NOS Alive 2018 | Pearl Jam – Maiores que a própria vida

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Quem vos escreve não tem vergonha em dizer que este foi somente o primeiro concerto que viu da banda de Seattle em palcos lusos. E não foi por falta de recomendação. Hoje em dia arrependo-me solenemente após ter presenciado o maravilhoso concerto que os Pearl Jam deram no NOS Alive. Que misto de emoções.

Um concerto dos Pearl Jam pode ter de tudo. Eles, os últimos grandes sobreviventes da cena grunge – mesmo após a morte de Kurt Cobain, Eddie Vedder e companhia souberam prevalecer – podem apresentar covers de quem quiserem, podem convidar alguém em palco, podem fazer trinta por uma linha que se serão sempre idolatrados. Apesar de já não terem aquela sagacidade dos anos áureos – a idade não perdoa -, a verdade é que estes senhores conseguem dar concertos de duas ou três horas com a energia no máximo e com uma experiência e relevância que quase não se vê nos dias de hoje.

Começando com um atraso de 15 minutos em relação à hora prevista – o que, até, viria a prejudicar outras bandas – o grupo que fez esgotar o festival a sete meses da sua realização já prometia um regresso ao nosso país desde 2010, última vez que passaram por cá. Afinal, na altura, podia ler-se que seria o último concerto por muito tempo. A promessa foi cumprida.

Já em palco, “Low Light”, de Yield, álbum de 1998, teve honras de abertura no concerto. E só por aqui já se percebe o quão difícil é adivinhar uma setlist dos concertos dos Pearl Jam, uma vez que são sempre diferentes. Sempre. Mesmo previsões de setlist, como a que fiz anteriormente aqui no site, falham redondamente.

Não era preciso, sequer, conquistar o público, uma vez que as 55 mil pessoas que ali estavam já tinham sido conquistadas aquando do anúncio da banda para o NOS Alive. Ainda assim, Eddie Vedder jogou logo um dos seus trunfos, “Better Man”, e que deu o primeiro coro nos versos do tema.

A setlist do concerto foi feita, basicamente, de temas repescados dos primeiros discos da carreira da banda, com especial incidência em Yield, e um ou outro de registos como Ten, Vs., Vitalogy e No Code. De Lightning Bolt, o último disco que data de 2013, apenas se ouviu “Mind Your Manners”, que mostra a veia mais punk da banda.

Se a felicidade era imenso por ali estarmos, o que dizer quando se ouvem os versos e acordes de “Even Flow”, “Jeremy” e “Given To Fly?” Até em “Daughter”, dedicada a um “Miguel”, a banda tem a proeza de misturar “It’s Ok”, dos Dead Moon, mas substituindo o “It’s Ok” por “Está tudo bem”, com Eddie Vedder a entoarem o verso como apenas um só. Foi bonito.

Já antes o cantor se tinha dirigido ao público – ele que tem algumas dificuldades com o português, diga-se, mas tenta – na nossa língua, e de forma bem esforçada e com os apontamentos do costume, dizendo que estavam felizes por regressar ao país e, também, ao festival onde por onde já tinham passado.

Houve uma cover de Pink Floyd que muitos não reconheceram (“Interstellar Overdrive”), houve “Unthought Known”, música com a qual apenas as gerações mais recentes se identificam, e até “Down”, lado B de “I Am Mine”, de 2002, que muitos acham ser demasiado parecida com “Para Ti Maria”, dos Xutos & Pontapés. Comparações à parte, ouve também música nova, e que já se conhecia: “Can’t Deny Me”, de um próximo álbum de estúdio, e que demonstra bem a revolta de Eddie Vedder e seus companheiros perante o atual estado do mundo, mais precisamente em relação à violência sobre as mulheres: “É altura de protegerem as vossas mulheres, filhas e amigas.”.

O vocalista, que aproveitou para relembrar o primeiro concerto que deu por cá (Cascais, 1996), relembrou, também, que não é certo a violência que as mulheres sofem no nosso país. No fundo, um homem simples que procura a paz no mundo.

Ainda com “Black” antes do encore, foi precisamente após esse pequenino intervalo que os fãs mais vibraram. E já vão perceber porquê.

Após referir que iria tocar uma canção que já tinha tocado anteriormente numa outra passagem por cá, relembrando os problemas sociais do mundo, não havia outra senão “Imagine”, de John Lennon, que continua tão atual como há 47 anos atrás.

Logo depois outra surpresa, “Comfortably Numb”, dos Pink Floyd, e nesta altura nem queríamos pensar naqueles que ficaram em casa e que são fãs da ex-banda de “Roger Wtters” e David Gilmour. Que bela cover.

Já “Porch”, logo de seguida, ao qual se adicionou os acordes de “Seven Nation Army”, dos extintos The White Stripes, com público a entoar e com o olhar estupefacto de Jack White, deixavam antever que ainda havia alguma cartada na manga.

A enormíssima “Alive” – onde o NOS Alive foi buscar o nome – antecedia aquele que, por ventura, seria o maior momento do espetáculo. Já com Jack White em palco, quem mais, ouviu-se “Rockin’ in the Free World”, de Neil Young, mas que os Pearl Jam já fazem ser sua. Dois gigantes do rock no mesmo palco, a tocar uma canção que fala sobre o colapso do comunismo.

Eddie Vedder queria mais, tanto que da setlist original faziam parte os temas “Lightning Bolt” e “Yellow Ledbetter”, mas não deu, uma vez que se seguiria outra banda. “Divirtam-se com os MGMT” ouviu-se da boca do vocalista, mas ninguém quis saber.

No final de tudo, um concerto dos Pearl Jam serve para celebrarmos a liberdade, mas, também, para nos relembrarmos dos problemas que assolam o mundo, mostrando que conseguem ser tão revelantes para quem os acompanha desde o início ou para quem é somente fã há alguns anos. Uma banda que atravessa gerações e que apela a uma vida maior do que a própria vida.

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