Jorge Drexler no CCB – Ainda estamos em pós-pandemia?

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Volta mais vezes, Jorge. Portugal gosta e precisa do teu flow.

Texto e fotos de: Emanuel Canoilas

O primeiro sinal de que estamos perante um momento musical marcante para a comunidade sul-americana que reside na zona de Lisboa foi logo à porta do CCB. Um simpático senhor, bem falante de castelhano mas fazendo os maiores esforços por falar em Português, pergunta-me se se paga estacionamento nesta zona. Antes de começar a discorrer sobre a tragédia que é a EMEL, perguntei-lhe se vinha ao concerto e de onde era.

“¡Mi paisano Jorge!” Está mais do que explicado.

Assim que se entra pela porta para o foyer do Grande Auditório do CCB, percebemos que a maioria do público é jovem e sul-americano. Não há dúvidas de que o Jorge Drexler move multidões e isso fica confirmadíssimo pelo cartaz que avisa à entrada: concerto esgotado.

Oito minutos depois da hora marcada, embora o CCB tenha toda uma campanha no ar onde afirma que vai proibir a entrada de espetadores atrasados, as luzes de sala escurecem e o som de fundo genérico de selva (sul-americana?) que ecoava pelas colunas torna-se ainda mais evidente. Jorge Drexler apresenta-se em Lisboa para viajar pela sua vasta carreira (com um Óscar de Melhor Canção Original à mistura, senhores!), mas focando no seu mais recente trabalho, Tinta Y Tiempo, de 2022, recheadíssimo de colaborações com gente relevante da música pop hoje em dia, como C. Tangana, Rubén Blades, Martín Buscaglia e Noga Erez.

Quando o som de selva baixa, dá lugar a um conjunto de áudios gravados pelo WhatsApp (o “plim” entre as mensagens não engana, Jorge!). Ainda com o palco vazio, a voz de tom feminino fala-nos sobre a origem das espécies e dá o mote para o que aí vem: onde está afinal a “media naranja” de cada um de nós? Jorge passou uma boa parte do início do espetáculo a explicar que essa expressão, traduzida em Português para “alma gémea”, está muito presente neste novo trabalho. Terá Jorge conhecido o amor verdadeiro nesta pandemia? Porque é justamente esse o sentimento que Jorge nos deixa, muitas vezes explicitamente. Que este espetáculo é o seu regresso pós-pandemia, que este novo disco é um dos muitos frutos musicais do período fértil-depressivo da pandemia de 2019-2022 (já acabou?) e que finalmente podemos celebrar este regresso às salas. Pois podemos, mas não deixamos de reparar em máscaras na cara de umas 10 pessoas nesta plateia.

Quando entra em palco, a emoção da plateia acompanha o sorriso alargado que Jorge traz estampado na cara. Começa imediatamente a dançar e apostamos que metade da plateia adorava estar noutra sala, onde as ancas poderiam ser mexidas e tocadas no parceiro do lado. “Esta é a maior sala onde já toquei em Portugal”, diz-nos um Jorge impecavelmente vestido com um terno cinza e ténis (ou sapatilhas) brancos. Podia ter saído de um brunch em Cascais, pela vestimenta. Mas dá a ordem à banda de seis elementos e continua o set.

Destacamos a voz limpa, poderosa e levemente rouca de Alana Sinkëy, artista da Guiné-Bissau, que acompanha Jorge Drexler nos coros. Depois do merecido protagonismo dado a Sinkëy, Jorge diz-nos que vai viajar até ao seu primeiro disco, La luz que sabe robar, disco de 1992 “que vendeu 33 cópias. E eu conheço 31 dessas pessoas”, diz-nos o carismático líder deste grupo de músicos.

Encantados por estas histórias deliciosas entre músicas, todas relatadas com um sotaque algures entre a fronteira do Uruguai com o Brasil ou mesmo da fronteira de Portugal com Espanha, a crise de tosse alérgica que assalta este vosso fotógrafo-repórter piorou. E para evitarmos chatear os restantes espetadores e um fim-de-semana de cama de molho, decidimos abandonar antes do final do concerto, infelizmente.

Tocava “Bendito Desconcierto” e não deixamos de pensar que há poesia neste abandono em desconcerto.

Volta mais vezes, Jorge. Portugal gosta e precisa do teu flow.

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