Masego no Sagres Campo Pequeno – Benção ao abrigo da chuva

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Valeu, Masego.

Micah Davis é Masego para o mundo da música. Jamaicano-Americano, nascido em Kingston e crescido no estado da Virginia, tem-se revelado nos últimos anos como um nome cimeiro na arte da mescla de estilos, neste caso com o ingrediente secreto que é a sua proficiência no saxofone. O nome significa “benção” em Bantu, significativo para o seu crescimento no seio de comunidades religiosas e a sua inspiração no gospel.

Estilista do estilo TrapHouseJazz, por si próprio denominado, trouxe ao Sagres Campo Pequeno a sua tournée europeia Where We Goin?. Do cartaz ao cuidado que se verá no palco com diversos ecrãs à volta dos músicos em palco, nota-se gosto e atenção na preparação para estes espetáculos. Acima de tudo pela escolha de Tanerélle. Cantautora de múltiplas carreiras, a jovem americana sobe ao palco pelas 20h20 e, durante meia hora, dá uma bela performance com a sua voz etérea a sobrevoar as suas letras muito ligadas a temas prezados na atualidade, num R&B que fez escolher à casa já bem composta a molha que teve de apanhar para chegar até à icónica praça de touros nesta quinta-feira à noite. Em especial “Mama Saturn” resulta numa aura quase espacial, antes do final com riff ininterrupto em fundo de “Lovin’ you”.

Tanerélle foi então aposta ganha que diversos convertidos terá feito quem a ouviu pela primeira vez, doce recompensa que suportou a espera até ao arranque de Masego e a sua banda. “Navajo” é uma das mais conhecidas e serve de arranque, escolha natural com o sample de “I love you” a fazer de cumprimento aos presentes. Segue-se “Queen Tings” com o videoclipe que acompanha em pano de fundo e o saxofone a fazer a sua primeira intervenção forte, antes do multi-instrumentista se dirigir ao público com algumas bem fluentes palavras em português. Saudação bem acima de uma protocolar gentileza, justificada em boa parte pela sua paixão por Gilberto Gil, Jorge Ben e tantos outros artistas brasileiros, em especial da Bahia e da sua proximidade com as suas próprias influências africanas – em entrevista à Ritmos e Batidas, refere-se mesmo a intenção de lá abrir um café que servia de porto de abrigo a novos artistas. Um pouco mais à frente “Mistery Lady” tem um início vocal profundamente giliano, “Yamz” vai por ter terrenos R&B antes da bateria a marcar o ritmo de “What You Wanna Try”, antes da Suzanne Vega de “Tom’s Diner” tomar conta da base da canção e da nossa imaginação.

Esta mistura de influências tão próximas, e porém tão distantes, pauta muito do percurso de Masego enquanto artista. Já o seu papel como produtor de sucesso (com lista de colaborações impressionante para quem tem 30 aninhos e não cresceu no seio da industria) aparece com naturalidade tendo em conta as diferentes fontes que se vão auscultando, num concerto que entretanto atinge uma lotação bem cheia na plateia em pé e composta nos lugares sentados. Boa casa numa sala nem sempre fácil para quem não tem uma cobertura mediática comparável a outras deste início de 2024, nem um culto vindo de casa como diversos brasileiros que por lá têm marcado concertos para o mercado da saudade.

“Silver Tongue Devil” transpira a Caribe, “Yebo/Sema” vai mais longe às raízes de África e volta a trazer o saxofone para o lugar de destaque, e “King’s Rant” está implantada em terrenos mais urbanos, mas a voz e capacidade harmónica nunca fica em questão ou permite que exista o risco de um alinhamento desalinhavado.

1h30 depois, sempre a ritmo constante e sem vacilações, chega a balada do encore com aquela que será a música mais esperada da noite, “Tadow”, com corpos ondulantes na assistência antes do regresso à rotina da vida. Valeu, Masego.

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