS Alive, um calor que não se pode – metam protetor e hidratem-se – e muito mais gente que no dia anterior. Nesta quinta-feira, os pratos principais seriam servidos com os Florence + The Machine e Alt-J, bandas que apelam mais a um público mais jovem. Isso notou-se no Passeio Marítimo de Algés, com muitas jovens, bastantes crianças e, claro, várias famílias, a encherem o recinto do festival.

Enquanto muitos já faziam filas para encher o copo de cerveja Heineken, para comprar garrafas de água ou apostar no belo do Licor Beirão e suas variantes – era até possível sacar bebidas à borla -, aqui os vossos escribas ainda demoraram um pouco a chegar ao recinto. Foi, por isso, através da transmissão da Rádio Comercial, que fomos “acompanhando” o concerto d’Os Quatro e Meia, que confessaram nunca terem sequer sonhado em pisar aquele que é o maior festival em Portugal – pelo menos feito de raiz no país. A banda já consegue arrastar multidões, e certamente que a sua falange de fãs não ficou desiludida com a atuação do grupo português, a dar o mote no Palco NOS.

Meia hora após a banda de Coimbra ter começado a sua atuação, um artista bastante diferente também tinha consiga algum do público jovem feminino presente no recinto, neste caso no Palco Heineken: Alec Benjamin.

A sua música soa demasiado infantil, demasiado teen, assim como a sua voz, pelo que não deverá ter feito muitos fãs nesta sua passagem por Portugal.

Celeste chegou de assalto em 2020/1, com um álbum de estreia que já incluía bastantes êxitos provenientes de singles lançados em anos anteriores. Esse álbum expôs uma artista cheia de flow e com uma voz com tanto para dar e surpreender.

Felizmente, deram-lhe espaço e tempo para isso, em Portugal, este ano. Mais uma aposta do NOS Alive que mais rapidamente esperaria do Primavera Sound, por isso, créditos para a Everything Is New.

Em relação ao concerto, pode-se dizer muito com pouco. Apesar de Celeste ter apresentado algumas músicas novas como “On With The Show” ou “What Happened To Her?”, foram as originais que conquistaram. “Strange” a fechar o concerto então, foi simplesmente encantador. Pena ter o tempo contado, que condicionou em muito as músicas apresentadas, ficando a faltar um dos seus maiores êxitos – “Tonight Tonight”. Ainda assim, o set foi bem escolhido na sua generalidade, e a performance de Celeste foi íntima e calorosa.

Ainda antes do concerto de Celeste terminar, entravam em cena, no Palco Heineken, os Inhaler. A banda, constituída por Elijah Hewson (voz, guitarra), Robert Keating (baixo), Ryan McMahon (bateria) e Josh Jenkinson (guitarra lead e ritmo), lançou no ano passado o seu disco de estreia, It Won’t Always Be Like This, e foi precisamente os temas desse trabalho, bem como do primeiro EP, que veio apresentar.

O Palco Heineken não estava à pinha, longe disso, mas, nas primeiras filas, estavam os fãs dos irlandeses – muitos estrangeiros, possivelmente – a demonstrar o seu apoio nesta estreia do jovem quarteto. Há uma particularidade nestes Inhaler: o vocalista, Elijah Hewson, é filho de Bono Vox, estrela e vocalista dos U2. Daí compreende-se o porquê de, em entrevistas, não ser permitido falar na mega banda do seu pai. Afinal de contas, os Inhaler querem trilhar o seu caminho, sem qualquer rótulo ou sem quererem beneficiar de algum tipo de cunha.

No entanto, e assim que se sabe desta trivia, é impossível não fazermos comparações. As expressões que faz, a forma como se dirige ao microfone, a própria voz – está tudo lá, mas ainda falta um Danoninho e um punhado de temas mesmo orelhudos e definidores de algo para que os Inhaler consigam explodir. E Elijah Hewson e companhia têm uma longa carreira, pela frente, se tudo correr bem. Se quisermos comparar com os míticos U2, a banda de Bono Vox e Edge somente se começou a tornar um caso de sucesso a partir de War, de 1983, ainda que tenha sido o icónico The Joshua Tree, em 1984, a lançá-los para a ribalta.

