Até 2024.
Texto de: Maria João Cavadas
O último dia do NOS Alive prometia, novamente, uma miscelânea de géneros musicais, para todos os gostos e para todas as idades. Não sabemos se para vê-los ou para guardar lugar para o concerto seguinte, o concerto dos Queens of the Stone Age viu formar-se uma enorme multidão no relvado do palco principal. A banda não hesitou e abriu com “No One Knows”, tema de Songs for the Deaf, de 2002. Entre obrigadows e “let’s dance you motherfuckers”, o cabecilha Josh Homme não se privou de falar connosco com bastante constância. Visivelmente emocionado com um público que atravessava gerações, deu-nos “The Way You Used to Do” (do álbum Villains, de 2017) e “Make It Wit Chu” (de Era Vulgaris, de 2007).
A festa que se fazia ali, no entanto, terminava mais cedo do que contava um público que queria disfrutar do rock alternativo dos QOTSA, que pareciam ser quase cabeças-de-cartaz deste dia: é que foi pouco mais de 1h de espetáculo, que não foi mais curta porque a banda decidiu ignorar as regras de limite temporal, já que tinham viajado bastante para ali estar. A intensidade da banda, forte do início ao fim, a integração do público no espetáculo e a qualidade musical dos QOTSA tornaram este um dos melhores concertos desta edição, não fosse ter sido tão curto.
Dirigimo-nos ao palco Heineken para ver outro dos nomes mais aguardados da noite: Tash Sultana. Ali, um cenário simples de descrever: tenda a abarrotar – e ainda não tinha começado o concerto. Percebia-se, então, o fenómeno que é a multi-instrumentalista australiana. Durante os primeiros momentos do espetáculo, Tash tocou sozinha, como estamos habituados; não faltou muito para que a ela se juntarem outros músicos, que, em boa verdade, a deixariam voltar à sua formação a solo pouco tempo depois. Tash foi capaz de comandar o concerto e o seu público sozinha – público que se mexeu do início ao fim. O concerto terminou com “Jungle,” o tema mais aguardado da noite, que mereceu um forte aplauso e uma ovação que durou alguns minutos.
Do palco principal, ouvia-se já o a voz do cabeça-de-cartaz da noite: Sam Smith. Smith começou por revisitar o seu clássico “Stay With Me”, do seu álbum de estreia In The Lonely Hour (2014). Do mesmo álbum, pudemos ouvir “I’m Not the Only One”. Seguiram-se “Too Good at Goodbyes”, “How Do You Sleep?” e “Dancing With a Stranger”, temas que até quem não é fã do artista pôde, pelo menos, trautear. A qualidade vocal inquestionável de Smith, que foi, na verdade, aquilo que nos deixou rendidos há 10 anos, não foi, no entanto, a rainha da noite. É que este foi um espetáculo de liberdade, em que não houve restrições a nada: várias mudanças de indumentária, que foi sendo cada vez mais reduzida; pedidos para sermos quem queremos ser; solidariedade para com quem tem o coração-partido… Sam Smith foi quem quer ser e deixou-nos fazer o mesmo. Não podemos deixar de destacar a interpretação da “Latch”, que gravou com o duo britânico Disclosure em 2012 e que foi, provavelmente, o tema que impulsionou o seu sucesso: uma viagem no tempo para muitos de nós.
No mesmo palco, entravam, à hora marcada, os australianos Rüfüs Du Sol. “It’s been a long time coming”, dizia o vocalista Tyrone Lindqvist, em relação a esta ser a sua primeira vez em Portugal. Encarregue de encerrar o palco principal, o grupo não ficou aquém das expectativas. Apesar da hora já tardia, em que o cansaço de três dias de festival pesava até aos mais fortes, o trio de música eletrónica conseguiu por dezenas de pessoas a dançar (com mais ou menos energia). Ouvimos “You Were Right” e, logo de seguida, “On My Knees”, tema nomeado para vários prémios de música australianos, que viria a vencer na categoria de Most Performed Dance/ Electronic nos APRA Music Awards deste ano. Pouco depois, era com “Surrender” que tínhamos direito a chuva de confetti brancos.
Com muita dança, sorrisos e boa-disposição, Rüfüs Du Sol deram uma hora de concerto e provaram que a missão de fechar o palco principal da 15ª edição do festival não poderia ter sido mais bem entregue.
Vemo-nos em 2024!
Foto de: João Silva