PZ no Musicbox Lisboa – Nunca Acaba

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Foi com um disco de originais fresco de meses, Do Outro Lado, que PZ se apresentou para mais um Nunca Acaba. Foi a parte 4 de uma festa de pijama onde o artista faz questão de se apresentar trajado em conformidade.

Paulo Zé Pimenta tem vindo a construir uma carreira singular, de base auto-didacta, e desdobra-se em vários alter-egos musicais, como Pplectro ou Paco Hunter, mas é como PZ que é mais conhecido. Desde 2005, com o lançamento de Anticorpos, que a mistura de ritmos electrónicos com letras que, de acordo com o próprio, procuram retratar a tragicomédia portuguesa.

E PZ é, claramente, um tipo de estúdio – curiosamente a mistura deste último Do Outro Lado em que a mistura feita pelo irmão, Zé Nando, e é responsável pelo seu próprio selo, a Meifumado, que edita também nomes como Orelha Negra, Mind da Gap e, onde talvez existam maior afinidade de imaginário, Conjunto Corona. Faz também design gráfico dos álbuns, aliás de fino gosto. Num mercado periférico e pobre como o nosso, homens do Renascimento como este fazem falta.

O outro lado do espelho desta capacidade de ir a todo o lado é que PZ é melhor a conceber ideias do que a mostrá-las em público, síndrome aliás não invulgar. Neste final de ano, e perante uma sala bem composta de um público bem disposto, o cenário do MusicBox está adequado ao trio que entra em palco (incluindo Fernando Sousa, de fama X-Wife – o grande Rui Maia estava atento no meio do público, no baixo, além de um teclista), o homem da cabeça e patinhas de leão peluche entra com Realidade Parela”, um dos primeiros singles de Do Outro Lado.

As texturas da produção são evidentes, há aqui bom som. E quando PZ diz que este é o seu álbum mais maduro, tem razão. Inspirado por Menos Um, série da RTP muito séria onde participou como ator e que fala das agruras de quem tenta triunfar no meio artístico em Portugal, é um álbum mais pessoal, introspetivo. Talvez isso ajude a explicar que este não seja propriamente um concerto festa, como se esperaria do tom humorístico de muitos dos temas.

Para compensar a falta de alguma interação na performance, PZ saca de alguns objectos em palco para dar cor e movimento, como uma luva de boxe em “Banano”, de sonoridade muito Kavinsky. Não estamos perante um showman, mas a boa onda nunca acaba.

Mas o público ajuda e puxa, grande parte do qual tem pronuncia do Norte e usa a reunião em Lisboa para fazer daquele um momento em que o sentido de humor a riqueza de linguagem explorada por PZ, e partilhada em especial por eles, possa ser celebrada em público. Tás com a Neura” é um ótimo exemplo disto, em que expressões como “por alma de quem?” ganham nova vida.

Tal como os já mencionados Conjunto Corona, estamos perante herdeiros de uma grande tradição que remete por exemplo, para os GNR, Táxi ou Trabalhadores do Comércio, cada um no seu estilo. “Sem Ponta por Onde se lhe Pegue”, com o seu refrão de Malhão, é outro exemplo desta ligação. É muito por aqui que o concerto ganha.

É quando se chega ao miolo do concerto que começam a ser cantados e tocados os temas mais famosos, e curiosamente dos menos localizados no espaço e no tempo, de PZ: Croquetes” e “Cara de Chewbacka”, letra do grande David Bruno. Aqui há menos preocupação em mexer nos sintetizadores, e aumenta o grau de soltura.

A chegar ao final, “Mais” tem bonita dedicatória ao ícone da comunicação Júlio Isidro, demonstrativo do mundo de referências que por aqui é habitado, e pouco depois a hora e 10 minutos de atuação terminar. Para utilizar um dos seus vários bordões que gosta de utilizar, com PZ de facto quem ganha é você, seja a ouvir em casa ou numa sala intimista. No futuro espera-se que esta última parte seja cada vez mais assim.

Fotos de: Emanuel S. Canoilas

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