Felizmente, os Inhaler contaram com um som ao seu nível no Palco Heineken – no dia anterior, por exemplo, a mistura de som não estava no seu melhor – e houve quem vibrasse bastante com temas como “It Won’t Always Be Like This” ou “My Honest Face”, a fechar o concerto. Podem não ter a mesma rebeldia ou agressividade de uns Fontaines DC, mas os Inhaler não parecem, de todo, um caso fugaz.

Se havia alguém mais feliz do que a audiência por estar no NOS Alive era Jorja Smith, que música a música esboçava sorrisos subtis para o público, espalhando o entusiasmo.

Com alguma interação esporádica entre músicas, Jorja ia cativando e transportando quem a veio ver numa viagem prazerosa ao seu universo melancólico e apaixonado.

Logo com “Be Honest”, a servir de uma das músicas de abertura, foi possível ver pessoas a correr dançando em direção ao palco, ocupando os enormes espaços vazios numa questão de minutos.

A artista britânica conseguiu uma exibição sensacional onde usou e abusou do seu maior trunfo, a sua voz, que estava afinada ao nível dos álbuns. Isto, combinado com um acompanhamento da sua banda que fez justiça ao nível da artista, conferiu uma ótima experiência, recheada de emoção a quem veio para a ouvir.

De um bando de miúdos a dar os primeiros passos no mundo da música, isto no Palco Heineken, passamos para um veterano, ou não estivéssemos a falar de alguém que já tem 71 anos de vida. É isso mesmo: podia ser o nosso avô ali em palco, a mostrar de que fibra é feito, e a demonstrar que muitas bandas e artistas de hoje em dia têm de comer muita sopinha até chegar a este nível.

Falamos, obviamente, de Seastick Steve. Não foi a sua primeira atuação por cá – essa estreia aconteceu no Optimus Alive 11 -, pelo que, 11 anos depois, voltou a um local onde já foi feliz, tendo feito certamente as delícias daqueles que, até então, não acompanhavam o seu trabalho. Não duvidamos que uns quantos ficaram convertidos.

Diz-se que, à medida que envelhecemos, mais experiência acumulamos, mais histórias vamos tendo para contar. E Seasick Steve (nome de nascimento Steven Gene Leach) é um entertainer nato, um autêntico contador de histórias.

Foi precisamente isso que fez, antes de se lançar às suas músicas. E embora nem sempre se percebendo o que ia dizendo, mostrou-nos e contou-nos como produzia as suas guitarras artesanais – a partir de uma espécie de mini tanque onde lavava meias, de uma matrícula… Guitarras com apenas uma corda, mas Seastick Steve a fazer a festa com aquele blues rock americano, sempre bem acompanhado pelo seu competente baterista.

A certa altura, o veterano de 71 anos chamou uma fã a palco para, olhos nos olhos, lhe cantar um tema mais íntimo, mais pausado. Fez-lhe o dia.

Perto do final da atuação, muitos eram aqueles que já abandonavam o Palco Heineken para assegurar o melhor lugar para assistir ao concerto dos Florence + The Machine, mas Seastick Steve foi extremamente bem recebido nesta nova vinda a Portugal. É muita vida, muita história, e esperemos reencontrá-lo muito em breve – o senhor está com um ótimo aspeto, diga-se.

Lembram-se de, ao início, termos falado que grande parte do público era constituída por jovens mulheres, crianças e mulheres? Tinha chegado a sua hora.

Pouco após a hora marcada, Florence Welch, a grande responsável por tudo isto, entra em palco descalça – uma das suas “imagens” de marca – e nem precisa de fazer nada para sabermos que o concerto estava ganho à partida. Público na mão, é fazer com ele o que quiser.

Com uma setlist que variou entre o novo álbum Dance Fever e uma bela discografia – Lungs (2009), Ceremonials (2011), How Big, How Blue, How Beautiful (2015) e High as Hope (2018) -, o concerto dos Florence + The Machine foi, à falta de outra palavra, magnífico.

