Um fim de semana de MotoGP com a Ducati Lenovo.
Há anos que sigo Fórmula 1. Desde a chamada “silly season”, à pausa de inverno entre cada época, os treinos, qualificações, corridas e tudo o que se passa entre cada uma destas sessões. Mas embora nomes como os de Valentino Rossi me tivessem feito ver algumas competições de MotoGP, nunca segui o desporto motorizado de duas rodas como sigo F1. Mas isso mudou, mudou no momento em que tive o prazer de ser convidado pela Lenovo para representar o Echo Boomer naquela que seria a minha primeira experiência com o MotoGP. E logo para passar o fim de semana com a Ducati Lenovo, em Jerez de la Frontera, na comunidade autónoma da Andaluzia, em Espanha, para perceber como é que a tecnologia da Lenovo ajuda a moldar cada uma das corridas da equipa que atualmente domina o mundo das duas rodas.
Antes de vos começar a falar da tecnologia que a Lenovo leva para a equipa de fábrica da Ducati, quero pegar numa frase usada por Mauro Grassilli, Diretor Desportivo da Ducati Lenovo, “quatro rodas movem o corpo, duas rodas movem a alma.” Foi assim que começou a mesa redonda com a imprensa, numa quinta-feira que, sem eu saber, marcava o início daquela que seria a melhor experiência desportiva que alguma vez tive.
O fim de semana de duas rodas contou com a presença de mais de 220.000 pessoas, com o domingo, dia de corrida, a contabilizar com mais de 100.000 pessoas no Circuito de Jerez, num ano que marca o seu 40º aniversário. Depois de tanto desporto motorizado de quatro rodas, não sabia o que esperar das duas rodas: como é que seria o público, como é que cada uma das pessoas vive a corrida e o fim de semana e, claro, qual seria o ambiente. A resposta a todas estas questões é simples: é absolutamente genial. Motas às centenas, logo na quinta-feira e com o número a crescer a cada dia, com o aproximar de domingo e da principal corrida do fim de semana. Cada um dos fãs transpirava paixão e vibrava com o passar de cada mota em qualquer uma das categorias. Um público que se mostrou mais apaixonado pelo desporto que seguem do que o que se vê, hoje em dia, nos GPs de F1.
Com o convite da Lenovo, tive a oportunidade de passar o fim de semana com aquela que é, neste momento, a melhor equipa no mundo do MotoGP, incluindo andar pelo Paddock, visitar as garagens e conversar com nomes que ajudaram a moldar o desporto para aquilo que é hoje em dia. Mas antes de vos falar da tecnologia, do trabalho que a Lenovo faz com a Ducati Corse, do ambiente de colaboração que existe entre todas as mentes envolvidas em cada fim de semana, quero-vos dizer que tive a oportunidade de passar o fim de semana perto do circuito, num espaço fantástico, onde de manhã, num fim de semana normal, iria conseguir ouvir os pássaros… a natureza. Nesse fim de semana em específico, acordei todos os dias com o som de motas a fazer volta atrás de volta no circuito, mesmo ali ao lado, e isso só ajudou a que ficasse ainda mais apaixonado pelo mundo das duas rodas. O som das motas a cada manhã era algo que me fazia abrir a janela para ouvir melhor, algo que me ajudou a perceber, desde cedo, porque é que Mauro Grassilli nos disse que “quatro rodas movem o corpo, duas rodas movem a alma“.
Colocando todo o romantismo de lado, vamos falar de uma parceria que começou em 2018, a parceria entre a Ducati Corse e a Lenovo. Uma parceria que começou, segundo Mauro Grassilli, pela necessidade da Ducati Corse encontrar um parceiro que ajudasse com a vertente tecnológica da equipa depois de alguns anos a falhar aquele que é sempre o objetivo principal: Ganhar o campeonato do mundo de MotoGP.
Com a Lenovo a entrar para o MotoGP enquanto”technical partner” da Ducati Corse, a relação entre as duas marcas mudou também. A Ducati, que conta com uma equipa de cerca de 150 pessoas, passou a contar também com o conhecimento técnico de uma marca internacional como a Lenovo. E a verdade é que as motas da marca começaram a ganhar terreno em relação à competição até chegarem onde estão hoje: a dominar o campeonato do mundo e a ser a equipa que todas as outras querem bater.
