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Sem meias medidas, este é um RPG clássico, dungeon crawler na sua natureza, que irá fazer as delícias dos fãs e assustar todos os restantes jogadores sem paciência.

A Humanidade? À beira da extinção. O Planeta? Devastado por uma doença misteriosa. Os Sobreviventes? Obrigados a sobreviver no subsolo, dependentes de recursos cada vez mais escassos. O que poderia ser pior? O cataclismo deu origem a uma nova raça de criaturas monstruosas que caçam todos aqueles que tentam sobreviver nas regiões subterrâneas do nosso planeta. Assim é a realidade de Metro Quester: Osaka, o novo RPG produzida pela Thousand Games, naquele que é um dos dungeon crawlers mais implacáveis, mas também cativantes atualmente disponíveis nas consolas, despindo-se dos poderosos visuais e valores de produção dos atuais JRPG para centrar-se numa experiência absoluta de sobrevivência por turnos, onde um passo em falso poderá ser letal. Tudo isto envolto num mundo que procura constantemente castigar-nos pela vossa ousadia

Metro Quester: Osaka é um verdadeiro regresso ao passado, à sopa primordial dos dungeon crawlers, onde a exploração é restrita à movimentação por grelha, cujos combates por turnos são implacáveis devido ao RNG, mas sempre com uma sensação de descoberta e vitória que tornam a experiência de explorar Osaka e restantes regiões adjacentes numa verdadeira luta por mais “uma tentativa”. Nos seus melhores momentos, Metro Quester: Osaka é absolutamente viciante, sempre deixando um caminho por descobrir ou então um combate que queremos finalmente vencer, tal como a constante pressão do tempo.

A história é parca e rege-se por acontecimentos que podem, ou não, despoletar ao longo da exploração. Existe uma certa aleatoriedade na forma como conhecemos o mundo de Metro Quester e fora a descoberta de novos membros da equipa, a narrativa rege-se pela sobrevivência e por trechos narrativos que expandem timidamente o pano de fundo desta realidade apocalíptica. Mas seja qual for a vossa abordagem às mecânicas e exploração, uma coisa é certa: nós somos Questers, aventureiros que arriscam as suas vidas para descobrir os segredos das várias masmorras, capazes de enfrentar as criaturas que as povoam, tudo em busca dos melhores recursos para garantir a subsistência da equipa a longo prazo.

Apesar da dificuldade elevada da campanha, muito dependente dos sistemas RNG do combate – tal como um clássico RPG, todos os movimentos e golpes são calculados de acordo com a nossa sorte, atributos e habilidades dos inimigos que enfrentamos –, Metro Quester: Osaka apresenta vários tutoriais que podemos ler e acompanhar ao longo da campanha, sempre à distância de um botão. A tentativa em introduzir os jogadores à campanha também se sente através da disponibilidade de várias equipas diferentes de Questers, com algumas classes a servirem o propósito de oferecerem aos jogadores uma experiência mais equilibrada. Com o processo de escolha automatizado, a campanha começa sem que tenhamos de personalizar os nossos aventureiros. As classes são escolhidas, tal como as suas habilidades e equipamentos, e basta-nos começar a explorar.

metro quester osaka echo boomer 2

O mundo de Metro Quester: Osaka é mortífero e pobre em recursos. A exploração é livre e podemos seguir qualquer caminho que queiramos, mas estamos limitados pelos recursos que temos connosco. Cada passo e ação consome energia, aqui intitulada como Purification Fuel, e se quisermos desbravar pelas florestas e fungos gigantescos para abrirmos um novo caminho, teremos de sacrificar recursos para o fazer, o que limitará a distância que poderemos percorrer até voltarmos à base. Felizmente, Metro Quester: Osaka não é punitivo no que toca à exploração e quando perdemos totalmente o nosso Purification Fuel, voltamos ao acampamento ativado – e que pode ser movido de acordo com os pontos de acampamento que encontramos pelas masmorras – sem mais punições. A exploração segue assim um ritmo, ainda assim, tenso devido ao “nevoeiro de guerra” que esconde os caminhos, recursos e monstros que se escondem pelas suas abertas e mais claustrofóbicas das regiões, sem nunca sabemos o que nos espera até darmos um passo em frente. Quando regressamos ao acampamento, temos a possibilidade de evoluir o nível das personagens, modificar os seus equipamentos e habilidades, tal como alternar entre aventureiros para criarmos uma equipa mais equilibrada ou então passada para ultrapassar um obstáculo mais específico.

