NOS Alive dia 1: The xx foram reis e senhores da noite

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O primeiro dia do NOS Alive, um dos festivais mais badalados de Portugal, tinha como cabeças de cartaz o canadiano The Weeknd e os britânicos The xx. Se o primeiro veio apenas confirmar o bom momento que passa atualmente com a sua pop com laivos de R&B, os segundos mostraram que cresceram, que estão mais maduros e que dão um espetáculo cada vez mais aprimorado. Reis e senhores da noite, finalmente perceberam que tinha em Jamie xx uma espécie de mestre de cerimónias das máquinas. Mas já lá vamos.

Entrámos no recinto algo tarde dado o difícil trânsito e a demora nas filas de espera para, efetivamente, entrar no festival. Aliás, vimos até Álvaro Covões, responsável do evento, bastante furioso com os seguranças pelas filas gigantes que se iam criando.

Já dentro do NOS Alive, uma considerável moldura humana fazia companhia aos ingleses alt-J, eles que vieram apresentar o mais recente álbum Relaxer. Vencedores de um Mercury Prize em 2012, os britânicos deram um espetáculo mais competente do que em 2015, quando atuaram também no palco principal, mas pareciam algo deslocados e amorfos, como se tivessem sido engolidos pela subida de divisão. Desta vez a coisa foi diferente.

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Foto: Arlindo Camacho

Começaram devagarinho e sem muito alarido com “3WW” do mais recente Relaxer, mas rapidamente recuaram aos anteriores álbuns de estúdio. Este rock-pop experimental dos rapazes de Leeds tem uma admiração considerável por cá, no entanto, são as músicas do registo de estreia An Awesome Wave que mais histeria criam em quem vê o concerto. Afinal, não há álbum como o primeiro, não é?

“Something Good”, “Tesselate”, “Dissolve Me”, “Every Other Freckle”, “Taro”, “Breezeblocks” e a tão aclamada “Matilda”, cantada a plenos pulmões, foram outros dos temas do alinhamento do concerto do trio britânico. Há algumas bandas queridas do público português e que gozam de um estatuto considerável por cá. Os alt-J são um desses casos, e, quer-nos parecer que, qualquer que seja o álbum, Portugal irá recebê-los de braços abertos.

Da pop introspetiva passámos para a eletrónica mais dançável dos franceses Phoenix, também eles com novo álbum, Ti Amo, lançado no passado mês de junho, e do qual foram apresentados no NOS Alive a faixa-título e “J-Boy”. Apesar deste mais recente Ti Amo não ser um álbum tão forte como o anterior Bankrupt!, os franceses têm uma mão cheia de músicas para abanar a anca, como “Lisztomania”, “1901” ou “If I Ever Feel Better”, com refrões sobejamente conhecidos por quem aprecia este indie-rock corridinho dos gauleses.

Foto: Arlindo Camacho

Embora não tenham sido a razão principal pela qual os festivaleiros estavam no recinto, os Phoenix deram um excelente concerto com muita intensidade e energia. Nota-se que, em palco, o vocalista Thomas Mars está como peixe na água, soltando-se livremente no decorrer do concerto. Aliás, foi mesmo ele a estrear o crowd surfing nesta edição do NOS Alive. Bom bom era um concerto em nome próprio. Fica a dica.

Fomos a correr para o palco Heineken (o que é lixado, com tanta gente a querer fazer o mesmo) e já a atuação do Sr. Ryan Adams tinha começado. E ele pode fazer o que bem lhe apetecer com os seus 16 álbuns a solo, não contando com a passagem fugaz pelos Whiskeytown. Afinal de contas, falamos de um homem que transpira rock, que vive o rock como poucos, e que vê no amor e nos respetivos desgostos a grande fonte de inspiração para as suas canções.
A plateia esteve bem composta (mas com muito espaço vazio para preencher) para ver o concerto mais rock do primeiro dia. E notou-se que quem ali estava era verdadeiro apreciador do trabalho do norte-americano.

Ryan, que publicou algumas fotos de Lisboa no seu Instagram, elogiando a beleza da capital portuguesa, veio em digressão apresentar o seu mais recente disco Prisoner, editado em fevereiro passado. E que belo disco esse.
Num concerto barulhento que se farta, o norte-americano elogiou a energia da plateia, e, entusiasmado, lá revelou que “as pessoas ainda acreditam no rock and roll”.

“Do You Still Love me?” (single do novo álbum) foi o tema escolhido para abrir o concerto, seguindo-se “To Be Young” (Is to Be Sad, Is to Be High) e “Gimme Something Good”, despertando, desde logo, emoções várias em quem via o espetáculo. Ele é country rock, ele é blues rock, ele é um romântico incurável. O Sr. Ryan sabe o que faz, e fá-lo bem pa caraças.

