Uma viagem pela comida tradicional portuguesa com um toque contemporâneo.
Quando abriu, em 2016, depressa o Palácio Chiado, edifício da Rua do Alecrim, em Lisboa, se transformou numa das sensações da cidade. Um espaço lindíssimo com diferentes conceitos gastronómicos que funcionavam de forma independente entre si. Era possível experimentar sushi, carne wagyu, petiscos, entre outras coisas. Mas isso acabou por mudar.
Em outubro de 2018, o Palácio Chiado passou a funcionar de forma diferente. Na altura, passou a existir a parte gastronómica no seu todo, isto é, um total de 180 lugares nas diferentes salas, em que, qualquer que fosse a sala escolhida pelo cliente, recebia logo uma carta com as opções dos conceitos em funcionamento – Barra, Farrobodó, Rosmarino, Seed, Cutelo, Azimuth e Confeitaria do Palácio. Assim, todos os “restaurantes” – chamemos assim – transformaram-se em apenas um, gigante, com uma carta elaborada pelo chef Manuel Bóia.
Claro, além desta mudança na parte gastronómica, o próprio local em si foi renovado. Como esteve fechado meses antes, o hall de entrada foi remodelado, tendo ficado mais acolhedor, mais requintado e com mais sofás (por sinal bastante confortáveis).
Entretanto veio a pandemia, muitos restaurantes acabaram por fechar por tempo indeterminado e o Palácio Chiado aproveitou para novas mudanças. Assim, aquele lugar cool, trendy e de paragem obrigatória para quem passa pelo centro histórico de Lisboa ficou ainda melhor.
E tem sido assim desde maio de 2021. Para quem entra no imponente hall do piso 0, o Bar SALLA dá as boas-vindas, num espaço totalmente diferente onde o clássico encontra-se com o improvável. Para quem procura um ponto de encontro com os amigos, a SALLA é o sítio perfeito onde os cocktails de assinatura introduzem alguns petiscos contemporâneos.
Pela escadaria principal, já no piso 1, entre arquitetura clássica, o vitral e majestosos frescos, temos a Sala de Baile do Restaurante. Esta é a sala nobre do Palácio Chiado, projetada, decorada e assinada pela arquiteta Inês Moura. Para quem gosta do sublime sem pretensões, o restaurante oferece uma experiência onde os cincos sentidos se reúnem à mesa, num espaço que promete criar memórias e momentos inesquecíveis.
E como o chef Manuel Bóia não consegue ficar parado, estava na altura de dar a conhecer a nova carta de primavera/verão. Até porque a chegada do calor convida a experimentar novos sabores, mais leves e frescos – embora não tenha de ser necessariamente assim.
Tal como noutros menus que já tivemos oportunidade de experimentar no Palácio Chiado, o chef Manuel Bóia teve novamente como inspiração a comida tradicional portuguesa, mas com um twist. O tal toque contemporâneo que nos permite viajar para os quatros cantos do mundo, mas sem que tenhamos de abandonar a mesa em Lisboa.
Como não visitámos o Palácio Chiado há algum tempo, fizemos um mix de escolhas, entre os pratos novos e os que já existiam na carta. Para começar, três entradas: Folhado de queijo cabra (com texturas de pêra, redução de vinho do porto, alface mesclam e nougat), Carpaccio de novilho (com pasta de ervas frescas, crumble de avelã, rúcula, nougat de frutos secos e crocante de parmesão) e o crocante e explosivo Taquito de atum spicy (com cebola roxa, tomate concassé, cebolinho e maionese com togarashi).
Dos dois primeiros, conseguirão perceber que o elemento em comum é o nougat, mas não conseguimos decidir qual o melhor, até porque estavam ambos deliciosos. O Folhado de queijo cabra veio apresentado em formato de barrinha, sem deixar que o queijo roubasse demasiado protagonismo aos outros ingredientes, ao passo que o Carpaccio de novilho estava como se queria: suave, quase a desfazer-se na boca e sem um sabor demasiado intenso – nesses casos até pode estragar o prato, algo que não aconteceu aqui. E ainda bem.
