MONO + A. A. WILLIAMS no RCA Club – A música das esferas

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Cometas destes não passam todos os dias.

Texto de: João Ribeira

No passado dia 7 de setembro, os japoneses MONO e a inglesa A. A. WILLIAMS apresentaram-se no RCA Club, em Alvalade, para divulgarem o seu último lançamento, no caso dos primeiros, e o seu próximo lançamento, no caso da segunda. O facto de ambos terem colaborado no excelente single “ “Exit in Darkness”/”Winter Light” lançado em 2020 aguçava ainda mais o interesse para o concerto que se avizinhava.

Tendo em conta a atual abundância de cantautoras de qualidade na cena musical alternativa, e na eterna presença não mencionada do trinvirato de pitonisas da escuridão (estou a falar de vocês senhoras Emma Ruth Rundle, Chelsea Wolfe e Zola Jesus…) a pesar sobre qualquer incauta artista que se atreva a tomar o palco, A. A. WILLIAMS podia encontrar alguma dificuldade em afirmar-se como algo de diferente da norma. Se essa possibilidade existia, ela depressa se evaporou. A música da britânica tem uma suavidade sussurrante de quem já não quer saber e se deixa levar pela maré, mesmo em canções com crescendos de post-rock como “Melt”, do seu primeiro álbum Forever Blue, ou na supra noturna, mas curiosamente épica “Control”.

O sentimento de vulnerabilidade esteve sempre presente, mesmo nos momentos mais bombásticos dos temas. E a suturna iluminação do concerto, que nunca permitiu distinguir a face da artista, ajudou a dar um sentimento quase fantasmagórico á voz delicada da mesma. Curiosamente, os pontos altos do set não pertenceram ao que artista já fez, mas aos temas que serão incluídos no próximo disco As the Moon Rests, que deverá sair em outubro deste ano. A altiva “Evaporate” tem o género de força expansiva que coloca (e colocou) qualquer cabeça a balançar ao som do refrão e, em conjunto com a excelente “Golden”, deixa-nos a ideia de que esta próximo disco será o seu melhor até a data. Veremos, mas o prognóstico é positivo.

Já os nipónicos MONO (vamos ignorar o baterista norte-americano Dom Cipolla ok?) não precisam de afirmar nada e uma já larga discografia permite-lhes ter escolha para uma setlist que agrade a gregos e troianos. Apesar de, tecnicamente, o último lançamento da banda ter sido a banda sonora para o documentário My Story, The Buraku Story do realizador Yusaku Mitsuwaka, disponibilizado este ano, a total falta de guitarras e bateria nessa obra, e a pandemia global que tivemos de sofrer, levaram a que, de facto, o lançamento que esteja a ser divulgado nesta digressão seja o disco Pilgrimage of the Soul do ano passado.

As duas faixas de arranque desse registo, “Riptide” e a bamboleante “Imperfect Things”, foram as escolhidas para abrir as hostilidades, saltando depois para a ligeiramente menos recente “Nowhere, Now Here”. E vamos ser honestos aqui, o grande problema do post-rock e derivados é o eterno vício de todas as faixas serem um crescendo. Uma verdadeira armadilha para qualquer banda que não tenha o talento suficiente para manter dinamismo nas suas composições de modo a evitar o ritual do habitual em todas faixas. Os MONO saltam esse obstáculo com uma facilidade desconcertante com faixa atrás de faixa de transições, do íntimo para o cósmico sem nunca aborrecerem. Uma verdadeira música da esferas Kepleriana sem quebrar nem regras nem a atenção do público que lá esteve para a ouvir em primeira mão.

O próprio concerto caminhou sempre para esse crescendo perfeito com o set inicial a terminar com a canção “Ashes in the Snow”, com os seus xilofones iniciais a fazerem vénia a Mike Oldfield, o avôzinho do Rock repetitivo e hipnótico. Para o encore, A. A. Williams voltou ao palco (mais uma vez bem longe de qualquer fonte de luz) para dar a voz ao tema “Exit in Darkness”, do single lançado em conjunto, e os japoneses remataram o brutíssimo “Com(?)” do seu álbum de estreia, editado em 2023 – já lá vão quase 20 anos!

Cometas destes não passam todos os dias e, quem não esteve presente, irá certamente arrepender-se de não os ter visto a passar.

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