No entanto, Metro Quester: Osaka não perdoa no que toca à recolha de alimentos. Se não tivermos recursos suficientes para alimentarmos a nossa equipa, a derrota está próxima e somos severamente castigados. Temos apenas 10 dias, que se regem pelos nossos regressos aos acampamentos, para encontrarmos os alimentos necessários. Se conseguirmos encontrar a comida necessária, então a campanha continua sem problemas e os excessos serão transformados em recursos que poderão ser aplicados à evolução das personagens e melhorias no armamento das mesmas. Mas existe sempre esta pressão presente que nos leva a arriscar mais e a tentar descobrir novas fontes de alimento, especialmente quando a nossa equipa aumenta e as exigências também. É um bom incentivo à exploração e é um veículo perfeito para construir a ambiência de um mundo condenado à sobrevivência, onde basta um erro, por mais pequeno que seja, para tudo desmoronar – ainda que nem sempre seja assim tão dramático devido à existência de mecânicas de acessibilidade que não atiram os jogadores automaticamente para um Game Over permanente.

A exploração é convidativa e adoro a sensação de descoberta que encontramos no seu mundo. Apesar dos visuais clássicos e minimalistas, que relembram um pouco o catálogo do PC-98 (NEC), conseguimos identificar as diferentes zonas e reconhecer padrões nos modelos que nos ajudam a compreender o que nos espera em determinados momentos. Os biomas apresentam alguns elementos únicos, não só pelos já mencionados fungos, mas também pela presença de lagos que dividem as zonas e que só podem ser travessados através da utilização de uma canoa. As criaturas também mudam de acordo com a zona e o seu desenho em campo, ainda que simplificado, retrata bem o tipo de combate que nos espera.

metro quester osaka echo boomer 1

Os combates são a única garantia enquanto exploramos e é impossível não sermos atacados pelas criaturas que deambulam por este mundo decadente. Seja na terra, cavernas, florestas ou até no mar, as criaturas atacam assim que nos detetam e é difícil evitar os confrontos devido à movimentação por grelha. Quando entramos em combate, Metro Quester: Osaka transforma-se num RPG por turnos, onde podemos escolher livremente os ataques e habilidades das nossas personagens. Todas as ações são escolhidas no início de cada turno e resta-nos observar os nossos aventureiros a lutarem pela sua vida até ao final do turno. Pode ser enervante ver uma personagem a atacar o inimigo errado ou então a falhar constantemente um ataque devido ao RNG, mas nunca senti que o jogo foi especialmente cruel: é uma experiência clássica com todas suas virtudes e defeitos, e é necessário compreender isso.

O sistema de combate é muito acessível no que toca às mecânicas e basta-nos escolher apenas as ações de cada personagem. A parte mais interessante é que não escolhemos só um ataque por turno, antes pelo contrário, podemos combinar várias habilidades e armas se tivermos tudo equipado e se existirem pontos de ação suficientes. Cada ação consome um número definido de pontos e temos de conciliar os ataques para que possamos tirar máximo partido da nossa equipa. Outra vantagem está associada às classes, como seria de esperar, e cada uma apresenta habilidades únicas que devemos saber utilizar em combate. Como a Mobile Police, que é perfeita para o combate direto, com várias habilidades igualmente defensivas e que puxam a atenção dos inimigos para si. A Professor é quase o equivalente a um feiticeiro neste universo e permite a utilização de explosivos e drones em combate, pecando no ataque físico e HP. Também temos os Stealers, rápidos e certeiros, os ladrões da equipa, que devem utilizar as sombras para evitarem golpes mortais. No fundo, é um sistema simples, clássico, sem surpresas, mas cuja dificuldade exponencia as suas mecânicas e obriga a alguma otimização para que possamos sobreviver em combate contra grupos de inimigos.

Não existem grandes segredos em Metro Quester: Osaka. Os sistemas que apresenta são familiares e roçam constantemente o classicismo do género devido à aposta em combates por turnos e na exploração de masmorras. Cada passo é arriscado e sempre que perdemos, somos roubados em metade dos nossos recursos. Para um jogo que depende tanto dos mantimentos da nossa equipa, é um castigo cruel, mas nunca injusto. Esta é a experiência que a Thousand Games ambicionou, sem grandes ajudas e direções, apenas o jogador, os sistemas e mecânicas num mundo constantemente contra tudo e todos. É uma questão de gosto e Metro Quester: Osaka manteve-se investido na sua crueldade durante horas.

Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela KEMCO.

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