Durante anos, os fãs de Pokémon pediram, sem saber, Pokémon Legends: Arceus. Agora que chegou, é altura de viajar no tempo e conhecer as criaturas fantásticas que habitam a região de Hisui. Ao entrar, fica a questão: terá a Game Freak conseguido criar o benchmark para todos os futuros lançamentos da série?
Há muito tempo que não pegava num jogo da franquia Pokémon e me sentia como um miúdo com um brinquedo novo. Aquela sensação de estar a pegar em algo pela primeira vez e, aos poucos, descobrir tudo o que podia fazer com o tal brinquedo novo… todos os truques. O novo Pokémon Legends: Arceus trouxe-me isso mesmo por tudo o que prometia: um mundo aberto onde, quase como num verdadeiro safari, podia explorar e capturar os pequenos (ou grandes, bem grandes) Pokémon que ali estavam, no seu ambiente natural.
Desculpem o avanço sem avisar, mas tenho que saltar para a primeira vez que encontrei um Pokémon no seu ambiente natural. Aproximei-me com cuidado, devagar, agachado, no meio das ervas. Estava com receio que me visse e me atacasse, ou pior, que fugisse. Não queria perder aquela oportunidade, o primeiro Pokémon que ia apanhar sem ajuda. “Vai Pokébola”, gritei eu mentalmente. Falhei redondamente o alvo. Mas não desisti, outra Pokébola voou a partir da minha mão e lá acertou, em cheio, na cabeça do pobre coitado que foi instantaneamente sugado para dentro da bola (que conseguimos criar através de craft ou então comprar). Saltou uma vez no chão, um fumo e estrelinhas apareceram… apanhei o meu primeiro Pokémon. Anos após ter colocado a cassete de Pokémon Red no GameBoy, a sensação foi igualmente satisfatória.
As primeiras horas de Pokémon Legends: Arceus são mais paradas. Servem exclusivamente para nos mostrar como funcionam as mecânicas que são apresentadas no jogo e, não menos importante, para nos explicar vezes sem conta o quão importante é a nossa missão: apanhar todos os Pokémon ao mesmo tempo que estudamos as criaturas que, naquela altura, ainda eram verdadeiros desconhecidos para os habitantes de Hisui. E ainda bem, porque mesmo eu, longe de ser um Mestre Pokémon, estava a ser tratado com um Deus. Tudo porque apanhei um Pokémon.
Foi por causa deste endeusamento, feito desde o primeiro instante, que me senti confiante para atirar uma mera Pokébola a um Rapidash de nível 40 que me apareceu antes de realmente abrir as portas do mundo aberto que é Hisui. Como devem imaginar correu lindamente, a bola bateu no belo cavalo em chamas e… foi isto. O Rapidash viu-me e rapidamente correu na minha direção, e claro… como não estava à espera de ser atacado, levei com ele mesmo pela cabeça, qual Pokémon a levar com a Pokébola, e caí redondo no chão. Isto para vos dizer que sim, alguns Pokémon poderão atacar-vos caso se sintam ameaçados, portanto tenham cuidado e não pensem que todos os encontros vão ser batalhas como eram anteriormente. A escolha é inteiramente vossa – podem entrar em batalha, podem ignorar ou podem simplesmente tentar capturar o Pokémon sem qualquer tipo de agressividade (ok, tirando a bola na cabeça).
Outra das coisas que ficou diferente com a chegada de Pokémon Legends: Arceus foi toda a forma como as batalhas acontecem. Para começar uma batalha com um Pokémon no seu estado selvagem, temos apenas que atirar uma Pokébola com um dos nossos companheiros lá dentro e estamos prontos para começar a lutar pela conquista de um novo Pokémon, ou apenas para o derrotar e conquistar uma das muitas tarefas que o jogo nos pede para fazer.
No entanto, a verdadeira batalha foi habituar-me às novas mecânicas. Pela primeira vez enquanto treinador de Pokémon, conseguia-me mexer enquanto lutava pela honra da minha equipa, dos meus companheiros. Já agora, lançar uma Pokébola durante uma batalha para tentar capturar o Pokémon adversário leva sempre à mesma animação. Teria sido interessante ter mais liberdade nesta fase da batalha também.
Esta movimentação faz com que tenhamos todo um novo nível de imersão dentro de jogos da franquia Pokémon. Nunca antes tinha respirado tanta liberdade enquanto caçava criaturas que, no nosso dia a dia, seriam sempre vistos como aliens. Claro que, por causa desta liberdade, também levei porrada durante batalhas, mas sou-vos sincero: estou pronto para levar porrada todos os dias se isso significar jogos com mais liberdade de movimentos em mecânicas mais aproximadas de títulos como Monster Hunter, por exemplo.
Se as novas mecânicas e narrativa que me foram apresentadas fizeram-me, instantaneamente, viajar até ao mundo de Pokémon Legends: Arceus, a verdade é que a qualidade gráfica, e até de algumas animações, fez com que a vontade de jogar Pokémon não fosse tanta quanto a esperada. Não falo apenas do mundo ligeiramente vazio ou da falta de voice acting. Falo também de output que, com uma TV de 55’’, estava roçar o vergonhoso e que, no modo handheld, estava perto de ser inaceitável.
Claro que Pokémon Legends: Arceus vai agradar aos fãs da série. É, sem dúvida alguma, o que sempre pediram. E digo mais: este Pokémon é um excelente ponto de entrada para novos jogadores e até um fantástico ponto de partida para o evoluir de Pokémon e até da oferta que a Game Freak tem para oferecer. No entanto, também digo que, se Pokémon tem estas falhas (e sim, são falhas, porque a Switch teve jogos bem mais interessantes a nível gráfico que este Legends), é porque os fãs da franquia deixaram que tal acontecesse. Todos sabemos que, seja como for, Pokémon vai vender, e tal vantagem faz com que, por vezes, quem o produz fique preguiçoso.
Por fim digo-vos: estou ansioso para saber o que é que a Game Freak pode retirar deste último lançamento, para saber o que é que podem construir a partir daqui e para saber o que é que nós, fãs de Pokémon, vamos ter no futuro. Seja o que for, é certamente risonho.
Cópia para análise cedida pela Nintendo Portugal.