Nicolo Mancinelli, Vehicle Development Manager na Ducati Lenovo, explica que MotoGP é muito diferente de F1, não só porque, como diz, os pilotos têm uma influência muito maior nos resultados de cada corrida, mas também porque, devido aos regulamentos da competição, todos os dados das motas (seis no total para todas as equipas que correm com motas Ducati) só são acedidos no fim de cada sessão. E é entre sessões que a equipa tem que trabalhar para conseguir analisar todos os dados e fazer as mudanças necessárias para que a próxima sessão corra ainda melhor. E quem é que ajuda com os TBs de dados que saem de cada sessão, com a análise de vídeos e com os simuladores? A Lenovo. Não tendo a informação em tempo real, faz com que o processamento da mesma entre sessões tenha que ser muito mais rápido, e é aí que a Lenovo entra, ao entregar à Ducati a infraestrutura correta para que estes dados possam ser analisados o mais rapidamente possível. Não só nas garagens da equipa, mas também nos “headquarters“, onde as simulações entre sessões acontecem a cada fim de semana de MotoGP.
Porém, e mais importante que tudo isto, é um novo projeto que a Ducati começou a trabalhar com a Lenovo que poderá muito bem levar a equipa até um novo patamar, continuando a dominar o campeonato do mundo e, muito provavelmente, a aumentar a vantagem que tem para as outras equipas. Esse projeto chama-se NTB-01 e trata-se de um robô autónomo que a equipa usa para criar pistas virtuais, com um detalhe impressionante. Isto será não só importante para os circuitos que já são conhecidos, mas também para novos circuitos que são adicionados ao calendário do MotoGP.
O NBT-01 recorre à tecnologia LIDAR para fazer um scan realista de cada circuito, aumentando a fidelidade do ambiente virtual criado e dando, assim, uma enorme vantagem à equipa no que toca aos resultados que têm nos simuladores que acabam por se converter em tempo ganho em pista a cada sessão, principalmente nas que mais importam: a qualificação e a corrida. Um sistema semelhante ao usado em alguns videojogos de simulação.
Esta pequena caixa criada pela Lenovo é capaz de operar em qualquer tipo de condição, faça chuva ou faça sol, esteja frio ou calor e transmite – só do scan feito com o LIDAR -, cerca de 200GB de dados em cada um dos circuitos, fazendo com que o poder computacional que é necessário para processar toda esta informação em pouco tempo seja também importante.
Servidores, supercomputadores, uma ligação rápida e uma equipa focada, são os recursos necessários em cada fim de semana. Todos os dados de cada sessão estão disponíveis para serem analisados cerca de 5 minutos depois da mota entrar na garagem. Depois disto, há que trabalhar com os engenheiros e com os pilotos para perceber o que é que é preciso alterar para a próxima sessão. Cada piloto da Ducati tem acesso não só aos dados da sua mota, mas também aos dados das outras cinco Ducatis sem pista, o que faz com que esta análise e comparação de todos tenha que acontecer em tempo recorde, para que se consiga não só alterar algumas das configurações das motas, mas também para explicar a cada um dos pilotos o que é que podem fazer diferente para melhorar o seu tempo, algo que a equipa admite ser mais complicado. Se num carro de Fórmula 1 o corpo dos pilotos não tem tanta influência, já quando se conduz uma mota a 300 Km/h, cada movimento do piloto acaba por influenciar a forma como a mota se comporta, sendo mais fácil de errar… mas também muito mais complicado de corrigir.
Voltando ao romantismo das motas, Mauro Grassilli diz que gosta de tecnologia e percebe o porquê de ser importante, mas mais do que perceber que é importante, é perceber como usar essa tecnologia e é aí que entra, novamente, a Lenovo, que não só entregou a tecnologia necessária para a equipa conseguir ainda melhores resultados em pista, como entregou também o conhecimento de como usar a tecnologia da melhor forma possível.
Com a mudança dos regulamentos do MotoGP já em 2027, cabe agora à Ducati e à Lenovo conseguirem usar estas tecnologias para se manterem no topo do mundial e para continuarem a ser a equipa que todas as outras veem como o principal adversário. Mas o que é que poderá vir para o futuro? Quem sabe, com o desenvolvimento tecnológico a acontecer a um ritmo alucinante e com a inteligência artificial a ser cada vez mais utilizada, talvez a equipa consiga entrar uma solução para algo que por agora ainda é impossível: simular chuva num ambiente virtual, que ajude a perceber como é que as motas se vão comportar em cada um dos Grandes Prémios tendo em conta a meteorologia esperada.