Quanto ao Taquito de atum spicy, estava efetivamente algo picante, mas nada por aí além – pelo menos para quem já tolera estes temperos. Mas antes de devorarem, uma dica: vem com lima à parte, pelo que devem deixar cair umas quantas gotas, para dar aquele toque de acidez.
Seguimos viagem para os pratos principais, e se há prato ao qual não conseguimos resistir é mesmo ao Magret de pato braseado (com puré de batata doce, espargos assados e vol-ao-vent de chutney de manga e laranja). E estava, efetivamente, incrível. Além de um empratamento ímpar, os pedaços de pato, cuidadosamente cortados em tiras finas de igual tamanho, estavam no ponto certo: nem demasiado soft, nem demasiado rijo, permitindo que os sabores pudessem fazer magia na boca. A outra escolha no prato principal recaiu num grelhado no carvão, neste caso a Vazia Angus, acompanhada com batata palito frita (sem excesso de óleo, pois claro) e um delicioso molho cremoso com trufa. Não há muito que falhar aqui, e temos de ressalvar a extrema simpatia do staff, que aconselha o cliente a optar por mal/médio/bem passado quando percebe que a escolha do “ponto” poderá não ser a mais indicada para deixar a carne em questão brilhar.
Mas há muito mais por onde escolher na nova carta primavera/verão do Palácio Chiado, sendo que tudo dependerá dos vossos gostos. Por exemplo, nas entradas, poderão começar pela leveza e originalidade do Gaspacho de milho com pipocas salgadas e azeite verde, e até pelo clássico e incontornável Presunto Pata negra 100% bolota com um novo acompanhamento de piso de tomate fresco com alho e bolo do caco tostado. Já nos pratos principais, poderão sentir-se tentados a experimentar o Atum grelhado no carvão acompanhado de cremoso de batata agria, espinafres salteados e molho chimichurri, o Cantaril em beurre – noisette com risotto de sapateira com salicornia e, até, o Bacalhau “Lisboa a Braga”, numa fusão de duas receitas tradicionais reinventadas que nos levam numa viagem do centro ao norte do país.
Para quem está a tentar virar vegan, há também deliciosas opções: Couscous com abacate, manga e pinhão acompanhado de crudités de romanesco e couve-flor como entrada e prosseguir à descoberta dos pratos principais com Texturas de legumes frescos com puré de ervilhas e demiglace de legumes ou Risotto de cogumelos selvagens, trufa de inverno e cogumelos pleurotus salteados.
Para finalizar em beleza, optámos pelo Mil folhas de caramelo salgado (com sorbet de framboesa), mas o que se destacou foi mesmo o Crème Brûlée de pistachio, com telha de pistachio crocante e pistachio triturado por cima. É tal e qual o delicioso Crème Brûlée (quando bem feito) que estão habituados a comer, mas com uma grande diferença: é feito com pistachio, até no interior. Fabuloso! Recomenda-se vivamente, mas somente se forem fãs deste alimento – até porque o sabor é bastante intenso.
Mas há outras opções, como o Parfait de framboesa com geleia de amora e chocolate negro ou a Pannacota de coco e baunilha com couli de abacaxi, crumble de chocolate e pó de hortelã. Caso prefiram, há ainda sorbets de vários sabores à disposição.
Ao almoço durante os dias da semana, há ainda o Barão, isto é, o menu executivo que tanto sucesso fez no passado e continua a fazer.
Para uma próxima visita, também poderão ficar pelo Bar SALLA, localizado no piso térreo do Palácio Chiado, onde a música é a palavra de ordem com os DJ’s residentes, todas as quintas, sextas e sábados. Também com uma nova carta, podemos destacar a Tábua “o melhor de Portugal”, com seleção de queijos nacionais e enchidos pata negra; o Camarão salteado com Sweet chilli, guacamole, mix de alfaces baby e acelgas; e o Prego do lombo de novilho em bolo do caco com batata palito frita.
É sempre um prazer regressar ao Palácio Chiado, e contamos revisitar o espaço em breve. Para reservas, podem fazê-lo através do site oficial ou ligando para o 210101184.