Dados do INE traçam um retrato claro do envelhecimento demográfico e do declínio populacional em Portugal previsto até 2080.
Por ocasião do Dia Mundial da População, celebrado no passado dia 11 de julho, o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou dados que traçam um retrato demográfico detalhado de Portugal e da União Europeia. A informação divulgada permite observar tendências estruturais que se têm vindo a consolidar ao longo das últimas décadas, com especial destaque para o envelhecimento da população portuguesa e a redução significativa da proporção de jovens no total de residentes.
Em 2024, a população residente em Portugal foi estimada em 10.749.635 pessoas. Desde 1970, o país registou um crescimento de 2.086.383 habitantes, o que corresponde a um aumento de 24,1%. No entanto, esta evolução numérica esconde alterações profundas na composição etária da população. Em pouco mais de meio século, a proporção de jovens caiu para cerca de metade, enquanto a percentagem de pessoas com 65 ou mais anos mais do que duplicou.
Esta transformação demográfica traduziu-se num aumento expressivo da idade mediana, que passou de 29,7 anos em 1970 para 47,3 anos em 2024. Nos homens, a mediana subiu de 27,9 para 45,5 anos; nas mulheres, de 31,2 para 48,9 anos.
A tendência de envelhecimento não é exclusiva de Portugal, mas o país destaca-se no contexto europeu. Em 2023, Portugal era o segundo Estado-membro da União Europeia com maior proporção de idosos, fixando-se nos 24,1%, apenas superado pela Itália (24,3%). Em contrapartida, Portugal registava a terceira menor proporção de jovens (12,8%), apenas acima de Itália (12,2%) e de Malta (12,3%). Ambos os indicadores estão abaixo das médias da União Europeia, fixadas em 21,6% para idosos e 14,6% para jovens.
A disparidade entre faixas etárias reflecte-se no índice de envelhecimento, que atingiu os 192,4 idosos por cada 100 jovens em Portugal, tornando-o o segundo país mais envelhecido da UE27, apenas atrás da Itália (199,8). Apenas o Luxemburgo (95,5) e a Irlanda (81,7) apresentavam valores inferiores a 100, o que significa que, nesses países, o número de jovens ainda superava o de idosos.
Outra métrica relevante é o índice de dependência de idosos – número de pessoas com 65 ou mais anos por cada 100 indivíduos entre os 15 e os 64 anos – que passou de 15,6 em 1970 para 38,6 em 2024. Esta evolução acentua a pressão sobre a população em idade ativa, que já começa a evidenciar sinais de erosão.
O índice de renovação da população em idade ativa, que compara os potenciais recém-chegados ao mercado de trabalho (20-29 anos) com os que se encontram em vias de sair (55-64 anos), caiu de 134,9 em 1970 para 77,4 em 2024. Em 2023, Portugal registava um valor de 76,5, também inferior à média da União Europeia, situada nos 78,9. Apenas cinco países da UE apresentavam, nesse ano, valores acima dos 100, o que indica que, na maioria dos Estados-membros, a entrada de jovens trabalhadores não compensa as saídas.
O país também tem vindo a registar um crescimento contínuo da população estrangeira residente. Em 2011, este grupo representava 3,9% do total (413.011 pessoas). Em 2023, esse valor subiu para 9,8%, com 1.045.398 residentes de nacionalidade estrangeira. Esta evolução atenua parcialmente o declínio natural, mas não inverte a tendência de envelhecimento.
As projeções apontam, a médio e longo prazo, para um declínio populacional. Em 2080, estima-se que a população residente em Portugal desça para cerca de 8,2 milhões de pessoas, sinalizando que as alterações demográficas em curso poderão ter impactos significativos nas estruturas sociais, económicas e políticas do país.