Pokémon Legends: Z-A Review: Uma mega-evolução

- Publicidade -

Pokémon Legends: Z-A não é um mero spin-off da saga, é um vislumbre do seu futuro, que aproveita a oportunidade para entregar um jogo divertido, sólido e é, acima de tudo, o mais refrescante e inovador dos últimos anos.

Dos jogos Pokémon lançados para a Nintendo Switch, o meu favorito sempre foi Let’s Go Pikachu. Uma preferência algo peculiar, eu sei, mas sou um tipo simples e continuo preso ao formato mais tradicional da série e ao seu Pokédex mais contido, que sempre ressoou melhor com aquilo que me era familiar e confortável. Dos restantes jogos dessa geração, ignorei Pokémon Brilliant Diamond e Pokémon Shining Pearl, sem grande curiosidade sequer para lhes pegar. O que joguei de Pokémon Sword e Pokémon Shield bastou para me fazer perder o interesse na série, e Pokémon Legends: Arceus também pouco fez para me agarrar como eu desejava. Dei uma nova oportunidade à série com Pokémon Scarlet e Pokémon Violet, numa tentativa de reacender a chama e perceber se a fórmula ainda mantinha o seu encanto, mas senti muita resistência. As decisões de design no formato de mundo aberto e a direção técnica duvidosa transformaram esta aposta da Game Freak num verdadeiro meme sobre o estado atual da série e sobre os limites da Nintendo Switch, e nem o patch otimizado para a Nintendo Switch 2, que deixou o jogo finalmente no ponto, foi suficiente para me fazer lá voltar.

Serve este breve diário de bordo para dois propósitos. Para chegarmos a Pokémon Legends: Z-A e para poder afirmar, de consciência tranquila, que me diverti à brava com esta experiência da Game Freak, não só por questões de otimização, como pelo foco de direção e por finalmente sentir que é o culminar de todas a novidades iterativas do passado, ao mesmo tempo que arrisca com um estilo de jogo novo que pode ser adotado e melhorado em futuros jogos principais.

Pokémon Legends: Z-A surge num ano particularmente interessante para mim, que nunca fui grande fã de jogos por turnos, sendo a única grande exceção precisamente da série Pokémon. Este ano chegou-nos Clair Obscur: Expedition 33, que adota este formato por turnos com um sistema de combate mais ativo e envolvente, aliado a outras das suas qualidades, lançando-me depois numa jornada de descoberta por polos da saga Final Fantasy que ainda não tinha tocado. Foi um jogo que várias vezes me fez pensar em Pokémon – não por um dos temas remeter à icónica música da Route 1 – mas porque sentia que o sistema de Pokémon ainda podia aprender algo com o jogo da Sandfall Interactive. Queria, assim, um pouco de Clair Obscur no meu Pokémon. Uma prece que foi respondida de alguma forma, não na jogabilidade como eu pretendia, mas sim com um jogo muito, mas muito francês.

pokemon legends za review echo boomer 2
Pokémon Legends: Z-A (Game Freak)

Largando o formato de mundo aberto expansivo de Pokémon Sword e Pokémon Shield, mas também afastando-se de outras aventuras mais lineares, Pokémon Legends: Z-A é uma espécie de meio termo, concentrando a sua aventura numa cidade, agora mais contida e semi-aberta – que poderia ser um simples HUB num outro jogo -, chamada Lumiose e claramente influenciada pela capital francesa, Paris, com elementos como: uma torre central que evoca a icónica Torre Eiffel, influências arquitetónicas e culturais, expressões francesas utilizadas pelas personagens, muitas lojas com muita roupa para personalizar o nosso treinador, a existência de muitos croissants, e a possibilidade de nos aventurarmos por ruas apertadas onde se esconde alguém para andar à porrada. É definitivamente um jogo muito francês.

Mas numa nota mais séria, este pano de fundo é perfeito para ser uma ótima e divertida caixa de areia experimental, que quebra com a tendência de mundos extensos, com áreas que são por vezes muito vazias e que obrigam a deslocações aborrecidas. Lumiose é particularmente pequena em dimensão, mas com muito para explorar, conhecer e caminhos por desbloquear, com áreas que vão evoluindo e ganhando mais coisas para fazer à medida que avançamos na história – como as áreas de captura que se vão multiplicando no mapa – e até com alguma verticalidade, onde podemos explorar o topo dos edifícios para apanhar itens, capturar Pokémon e até fazer algumas lutas quando é necessário.

