Um relançamento que conta com os extras habituais e que salva mais um título esquecido, anteriormente apenas disponível no Japão.
O trabalho de preservação da Ziggurat, aliada aos esforços de editoras como a ININ Games e Nightdive Studios, sem podermos descurar o apoio da Limited Run – mesmo que não concordemos totalmente com as suas práticas, em especial, na especulação do mercado e do preço dos videojogos reeditados –, não pode ser ignorado. Não só a Ziggurat e as restantes editoras garantem a reedição de videojogos anteriormente esquecidos ou perdidos entre lutas de direitos, como serve, ainda que à distância, como método de combate aos preços avultados do mercado de colecionismo. Rendering Ranger: R² [Rewind] é um desses casos, considerado como um dos videojogos mais raros da Super Famicom, apenas lançado no Japão e há muito esquecido, chega finalmente ao PC e consolas com uma edição especial que procura dar aos fãs de Manfred Trenz (Turrican) uma maior acessibilidade legal ao seu run and gun de 16 bits.
Rendering Ranger: R² [Rewind] é um produto do seu tempo e um caso que desconhecia totalmente. Se a série Turrican sempre me fascinou, também ela já reedita pela ININ Games, Rendering Ranger: R² apanhou-me de surpresa. O seu estilo visual, composto por gráfico pré-renderizados, claramente influenciados pela popularidade de Donkey Kong Country e do excelente trabalho visual da Rare, já revelam as suas origens temporais na quarta geração de consolas, mas a sua curta narrativa também esconde sinais do tempo que não podemos ignorar. Em Rendering Ranger: R², o planeta Terra está a ser invadido por forças alienígenas, à beira da destruição, cujos destroços e causalidades de guerra relembram o futuro distópico de Terminator 2: Judgement Day, com uma paleta mais escura e densa, dentro de tons cinzentos e castanhos. É um produto dos 90s, desde a música – inconfundível do sistema de som da SNES – à sua ação frenética, onde não há nada a esconder: antes pelo contrário.
Manfred Trenz procurou uma abordagem diferente em Rendering Ranger: R². Ainda que existam semelhanças entre o antigo exclusivo da Nintendo e a série Turrican, Rendering Ranger: R² é muito direto na sua abordagem ao género run and gun e torna-se não só mais fácil de pegar e jogar, como nunca perde a dificuldade que tanto carateriza o género. Não existem surpresas nas mecânicas principais e o nosso super soldado é capaz de saltar, disparar em oito direções, baixar-se e colecionar um vasto leque de armas – desde lasers a padrões de disparo rápido e até balas com ricochete –, tal como power guns para as armas e ainda ataques especiais para cada uma das opções. Com nove níveis principais, Rendering Ranger: R² foca-se na ação e coloca-nos numa luta constante pela sobrevivência com tiros, inimigos, explosões e bosses a irromperem por todas as direções, mantendo a sua perspetiva sidescroller em todos os momentos.
A grande novidade de Rendering Ranger: R², o seu grande trunfo na manga, é a divisão da campanha em dois modos de jogo distintos. Se começamos a campanha em modo run and gun, com o super soldado no centro da ação, não demoramos a encontrar a sua nave e a passarmos o combate para o espaço, assumindo um formato shoot’em up clássico que relembra títulos como R-Type e Gradius. A combinação entre estilos é incrível e funciona muito bem, onde nunca sentimos que uma das partes se impõe desnecessariamente sobre a outra. Rendering Ranger: R² volta a apresentar poucas surpresas até dentro da nave e utiliza não só um sistema de movimentação livre, como as mesmas armas do super soldado e ainda a possibilidade de virarmos a nave para atacarmos a traseira.
Os picos de dificuldade são esperados, mas Rendering Ranger: R² consegue ser muito implacável. Os primeiros níveis são muito equilibrados e requerem apenas alguma paciência ou destreza nas sequências de salto – basta um erro e perdemos automaticamente uma vida –, com a dificuldade a ser reduzida graças ao facto de termos uma barra de vida e não o famigerado “one hit, one kill” que tantos outros jogos do género utilizavam. No entanto, os bosses são mesmo testes de paciência devido aos seus pontos de vida quase eternos, relegando os confrontos ora para espaços mais claustrofóbicos, onde a mobilidade é reduzida, ora assumindo formatos e dimensões tão extensos que é difícil encontrar pontos seguros no ecrã. Os três maiores problemas são, na minha opinião, as hitboxes pouco compreensíveis da personagem e da nave, que nunca sabemos bem onde começam e terminam; a falta de visibilidade devido à paleta de cores dos cenários e às dimensões dos projéteis inimigos; e os míseros frames de invencibilidade que podem ditar a perde de vários pontos de vida sem nos apercebermos.
Rendering Ranger: R² [Rewind] é mais um lançamento forte para a Ziggurat e um pequeno golpe contra a falta de preservação de videojogos numa indústria que se recusa a encontrar uma solução para a ausência de catálogos inteiros de estúdios e produtoras já desaparecidos. A edição conta com os extras do costume, como a opção de rewind, save states, várias opões visuais, boarders e ainda a inclusão da versão internacional, Targa, que nunca foi lançada. Com um preço apelativo, 9,99€, Rendering Ranger: R² [Rewind] é uma boa opção para os fãs do género ou para aqueles que sempre quiseram jogar este clássico perdido de Trenz sem necessitar de emuladores não oficiais. Agora está tudo aqui.
Cópia para análise (PlayStation 5) cedida pela Ziggurat