Criada a ligação com o público, o alinhamento do concerto passou por boa parte da carreira de álbuns do artista, até nos registos com os The Cardinals, mas deixou outros de fora. E não, o álbum de covers das músicas de Taylor Swift também não foi aqui apresentado.

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Foto: NME

Como bom rocker que é, Ryan tenta agradar à totalidade do seu público, passando dos enormes solos de guitarra para momentos de maior calma e tranquilidade.

Toda a gente sabe que, de grandes desgostos de amor, nascem os mais incríveis discos. A discografia de Ryan Adams revela-o um mestre na arte de amar e de destruir corações. Há como não adorar?

Infelizmente não ficámos para o fim do concerto, muito por culpa do concerto dos the xx, que tocariam 40 minutos após o início do concerto do norte-americano. Os horários são tramados e, à medida que o concerto dos ingleses se ia aproximando, a plateia ia abandonando o espaço sem muito estrilho. Ryan, espero que leias isto: volta, mas em nome próprio. Por favor. Deixa-me sofrer contigo e com as tuas músicas.

Palco NOS ao barrote para ver um dos cabeças de cartaz deste dia, os ingleses the xx, que vieram apresentar I See You, terceiro registo de originais, lançado este ano. E há que realçar logo uma coisa: os the xx ficaram muito diferentes, muito mais expansivos, e saíram de dentro da bolha introspetiva onde se colocaram nos dois álbuns anteriores. Um dos grandes culpados é Jamie xx, mestre da eletrónica do grupo, e que trouxe os ensinamentos do seu álbum a solo para junto de Romy e Oliver, os vocalistas da banda. O som está mais cheio, chega a mais gente e isso só pode ser bom. Aliás, ao meu lado diziam que “os The xx abriram para o Jamie xx”.

Começaram com “Intro” em formato gingão, qual mais, para gáudio dos presentes, tema esse que abre o álbum que os deu a conhecer ao mundo. O trio britânico já há algum tempo que criou uma relação de amor com os portugueses, começando logo em 2010 com um concerto de estreia na Aula Magna, em Lisboa. Nesse mesmo ano, seguiram-se uma data na Casa da Música, no Porto, e outra data no palco secundário do Optimus Alive 2010. Depois, em 2012, vieram ao Optimus Primavera Sound e, em 2013, os ingleses trouxeram a Portugal o seu próprio festival, Night + Day. E desta vez, sete anos depois de terem ido ao Alive, regressaram como cabeças de cartaz no palco principal. Incrível. E a tal relação de amor? Pois, consumou-se em casamento.

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Foto: Arlindo Camacho

Logo depois de “Intro” veio “Crystalised”, sendo seguida por “Say Something Loving”, do novo álbum. Aliás, foram tocadas sete faixas do mais recente trabalho discográfico, além de “Loud Places”, que saiu do álbum In Colour, de Jamie xx.

Ao longo do concerto, os britânicos foram tocando novos temas e regressando aos antigos, para gosto dos fãs que os acompanham desde o início. Com o novo disco a ser tocado quase na íntegra, percebeu-se que os The xx cresceram e amadureceram. O som introspetivo, algo sombrio e cru, evoluiu e deu lugar a algo mais ritmado, mais eletrónico, e não tão fechado. Aliás, só com esta crescente de popularidade se compreende a subida de divisão ao palco principal. Mas a sonoridade não se perdeu; está lá, mas transformada. A fragilidade dos dois álbuns anteriores está lá, mas a emoção cresceu como nunca antes visto no grupo.

Algo curioso é que, ao vivo, as músicas dos The xx estão um bocadinho mais aceleradas, mesmo as mais antigas. Apercebi-me disso neste concerto, mas claro, não fica nada mal.

Fazendo sempre jogos de vozes, Romy Madley Croft e Oliver David Sim, cada um do lado do palco, vão fazendo valer as suas qualidades enquanto músicos e cantores. Ela, mais liberta que nunca, a deslumbrar a solo com a fantástica “Performance”, e, depois, em “Brave for You”, ele, que nem uma serpente e o seu grandioso baixo, a mostrar o que vale na fabulosa “A Violent Noise” e a dedicar “Fiction” a um membro da banda que se encontrava no hospital.

Quanto a Jamie xx, ora nas máquinas, ora nas baquetas de percussão, é o mestre de ritmos e da eletrónica do grupo. É cada vez mais essencial no grupo e é um dos grandes responsáveis por um concerto dos The xx ser mais animado que nunca. Ou seja, o minimalismo e crueza da pop monocromática e melancólica do grupo mudou para algo mais franco e entusiasta, muito por culpa das influências do jovem produtor. “Shelter”, por exemplo, foi apresentada em versão de discoteca. E Infinity? Bem, incrível.