A sua dimensão acaba por concentrar muitas atividades próximas e mesmo quando temos que navegar de uma ponta a outra da cidade, é uma aventura de oportunidades para capturar novas criaturas, fazer algum grind e, dependendo da altura do dia, lutar contra outros treinadores. Adicionalmente Pokémon Legends: Z-A conta com uma surpreendente quantidade de missões secundárias com histórias legitimamente interessantes e com uma grande diversidade de objetivos, que nos motivam ativamente a cumpri-las. Um aspeto relativamente raro, especialmente em RPGs onde este tipo de atividades se sente por vezes como entulho, já aqui, enriquecessem a nossa jornada.

Um aspeto interessante de Pokémon Legends: Z-A é a sua abordagem a momentos de captura e de luta com outros treinadores, num modelo que me faz lembrar de Need For Speed: Heat! Sim, o jogo de corridas da Electronic Arts, onde durante o dia os jogadores faziam corridas legais e acumulavam créditos para atualizar os seus carros, enquanto que de noite participavam em corridas ilegais, onde créditos e experiência acumulavam, juntamente com o nível de procura, onde caso fossem apanhados pela polícia, perdiam tudo. Pokémon Legends: Z-A faz algo semelhante, na medida em que nos incentiva a capturar Pokémon nas Wild Areas e missões durante o dia, ao passo que durante a noite, Lumiose dá lugar a áreas de combate onde o objetivo é lutar com outros treinadores e acumular dinheiro e pontos para subir na leaderboard. É uma ideia interessante e que apesar de tudo dá a Pokémon uma estranha liberdade que ainda não tinha sido aprimorada na série, pois tirando momentos de história, só nestas áreas é que somos apanhados de surpresa para o combate por outros treinadores e apenas se não tivermos cuidado, até porque podemos evitar confrontos furtivamente até fazermos o primeiro ataque. Uma diferença clara de jogos passados, onde a interação não consentida com outros treinadores, podiam condicionar a exploração.

Esta vertente de furtividade, que já vem de Pokémon Scarlet e Pokémon Violet, é também aplicada nas capturas de Pokémon, que podem ser apanhados com Pokébolas sem se aperceberem, ou ser atacados de surpresa, iniciando os combates, que são a maior evolução mecânica deste novo jogo.

pokemon legends za review echo boomer 3
Pokémon Legends: Z-A (Game Freak)

Eu só pedia mesmo combates por turnos mais dinâmicos do que tínhamos até agora, mas a Game Freak foi mais longe, de uma forma que nenhum vídeo ou trailer me conseguiu mostrar com eficácia. Foi quase como um “experimentar para perceber”. Os turnos quase que saltaram da janela e deram entrada a um sistema de combate dinâmico e ativo, na terceira pessoa, ao controlo do treinador, que define as ações dos seus Pokémon, com se evocasse ataques mágicos. Durante as batalhas é possível mover a nossa personagem para posicionar as criaturas, fazer lock in, dar cambalhotas para um lado e para o outro para evitar levar com ataques de Pokémon selvagens enfurecidos, tudo numa cadência de ações com um sistema de ataque e cooldown semelhante ao ATB usado em Final Fantasy. Talvez o mais emocionante seja vermos os Pokémon a lutarem ativamente em campo, dando cabeçadas e murros uns nos outros e ativando os seus poderes elementais de forma muito mais animada. Tudo isto resulta num sistema de combate muito satisfatório, envolvente e divertido, por vezes até imprevisto e cómico, como por exemplo temos mais do que um Pokémon inimigo a perseguir-nos e a atacar, ou quando há objetos que se colocam na nossa frente, quando o alvo são os treinadores e não os nossos Pokémon, entre outras situações.

As “evoluções” de game design continuam com um leque enorme de mecânicas revistas que eliminam muita da fricção de jogos anteriores. Exemplos disso temos a facilidade de gerir a nossa party, a possibilidade de evoluir criaturas ao nosso ritmo, trocar os quatro ataques por Pokémon a partir de uma lista individual que vai crescendo, tal como a recuperação de Pokébolas perdidas perto dos Pokécenters, entre muitas outras coisas que me fizeram largar um “bolas, até que enfim, assim é tão melhor!

