Mão Morta no Festival Back to Back – No Fim Estávamos Quentes

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Papinho cheio de ter visto quem nunca desilude. Para o ano é favor repetir.

Dia cheio na agenda de concertos em Lisboa. O Super Bock em Stock anda a polinizar os espaços que bordejam a Avenida da Liberdade e há uma bonita homenagem no Titanic Sur Mer ao grande Phil Mendrix, cujo aniversário seria no passado dia 10. Mas a destacar um concerto, pela banda e pelo espaço, teria que ser o de Mão Morta, que atuaram no relocalizado Lisboa ao Vivo, no âmbito do festival Back to Back.

Festival que é ideia feliz, ao reunir em dias consecutivos, e em salas carismáticas de Lisboa e Porto (neste último caso no Hard Club), nomes importantes do som mais pesado feito em Portugal. Para esta primeira edição, e contamos que não fique por aqui, o arranque coube aos The Quartet of Woah!, grupo de Lisboa mas que canta em inglês e toca um stoner rock bem perto do osso, seguidos dos também alfacinhas Process of Guilt, ligados a um som industrial, mas igualmente de grande intensidade.

Já os Bizarra Locomotiva têm um nome que impõe respeito e admiração nas últimas quase três décadas, com uma capacidade de atuação ao vivo fortíssima. Foi assim pena não termos conseguido ouvir diretamente do produtor ao consumidor o fresquinho EP Fenótipvs, mas conta-se que continuam a não vacilar.

São 22h45 e chegam então os Mão Morta, numa Lisboa ao Vivo muito bem composto. É a primeira vez que entramos por esta reentrância da Marechal Gomes da Costa e, se a entrada é mais escondida do que nos tempos à Beira Tejo (esta malta pensa bem e colocou um sinal luminoso na avenida a fazer de padrão), a estrutura interior, aquela caixa negra em que tantos nomes de qualidade já atuaram, continua exactamente com o mesmo perfil, com um palco que até arriscamos dizer parecer um pouco maior. Em termos de concertos em pé, e para utilizar linguagem Jorge-Jesusiana, é outro patamar. As condições estão todas reunidas, então.

No Fim era o Frio é a última longa gravação dos míticos bracarenses, e naturalmente ocupa destaque num contexto de público que se espera mais sabedor e não apenas à procura “daquelas” (“Budapeste”, “Oub’Lá” e “Novelos da Paixão” ficam para outro dia). O início épico de “Passo o Dia a Olhar o Sol” resulta especialmente bem antes da conversa ao microfone que o mestre Adolfo Luxúria Canibal nos faz. Antes, a imagética incrível dos desesperados descrita em “Pássaros a Esvoaçar” é o primeiro grande momento do concerto. Segure-se a hipnose da “Hipótese do Suicídio” e, em especial, uma grande interpretação de “Tu Disseste”. É tão raro ver uma figura tão dominadora como Adolfo Luxúria Canibal não abafar os companheiros, mas os instrumentais que sabiamente rodam no destaque em cena conseguem sempre acompanhar. Mão Morta estatisticamente é como uma gillette, já dá o nome à categoria onde está. Os outros adjetivos não chegam.

Regresso ao clássico álbum Há Já Muito Tempo que Nesta Latrina o Ar Se Tornou Irrespirável para o grande e mais espevitado no tom “Em Directo (Para a Televisão)”, nunca tão aplicável à realidade como nos dias de hoje, antes das viagens a “Barcelona” e a “Lisboa”. A guitarra de “Barcelona”, essa então soa absolutamente em casa perante os morcegos que se agitam a ouvi-la, numa comunhão atenta. Conversas e idas ao bolso para buscar o telemóvel são poucas e cá atrás mais perto dos bares. Está certo. 

Em show que, por ser em festival, é mais sequinho (e amanhã há mais para fazer, felizmente já mais perto do descanso do lar no Minho), a paranóia revolucionária do “Anarquista Duval” faz aparição, antes da pausa para as baladas do encore: “Sinto Tanto Frio” e, no fim, “Bófia”. Fim. Papinho cheio de ter visto quem nunca desilude. Para o ano é favor repetir.

Fotos de: Emanuel Canoilas

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2 Comentários

  1. Olá António. No início também achei abafado, aí pelos 15 minutos fiquei com a ideia de ter melhorado bastante, pelo menos onde eu estava (junto à regie).

  2. Bom texto. Penso que penso, no entanto, que o som esteve mau. Percebia-se mal a voz, o baixo, as guitarras – no global, abafado. Mas foi maravilhoso estar novamente a beber energia ao vivo, algo que não bebia desde Março de 2020 quando, no outro LAV, presenciei The Mission e a seguir fechou-se tudo.

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