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Foto: Arlindo Camacho

Eles próprios estão mais faladores. Romy pediu ajuda ao público para a acompanhar em “Performance”, Oliver Sim revelou “adorar festivais, porque podemos ser quem nós quisermos e esquecer os problemas em casa”, realçou “adorar a cidade, tanto que trouxemos cá o nosso próprio festival” e Romy reforçou que “estávamos à espera deste concerto há tanto tempo. Obrigado por todo o amor que sempre nos deram”. Vejamos: este comunicar com o público era impensável há uns anos. Eles estão mais soltos, mais alegres. Nota-se outra energia.

Lá para o final, a inevitável “Angels”, um clássico instantâneo da banda, foi dedicada por Romy à sua noiva, que andava por ali. “Quero dedicar esta à minha noiva. Amo-te”.

Final da atuação e de um dos melhores concertos desta edição do NOS Alive. As juras de amor entre banda e público foram renovadas. Voltámos a apaixonar-nos.

Foto: Arlindo Camacho

Entretanto fomos em passo apressado para ver o duo inglês Royal Blood, acabados de entrar em palco, e desde logo a partir tudo, com a tenda a rebentar pelas costuras.

Com álbum novo lançado no mês passado, How Did We Get So Dark?, e com concerto agendado para 28 de outubro no Campo Pequeno, em Lisboa, este concerto do NOS Alive serviu para muitos verem a banda pela primeira vez ao vivo, enquanto que, para quem vai ao concerto de outubro, este serviu como aperitivo. E não nos cansamos de dizer isto: como é que dois tipos conseguem fazer tanto barulho?!?

Mike Kerr e Bem Thatcher chegaram que nem um estrondo ao mundo da música quando, em 2014, editaram o disco de estreia homónimo, que os levou a atuar pela primeira vez em Portugal no Coliseu de Lisboa. Não é qualquer banda que faz isto.

Do início ao fim, o duo de Brighton, Inglaterra, esteve infernal e a multidão em total exaltação. Arrancaram com “Where Are You Now”, do segundo e mais recente registo de originais, e, a partir daí, foi debitar e debitar riffs. Isto é rock puro e duro – há solos prolongados, há solos de bateria.

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Foto: Hugo Macedo

Não soam tão sujos como outras bandas, nem tão pouco têm uma atitude punk, mas os Royal Blood estão ali para destruir os ouvidos da malta: é pancada atrás de pancada, como se a banda tivesse uns quatro ou cinco elementos. Mas não, eles são apenas dois. Uau.

Escutámos “Lights Out”, “Hook”, “Line & Sinker”, “Come on Over”, “Figure it Out”, “Ten Tonne Skeleton” e, a fechar, “Out of the Black”. Nota positiva para o público. Notava-se claramente que estavam ali para apreciar a atuação e que eram conhecedores da curta carreira do duo inglês. O entusiasmo era mútuo. E isso é tão bonito de se ver.

Terminado o concerto, virámos costas e fomos ao palco NOS ver a atuação do (outro) nome mais esperado do dia: The Weeknd. Não ouvimos temas como “Starboy” ou “Party Monster”, temas do último registo de estúdio, mas desde logo percebemos uma coisa: o canadiano veio confirmar o bom momento que atravessa, mas não causou tanto impacto como seria de esperar.

O homem disse que “quando venho a Portugal, eu quero é festa!”, mas fez ele mais a festa do que, propriamente, o público. Apesar do espaço livre para ficar em melhor sítio para vislumbrar o canadiano, a verdade é que eram os fãs das filas da frente que mais vibravam com as músicas de The Weeknd. O pessoal, cansado, conseguiu aguentar-se durante mais de uma hora.

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Foto: Arlindo Camacho

Não foi uma atuação má, mas também não foi memorável. Digamos que cumpriu, apenas. Separado do resto da sua banda, The Weeknd acaba por ser como uma espécie de ídolo que comanda uma multidão de jovens. Como se fosse um dos rostos de um canal de música que já não existem. Abel Makkonen Tesfaye, nome real do canadiano, esteve há cinco anos no Primavera Sound quase como um perfeito desconhecido a atuar para algumas dezenas de pessoas num palco secundário. Aqui encabeçou o NOS Alive. Ele que começou mais R&B e que depois se virou para uma pop mais viciante e elástica para uma geração adolescente.

Não faltaram temas mais dançáveis como “In The Night”, “Rockin” ou “Secrets” e mega sucessos como “Feel My Face” e “I Feel It Coming”, encerrando a atuação com “The Hills”, já no encore, e com muito fogo à volta do palco. Portanto, um alinhamento muito ajustado nos dois últimos álbuns.

Há quem adore, há quem deteste, há quem não ligue patavina. Mas apesar de não ter sido um concerto espetacular, The Weeknd conseguiu deixar a sua marca no NOS Alive.

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