A história de Pokémon Legends: Z-A também é interessante e envolvente o quanto basta, pelo menos dentro daquilo que pretende fazer enquanto “projeto experimental”. O jogador assume o papel de um treinador cujo objetivo é subir nos ranks, começando no Z e terminando no A, numa história que espelha o conceito do Mestre Pokémon dos jogos originais – enquanto acumulava crachás em ginásios -, aqui numa vertente muito próxima de uma Tournament Arc de um anime, onde subimos de rank ao combater com treinadores específicos, depois de acumularmos um valor definido de pontos após vários combates. E para complicar esse progresso, existem mistérios para resolver, que envolvem um estranho fenómeno que deixa criaturas raivosas, com um toque de mistério ancestral.

Com um elenco de personagens de suporte bastante divertidas de conhecer e interagir, a apresentação do jogo no geral, e em particularmente na narrativa, só fica a pecar mesmo com a ausência de vozes. As personagens continuam mudas nas suas interações e cinemáticas, o que é lamentável, especialmente quando estas são extremamente bem animadas e realizadas, cheias de vida e animações expressivas, que tornam a sua visualização algo estranha, como se alguém tivesse carregado num botão de silêncio. E já os sons e rugidos das criaturas, também já podiam ser mais como nos animes.

pokemon legends za review echo boomer 4
Pokémon Legends: Z-A (Game Freak)

Apesar de todos estes elogios – e uma breve critica à falta de voice-acting –, a verdade é que Pokémon Legends: Z-A só revela as suas qualidades graças a uma fantástica otimização técnica. Em termos de gráficos e de direção artística, estamos perante um jogo bastante semelhante aos seus antecessores, com muitos elementos que poderiam ser atualizados, quiçá, com gráficos mais modernos e ambientes mais detalhados. Felizmente, a direção de arte do jogo com o seu aspeto animado é bastante sólido, coeso e sem grandes distrações vergonhosas, ao contrário de Pokémon Scarlet e Pokémon Violet, onde as paisagens pareciam saídas de jogos de há várias gerações atrás. Aqui não é o caso, a menos que estejamos à procura dessas falhas. Para além disso, o desempenho do jogo é fantástico. Na Nintendo Switch original corre perfeitamente a uns satisfatórios 30 FPS com uma resolução aceitável e à altura do melhor que se encontra nessa plataforma. Mas o destaque vai para a Nintendo Switch 2 na sua edição nativa, onde o jogo flui suavemente a 60 FPS, com uma resolução aumentada que permite uma imagem clara e sem artefactos visíveis, tanto na TV como no modo portátil. Não tenho mesmo nada de errado ou de mal a apontar neste campo.

Numa última nota, Pokémon Legends: Z-A também teve um efeito pessoal interessante, nomeadamente no que toca aquilo que sentia em relação a Pokédexes modernos. Pela primeira vez em muitos anos, a existência de novas criaturas para lá das primeiras gerações deixaram de me irritar, com o jogo a colocar-me numa posição de descoberta e aprendizagem como não sentia há muito, onde cada Pokémon que aparecia no ecrã, fosse ele ou não familiar à minha memória, dava-me vontade de apanhar, conhecer e usar imediatamente, cativando o meu desejo não só de me tornar no melhor treinador de Lumiose, mas também o maior colecionador.

É caso para dizer que Pokémon Legends: Z-A foi uma surpresa muito agradável, da qual não estava nada a espera de gostar tanto. Muitas gerações e formas depois, sinto que desta vez a série trouxe novidades e mudanças tão suficientes como necessárias para refrescar a série que nos últimos anos, mesmo com as suas conquistas, deixaram os fãs da série preocupado e menos entusiasmados. Não sei se Pokémon está realmente de volta, ou se alguma vez foi a algum lado – isto é apenas uma mera sensação -, mas sei definitivamente que Pokémon Legends: Z-A representa a direção mais interessante e promissora que podíamos pedir à série, sem olhar para o passado.

Recomendado - Echo Boomer

Cópia para análise (versão Nintendo Switch 2) cedida pela Nintendo Portugal.

David Fialho
David Fialho
Licenciado em Comunicação e Multimédia, considero-me um apaixonado por tecnologias e novas formas de entretenimento. Sou editor de tecnologia e entretenimento no Echo Boomer, com um foco especial na área dos videojogos.
- Publicidade -

Deixa uma resposta

Introduz o teu comentário!
Introduz o teu nome

Relacionados