Crítica – The Deep House (MOTELX)

- Publicidade -

The Deep House serve para passar o tempo, para dar alguns saltos na cadeira, mas não fica na memória.

Sinopse: “Tina e Ben são um casal de jovens youtubers especializados em vídeos de exploração subaquática. Ao mergulhar num lago francês remoto, eles descobrem uma casa submersa em águas profundas. O que era inicialmente uma descoberta única rapidamente se transforma num pesadelo quando percebem que a casa foi palco de crimes atrozes. Presos, com as suas reservas de oxigénio a cair perigosamente, Tina e Ben percebem que o pior ainda está por vir: eles não estão sozinhos em casa.”

A história de um casal de Youtubers que se dedica a explorar ruínas abandonadas e decide ir visitar uma casa perfeitamente preservada no meio de um lago desconhecido no sul de França. Em breve, o casal dá por si a viver um pesadelo subaquático, quando a presença deles desperta uma força malévola que habita na casa. Um filme de terror subaquático sobrenatural, The Deep House é a mais recente aposta da dupla de realizadores franceses Julien Maury e Alexandre Bustillo.

E como é regra com esta dupla, é mais um filme desapontante. A aventura tem um ritmo interessante, o contexto é original e a premissa ambiciosa, mas eventualmente, apesar de todos estes elementos de aventura de terror debaixo de água, numa casa trancada, habitada por espíritos malignos, o filme é fraco. Os antagonistas são fracos, os sustos são fáceis e a estrutura é repetitiva e pouco imaginativa. Este é apenas um filme de casa assombrada por satânicos, que se não fosse passado debaixo de água, passaria ao lado.

Agora, não vou negar que o filme não me manteve preso à cadeira. Apesar de amar filmes de terror e o considerar o meu género predileto, eu sou um medricas. Assusto-me facilmente e tenho dois medos em particular aos quais não resisto: espíritos e terror debaixo de água. The Deep House tem tudo para lhe chamar de “o filme mais assustador de sempre!”. Mas quando ultrapassamos os sustos falsos recorrentes, quando nos apercebemos que a estrutura do filme é basicamente “sobe até ao sótão, desce até à cave, sobe outra vez, desce outra vez”, e quando nos é revelado que o grande segredo da casa não é mais que uma solução muito básica e óbvia deste tipo de filmes, a velha “faziam rituais, adoravam demónios, agora o espírito deles assombra-nos”, o filme desaponta por não ir mais longe.

Bustillo e Maury são dois realizadores que devem ser respeitados pela tentativa incessante de tentar fazer cinema de género adulto, com inspiração nos clássicos norte-americanos e italianos dos anos 70 e 80. Não são realizadores que deitam cá para fora filmes que servem só como exercícios de nostalgia e têm sempre um cunho visual muito único e interessante. O problema é que nunca se dão ao trabalho de melhorar os guiões com que trabalham. Desde a falta de lógica nos personagens, aos diálogos penosos e o desperdício de elementos que eles próprios estabeleceram, como filme de terror, The Deep House não é mais que medíocre.

As sequências estão muito bem filmadas, a tensão é palpável e há uma iminência de terror absoluto que promete deixar-nos marcados, mas quando chegamos àquela parte de grande revelação e os personagens começam a batalhar pelas próprias vidas, o filme assume as escolhas mais básicas e fáceis. E nada do que acontece é muito original ou interessante.

Este é um filme que, sinceramente, deixa-me muito frustrado de criticar, porque eu estava aterrorizado o tempo todo durante a primeira metade, até que comecei a ver ao longe o percurso que a narrativa ia tomar. Fora alguns momentos visuais especialmente bem captados, não há muita coisa que fique para a memória. Devo destacar, no entanto, que pela originalidade do cenário, e pela dificuldade que deve ter sido filmar este projeto, recomendo que vejam The Deep House. Podem sempre encontrar algo mais interessante do que eu encontrei, se estiverem dispostos a ignorar o guião.

Há bons elementos aqui, apesar da minha crítica não transparecer. A cena de introdução à casa é uma descida brilhante até à profundeza de um abismo saído de um conto de Lovecraft. Curiosamente, a dupla de realizadores foi buscar aos seus contos várias inspirações, desde uma localização particular, a uma maldição e horror inominável, aos, infelizmente, protagonistas condenados, e por fim, uma citação conhecida do autor, que faz parte do brasão que representa a casa da família Montegnac, os vilões do filme.

Outros momentos como a tentativa dos heróis de escaparem dos perseguidores através de uma subida por uma chaminé, ou a revelação do historial da família através de uma alucinatória sequência dentro de uma sala de projeção de cinema, estão muito bem conseguidos.

Mas o universo não tem regras bem definidas. Não queremos saber dos personagens e as situações de perigo são basicamente sustos fáceis seguidos pelos protagonistas a nadarem para outras divisões, parecendo-nos que estamos apenas a passar de uma situação de horror para a próxima, sem nada de marcante.

the deep house motelx critica echo boomer 2

Há um ou outro momento de particular horror, quando os nossos heróis descobrem uma coleção de fotos de crianças desaparecidas, ou pequenos detalhes como uma estátua de Jesus crucificado que muda de expressão. O filme é eficaz nos pequenos pormenores, mas quando o horror é assumido, perde o impacto.

Infelizmente, os antagonistas também não impressionam nem metem medo. Atribuo isto a uma limitação de produção. A visão de um casal de satanistas de meia idade a caminhar na direção dos nossos heróis lentamente, com intenção de os arrastar para as profundezas, poderia ser inquietante, se os espectros fizessem algo mais que sorrir e tentar alcançar os nossos heróis.

Penso que o filme pode ser descrito num momento que até é bem arrepiante, e onde os realizadores fazem uma homenagem aos filmes de Dário Argento. Esse momento envolve uma cortina e uma silhueta. É perturbador e promete grandes coisas, mas na revelação do que está por trás da cortina, desaponta da forma mais óbvia, não está nada. Quantas vezes viram isto acontecer?

Este é o problema de The Deep House, não há nada de interessante nestas profundezas. É estilo sem substância, terror sem narrativa.

No final, como nada do que foi estabelecido pela relação entre os heróis foi resolvido, e os personagens foram tão desinteressantes, a conclusão que o filme oferece é tão fatalista que parece-nos que realmente estivemos a ver um conto de Lovecraft representado no ecrã.

Infelizmente, um conto que só mostra os defeitos de Lovecraft: situação interessante, humanos desinteressantes. The Deep House serve para passar o tempo, para dar alguns saltos na cadeira, mas não fica na memória. Afunda-se no esquecimento.

- Publicidade -

Deixa uma resposta

Introduz o teu comentário!
Introduz o teu nome

Relacionados

The Deep House serve para passar o tempo, para dar alguns saltos na cadeira, mas não fica na memória. Sinopse: "Tina e Ben são um casal de jovens youtubers especializados em vídeos de exploração subaquática. Ao mergulhar num lago francês remoto, eles descobrem uma casa...Crítica - The Deep House (MOTELX)