Capitão Fausto no Coliseu de Lisboa – Gazelas e Raposas, 10 anos depois

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São um raro caso de sucesso no panorama nacional, e, ao contrário do que “prometiam” no seu terceiro disco, esperamos que não tenham os dias contados.

Se procuram uma crónica de todo o concerto dos Capitão Fausto, avisamos já – não a vão encontrar por aqui. Porquê? Bem, quem nunca achou que um compromisso acabaria a tempo de outro compromisso? Pois, não acabou. Gazela, o primeiro álbum dos Capitão Fausto, celebrava 10 anos de existência, mas nós não chegámos a tempo de o ver desfilar por inteiro. Perdoem este vosso escriba. Um Coliseu completamente cheio (pandemia, ainda aí estás?) recebia-nos já depois das 22h, quando “Santa Ana” fazia as ancas dos convidados abanarem. Bem, mas vale sempre a pena quando a alma não é pequena, certo?

Logo percebemos que o concerto está a seguir o habitual modelo de álbum-tocado-na-integra. Segue-se, portanto, “Sobremesa”. 10.000 anos depois entre Vénus e Marte, é, sem dúvida, uma das grandes influências do álbum hoje celebrado, e, por isso, não surpreende que o nome do seu obreiro dê título a “Zécid”. Ao vivo, ficou ainda mais prog-rock que nunca, com “Don’t Let Me Down” dos The Beatles a juntar-se à festa (e que bem que encaixa aqui!). E, como Domingos Coimbra avisava, onde há uma gazela, há uma “Raposa”, canção que fecha o álbum, com o prog a aparecer novamente. Acabava aqui a primeira parte do concerto.

Foram rápidos a sair e igualmente rápidos a voltar a palco. Gazela foi o pretexto para juntar os amigos, mas muito havia a celebrar nestes 10 anos de edições discográficas da, dizemos nós, mais importante banda rock nacional a aparecer depois dos Linda Martini. São poucas as bandas que conseguem consenso entre crítica e público, e os Capitão Fausto têm-no conseguido. A primeira vez que os vimos em palco foi não muito tempo depois do lançamento deste disco, numa tarde de dezembro, em 2011, numa Estação de Metro Baixa-Chiado improvisada de sala de espetáculos. E o carinho que receberam pelos presentes nessa ocasião foi tanto como o que o Coliseu demonstrou nesta noite. Desde cedo percebemos que poderiam ir longe, e cá estamos hoje, 10 anos depois a comprová-lo.

A Invenção do Dia Claro, de 2019, iria também marcar forte presença, a fazer a ponte entre passado e presente de uma banda que tem alargado, sem alterar a sua essência, as suas influências. Há rock, psicadelismo, prog-rock, tropicalismo, pop, sempre com a língua portuguesa a ligar os pontos. E poucos o fazem como os Capitão Fausto. A segunda parte começa mais tranquila com “Amor, a nossa vida”, que antecede “Alvalade chama por mim”, a homenagem ao bairro que tanto os tem marcado, e que recentemente abandonaram. Porque, como Tomás Wallenstein lembra, os fins também são para serem celebrados. Pesar o Sol, de 2014, também não é esquecido, com uma versão mais musculada de “Maneiras Más”. Curiosamente ou não, foi a única incursão pelo seu segundo álbum.

Os Capitão Fausto são exímios na escolha de bons arranjos, e, na transposição para o palco, esse bom gosto não desaparece. “Os dias contados” é disso exemplo, numa versão bem mais longa que em disco, por onde desfilam guitarras à la King Gizzard e teclados à The Doors. Mas há também teclados açucarados e algum toque funk. Afinal, a noite é de festa. E a plateia demonstra-o, quer durante, quer no final de cada canção. Não é noite para converter, é noite de convertidos, mas eventualmente terão alargado o número de fiéis.

Um dos momentos da noite chegaria com “Certeza”, confessamos, umas das nossas preferidas da sua discografia. Aqui cheira a Brasil, há tropicalismo à solta. Não faltou sequer Tomás Wallenstein ao violino, ele que começou a sua ligação à música precisamente com este instrumento. Como não gostar? Foi bonito.

Apresentam cada elemento da banda como irmão, e sim, sente-se um bem-estar geral entre todos os elementos da banda. Recordam que há dois anos atrás tocavam, por estas datas, no Campo Pequeno com a Orquestra das Beiras. Foi, provavelmente, dos últimos, se não o último grande concerto pré-pandemia em Portugal. Coincidência ou não, aqui estão eles, de novo, desta vez, com (algumas) máscaras.

“Faço as vontades” (quem nunca fez as vontades para agradar à mãe?) e “Lentamente” encaminhavam o set para o seu final, que termina em jeito anticlímax com “Final”, qual hino romântico rock FM de bom gosto.

Mal saem de palco, logo percebemos que será impossível não voltarem, tal o vigor e efusividade com que a multidão exige o encore. A banda também não se fez de difícil. O cliente pediu, o cliente vai ter. “Amanhã Tou Melhor”, talvez a sua música mais conhecida, é cantada a plenos pulmões, bonita canção de entrada na fase adulta, a lembrar-nos a todos que nem sempre seremos o que equacionámos ser. “Morro na praia” seria a penúltima (também nós concordamos que trabalhar nunca nos fez bem nenhum, mas sempre é melhor que ver o tempo a passar) e, a fechar, aquilo que todos desejamos de bonitas noites como esta, “Boa memória”. Abraçam-se, perante um Coliseu em estado de felicidade. Fim de festa.

São um raro caso de sucesso no panorama nacional, e, ao contrário do que “prometiam” no seu terceiro disco, esperamos que não tenham os dias contados. Porque estão muito bem, e recomendam-se.

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