Uma retrospetiva que nos mostra o passado e o presente de uma série esquecida.
Não sei quantas pessoas ficaram radiantes pelo regresso de Ninja JaJaMaru, ou Ninja Kid, como foi conhecido no ocidente, mas eu fico feliz por eles. A reedição da série (quase) completa de uma mascote esquecida, cuja a popularidade que conquistou nos 80s e 90s há muito que perdeu a sua força, é uma vitória para aqueles que defendem a preservação de videojogos. A ININ Games está mais uma vez de parabéns pelo seu trabalho contínuo no resgate de franquias sem representação atual, agora longe das suas plataformas originais e sem o público que as acarinhou décadas antes.
No caso de Ninja JaJaMaru, a ININ Games traz-nos um banquete. Entre The Great Yokai Battle, o título mais recente e um remix na fórmula arcada e clássica da série – agora mais focada na ação run-and-gun e nem tanto na utilização de plataformas e armadilhas -, temos acesso a oito videojogos protagonizados pelo ninja de vestes vermelhas. A aventura começou em 1985, com Ninja JaJaMaru-kun na NES, um jogo simples de ação horizontal onde temos de eliminar todos os inimigos em campo antes de passarmos ao próximo nível. O rapaz ninja consegue atirar shurikens, saltar para cima dos seus inimigos e destruir plataformas para garantir que os yokai ficam atordoados. Imaginem o que aconteceria se juntassem Flicky, Bomb Jack e outros clássicos dos salões de jogos numa ambiência mais oriental, com lendas e criaturas da cultura japonesa.
A série não tardou a evoluir e a sequela, Ninja JaJaMaru’s Big Adventure, também para NES, afastou-se rapidamente da suas origens modestas e apostou numa campanha mais orientada para a ação e plataformas. JaJaMaru estava agora livre dos cenários fechados, com níveis mais extensos e focados nas hordas de inimigos que temos de eliminar com shurikens enquanto colecionamos almas para obtermos a melhor pontuação. Big Adventure é um título de transição, pouco ou nada memorável quando olhamos para os próximos títulos da série, como The Great World Adventure, para o Game Boy – e aqui numa versão finalmente a cores -, que coloca o ninja numa aventura ainda mais próxima a clássicos como Mega Man e Castlevania, com o jogo a apresentar agora a possibilidade de conquistarmos as habilidades dos bosses para utilizarmos nas fases seguintes.
Depois da passagem pelo Game Boy, a série regressou à NES com Operation Milky Way, lançado em 1991. A fórmula de The Great World Adventure colou e a sua sequela indireta deu continuidade às aventuras de ação e plataformas, agora com novas personagens para jogarmos, como a Princess Sakura, modo para dois jogadores, novos poderes e níveis mais memoráveis – o ninja até viaja para o espaço desta vez. A jogabilidade também foi trabalhada, agora com controlos mais refinados e intuitivos, sem saltos que nos deixam a flutuar ou inimigos com padrões demasiado previsíveis. A evolução final, se quisermos defini-la como tal, acontece com Super Ninja-kid, a estreia na SNES, que traz cenários mais coloridos, modelos estilizados e o mesmo foco em níveis que se focam mais na movimentação e plataformas do que na ação – com destaque para o desbloqueio de armas e acessórios que permitem o acesso a zonas com itens secretos.
A série parece ter encontrado um estilo próprio ao longo da sua existência e foi o capítulo na SNES a fechar a linhagem clássica de JaJaMaru. De 1985 a 1991, a evolução foi suave e previsível, mas não o fim da série. O ninja continuou a marcar presença na indústria, mas os saltos entre lançamentos foram aumentando até desaparecer por completo. SEGA Saturn, WonderSwan, Game Boy Advance e ainda Nintendo 3DS foram algumas das plataformas onde a série conseguiu permanecer viva, ainda que em exclusivo no Japão.
Não há nada que destaque a série Ninja JaJaMaru dos seus rivais e com mecânicas que possamos identificar como inovadoras ou revolucionárias para o género. Como jogo de arcada, Ninja JaJaMaru-kun é pouco memorável ou divertido, e na sua passagem para o género de plataformas, com títulos como Super Ninja-kid ou The Great World Adventure, o ninja nunca conseguiu ir além do adorável e ocasionalmente desafiante título de ação. A franquia vive pelo seu legado e por agora estar finalmente disponível para os jogadores de todas as ideias – e isso é de louvar. A série também seguiu caminhos inesperados, como revela a coleção The Lost RPG, com dois títulos que foram traduzidos para inglês pela primeira vez. Ninja Skill Book e The Legend of the Golden Castle são dois RPG de ação que pouco marcaram o género, ambos para a NES, mas se são fãs da série, aqui está uma oportunidade para conhecer mais dois capítulos do seu legado.
Fora a coleção de títulos clássicos e o lançamento de The Great Yokai Battle nas consolas, a ININ Games traz-nos os extras do costume, como galerias repletas de imagens, a habilidade de criarmos save states, a utilização de um rewind, várias opções de display e shaders para os mais saudosista, e ainda cheats que suavizam a dificuldade dos jogos incluídos. No fundo, a coleção é sólida, mas vai depender do que procuram neste tipo de jogos. Não há nenhum título que se destaque como sendo essencial, mas há charme na coleção e não podemos desvalorizar o quão improvável era o seu relançamento até a ININ Games tentar a sua sorte. Vale pelo legado.
Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela PR Hound.