Com uma voz com um alcance vocal notável, Florence Welch não só canta, como encanta, sempre bem afinada e sem falhar uma nota. Perdoem-nos a inconfidência, até porque não é a primeira vez que temos esta sensação: a sua doçura, positividade e a forma como se apresenta em palco – vestido vermelho, a fazer maratonas de uma ponta à outra do palco, a dançar imenso e a rodopiar como se não houvesse amanhã – até nos fazem lembrar uma princesa… da Disney. Não duvidamos que Welsh seja essa espécie de figura para muita da malta jovem que se encontrava pelo recinto.

Essa positividade foi demonstrada em temas como “Dog Days Are Over”, em que Welch apelou ao amor, a abraçarmos quem estava ao nosso lado e a pedir que guardássemos os telemóveis para desfrutar desta experiência coletiva. Uma autêntica festa.

Outro destaque foi quando, antes de avançar para “Never Let me Go”, um tema “muito difícil de cantar”, Welch explicou que não interpretava há coisa de 10 anos, uma vez que lhe fazia recordar uma fase da sua vida em que era “jovem, triste e bêbada”, mas que os fãs a ajudaram a “gostar dela novamente”.

A decorrer a um excelente ritmo, o concerto foi passando por temas como “Ship to Wreck”, “Big God”, “Spectrum” e outras, com Florence Welch a ter aproveitado para ir para junto do público duas vezes. Muitas jovens a chorar de alegria.

Já no encore, “Shake It Out” e “Rabbit Heart (Raise It Up)” – “You Got the Love” já não faz parte do alinhamento há anos – a fechar a atuação com chave de ouro. Era a primeira vez que muito do público presente tinha a oportunidade de ver os Florence + The Machine ao vivo, mas pelo menos agora podem dizer que fazem parte do culto.

De todos os concertos que rolaram no NOS Alive até à data, Nilüfer Yanya teve o pior encaixe possível no alinhamento, com o concerto a começar durante o dos Florence + The Machine, cuja atuação só terminou meia hora após o início de Yanya – e pouco depois de terminar o seu curto concerto, estavam a começar os Alt-J no Palco NOS.

Como tal, o Palco Heineken estava mais despido do que a artista londrina merecia. Para ser franco, até no NOS Primavera Sound, em 2019, estava mais gente. Melhor para quem gostava da artista e quis vê-la, pois teve direito a um concerto com espaço para vibrar e com vista privilegiada. Isto também ajudou a criar um certo ambiente de proximidade com artista, que ajudou ao espetáculo.

Vimos o concerto da front line, onde foi possível apreciar o talento de Yanya, que, para além de cantar todas as suas músicas, é também a guitarrista de serviço em simultâneo. A acompanhá-la estava um baterista, a baixista e a saxofonista, que também dava back-up à voz e saltava pontualmente para o teclado.

A melhor parte deste concerto foi mesmo o foco da artista, que se entregou às suas músicas com toda a alma e dedicação, como se as estivesse a tocar pela primeira vez, e o público sentiu isso. O resultado foi um concerto mais despido do que o normal, tendo-se feito ouvir melhor que muitas casas cheias, terminando com a eletrificante “Stabilise”.

Já longo ia o dia quando os Alt-J arrancaram, mas o espaço não lhes era estranho, visto que não é a primeira vez que passam pelo palco principal do Passeio Marítimo do Algés. A banda agiu de acordo e parecia que estava em casa, tal era a qualidade demonstrada.

Não foi um concerto tão cheio como seria de esperar, mas durante a semana e a essa hora, depois do show que foi Florence, não é fácil. Muitos dos que ficaram para os ver fizeram-no sentados no relvado sintético, um pouco por todo o lado, em torno do palco.

Pode-se dizer que os Alt-J estão em ótima forma, tal foi o nível com que se apresentaram, oferecendo aos fãs uma seleção musical rica em êxitos e futuros êxitos. Pudemos ouvir músicas fresquinhas tais como “The Actor”, “U&ME”, “Chicago” e “Hard Drive Gold” do mais recente álbum, The Dream, e também “In Cold Blood”, “Every Other Freckle” ou “Left Hand Free”, dos dois álbuns anteriores.

No entanto, foram os êxitos do álbum de estreia, An Awesome Wave, que mais puxaram pelos presentes, fazendo-se ouvir em coro pelos faz presentes, tais como “Matilda”, “Taro” ou “Breezeblocks”, a fechar um concerto muito terno e cheio de bom espírito.

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