Crítica – Radioactive

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Rosamund Pike é uma fantástica Marie Curie num filme mal estruturado.

Radioactive

Sinopse: “A história da vencedora do Prémio Nobel, Marie Curie (Rosamund Pike), e das suas extraordinárias descobertas científicas vistas através do prisma do seu casamento com Pierre (Sam Riley) e dos efeitos transformadores que as suas descobertas tiveram no século XX.”

Antes de mais, um bocadinho de mim: sempre fui um homem da ciência. Tenho um Mestrado em Engenharia Eletrónica e de Telecomunicações e sempre me interessei seriamente sobre como é que tudo realmente funciona. Por outro lado, não sou o maior fã de filmes biográficos devido aos limites impostos pelo género. Na maioria das vezes, estes filmes seguem um argumento genérico, repleto de pontos de enredo formulaicos e com falta de uma narrativa imaginativa.

Sendo assim, costumo analisar os mesmos com base numa simples pergunta: “sei mais sobre a personagem e/ou a história que a tornou famosa agora que assisti a este filme?” Outro aspeto que é importante em qualquer peça de cinema, mas ainda mais neste género: o ator que interpreta o protagonista.

Radioactive possui Rosamund Pike como a magnífica Marie Curie. Se existe um elemento inegavelmente incrível nesta longa-metragem é a prestação brilhante de Pike enquanto a famosa cientista. Ora, não tenho ideia de como Marie era enquanto pessoa, logo não consigo avaliar a interpretação de Pike no que toca ao quão semelhante esta é a nível pessoal. No entanto, as suas expressões e emoções podem facilmente garantir-lhe algumas nomeações quando a temporada de prémios chegar. Quando se trata de decidir quais expressões usar ou o quão fortes as suas emoções precisam de ser, Pike consegue sempre escolher a opção mais coerente tendo em conta a personagem que retrata.

Sam Riley partilha uma química excecional com Pike, entregando alguns momentos genuinamente apaixonados e conversas bem divertidas. Anya Taylor-Joy (Irène Curie), que até me esqueci de que também entrava no filme, é uma atriz que acabo sempre por apreciar ver no ecrã e, neste caso, é uma surpresa muito bem-vinda. No entanto, este filme está tão focado na sua protagonista (como deve estar), que todas as personagens e atores que não sejam o principal acabam por ser totalmente esquecidos (nada de errado com isto).

Tecnicamente, é obrigatório elogiar a equipa de maquilhagem, tendo feito um ótimo trabalho ao envelhecer Pike durante todo o tempo de execução, à medida que o tempo flui dentro do filme. A banda sonora de Evgueni e Sacha Galperine é simples, mas bonita o suficiente para elevar ligeiramente algumas sequências.

Infelizmente, Radioactive tem mais do que apenas um par de problemas menores. O meu problema principal está relacionado com a forma como tudo é montado. Duvido que a maioria das pessoas assistam a este filme com a esperança de aprender mais sobre as relações pessoais de Marie Curie. Isto não é exatamente um drama romântico. Tendo em conta as descobertas que fez, sentia-me extremamente interessado em ver como, de facto, descobriu a radioatividade.

Radioactive

Claro, não esperava que Radioactive se transformasse numa aula de química altamente detalhada com todas as suas especificidades. Mas Marjane Satrapi apressa a maioria dos momentos relevantes ou ignora-os completamente. O primeiro resultado impactante de Marie é apresentado de forma tão casual ao espetador que faz com que esteja longe de ser um grande momento (que é).

Existem algumas sequências animadas visualmente cativantes que explicam o processo que as personagens vão realizar, mas, ainda assim, é bastante underwhelming e dececionante. Continuo com dezenas de perguntas agora, às quais esperava que o filme respondesse, mas não o fez. Também é editado (Stéphane Roche) de uma maneira tão descontrolada que parece que estou a ver dois filmes completamente diferentes. Não sei se a ideia foi de Satrapi ou de Jack Thorne (argumentista), mas mostrar eventos futuros (principalmente adversos) diretamente relacionados com as descobertas de Marie não funcionou para mim.

Sabem como estes filmes tendem a ter algum tipo de informação, mesmo antes dos créditos, a explicar como tudo continuou na vida real? É como se tivessem pegado nisso e espalhassem aleatoriamente por Radioactive.

O foco foi totalmente direcionado para a vida pessoal da protagonista, ao invés de equilibrá-la com as suas experiências que mudaram o mundo. Respondendo à minha pergunta inicial, aprendi mais sobre Marie Curie, mas não sobre o que realmente gostava de saber sobre a sua vida. Em última análise, este trabalho biográfico não honra o seu legado. Apenas como exemplo, a história aborda as suas descobertas tão rapidamente que nem sequer explica as razões por detrás de algo tão simples como a nomenclatura dos novos elementos. No geral, não é digno de ser a biografia da vida da cientista.

Radioactive apresenta-nos uma Rosamund Pike notável como a fantástica Marie Curie, mas Marjane Satrapi (realizadora), Jack Thorne (argumentista) e Stéphane Roche (editor) não conseguem entregar uma narrativa bem estruturada, passando a correr pelas descobertas e experiências inovadoras da cientista ou ignorando-as por completo. A mistura aleatória de catástrofes futuras com a história do filme em si não só quebra o tom e o ritmo do mesmo, mas também o torna um pouco atrapalhado.

Apesar da vida pessoal de Curie ser sempre um ponto de interesse, o seu trabalho e a forma como o desempenhou são as razões pelas quais a maioria das pessoas querem assistir ao filme, de modo a saberem mais sobre as suas contribuições para o mundo de hoje.

Infelizmente, o legado de Curie é remetido a uma obra biográfica genérica, restrita pelas fórmulas do género. Uma bela banda sonora dos irmãos Galperine e algumas sequências animadas visualmente elegantes ainda dão algum fôlego a uma longa-metragem que acaba por ser desapontante…

Radioactive fica disponível esta sexta-feira, dia 24 de julho, no Amazon Prime Video.

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