São muitas e boas as razões para visitar o Lost In, numa das zonas mais castiças do percurso lisboeta, ao Príncipe Real, quase a dar para a rua da Rosa, onde o espetro do passado e a vida moderna e cosmopolita se fundem em momentos bem aprazíveis.
É uma tarde bastante gelada e chuvosa de inverno. À chegada, somos recebidos prontamente por um manager que, com amabilidade, se prontifica a receber os nossos casacos encharcados e frios. O estacionamento não fica longe, mas… a intempérie não perdoa. Estas sensações desagradáveis são desde logo dissipadas por uma atmosfera quente e acolhedora no interior do restaurante amplo, onde há luzes acesas envolvendo grossas hastes de bambu e assentos coloridos distribuídos por uma sala de decoração étnica.
O que nos salta à vista, de imediato, é a grande panorâmica sobre a Baixa de Lisboa e o Castelo de S. Jorge. Com vidraças invisíveis a dar sobre todo o vale e encostas pelas quais brotou a velha cidade de Camões, o Lost In tem, de facto, uma aura especial e, também, uma locação privilegiada, como poucas, o que, por si só, tornaria apetecível esta visita…
Mas claro que não se trata apenas disso. O Lost In inaugurou recentemente uma muito interessante carta, um menu bem apelativo de cores e sabores que nos desafiam e onde há muito para experimentar, prometendo uma degustação ao nível dos melhores.
Para começar, o couvert é constituído por uma seleção de pães da famosa Gleba, além do papadum (pão indiano quase tão fino como uma óstia, mas com todo o sabor das especiarias da Índia), acompanhados com tapenade (uma espécie de paté francês feito de uma mistura de azeitona com alcaparra e anchova) e manteiga aromatizada.
Para conferir a promissora carta do Lost In, começámos por experimentar, entre as várias entradas, uma à qual quase nunca conseguimos fugir, como bons apreciadores de marisco: as deliciosas Gambas Alhinho. E são de facto de comer e chorar por mais! Levam manteiga, alho, malagueta e – para maior desvelo ainda! – pão torrado a acompanhar o molho.
Outro acepipe – agora já olhando para a parte mais mais exótica do menu – foi o Panipuri de Atum. Estes são croquetes de tártaro de atum, que levam kimchi (a tradicional mistura de hortaliças tailandesa bem condimentada), gema BT (cozida a ‘baixa temperatura’) e cebolinho – tudo em esferas de um polme frito bem estaladiço decorado com glacê de legumes e cebolinho.
Existem mais entradas no Lost In, claro. São elas as Chamuças Vegetarianas, o Ceviche de Corvina, o Picapau, o engraçado Croquete Surf & Turf (como o nome indica, trata-se de uma conjugação surpreendente de peixe e carne); há, ainda, o Frango Karaage e o Won Ton de Corvina e Camarão, em que estes ingredientes aparecem envolvidos em folhas muito finas de massa de farinha de trigo e ovos, típica de Cantão, sudeste da China.
O menu dispõe também de Saladas e Sanduíches, opções ideais para quem procura refeições mais leves.
Quanto aos pratos principais do Lost In, a tradição e a inovação voltam a puxar a brasa à sardinha, neste caso… ao Tornedó de Novilho (180 gramas), que aconselhamos vivamente. O lombo de novilho é servido com molho glacé, alface cogolho grelhada e batata frita. A carne veio média,a pedido, e é absolutamente tenra, divinal, de se desfazer na boca.
Como não podia deixar de ser, também experimentámos um prato mais exótico: foi o Frango Massala, constituído por coxa de frango desossada, arroz basmati, coentros e amêndoa. Uma opção onde predomina o sabor do caril, talvez em demasia, ainda que a proteína seja servida em boa quantidade.
Mas existem outras alternativas, e certamente deliciosas. Entre os pratos elaborados com base em variantes mais tradicionais, temos o intemporal Bacalhau à Brás, um Arroz de Forno de Borrego e a sempre cobiçável Bochecha de Novilho.
Mas se quiserem experimentar coisas novas ou paladares mais acentuados, também há muito por onde escolher no Lost In. É o caso do Lombo de Corvina e Dashi, o Tataki de Atum, o Caril de Camarão, o Nasi Goreng vegetariano ou, ainda, o Caril Vegetariano.
E uma vez no Lost In, há que guardar espaço para as sobremesas, pois são verdadeiras delícias. Saboreámos um belo Pudim de Leite Condensado, doce veludo, que contém telha de lima e cardamomo. O cardamomo facilita a digestão e a telha de lima, em forma de uma bolacha fina estaladiça é um apontamento criativo que torna esta sobremesa ainda mais apetitosa. E ainda provámos o Mil Folhas de Maçã, que contém compota caseira de maçãs Fuji e Granny Smith; entre as capas de massa folhada bem polvilhadas de canela, distribuem-se beijinhos de creme pasteleiro. O gelado de baunilha faz par com esta doçura toda. Outras sobremesas são a Mousse de Chocolate e o Parfait de Iogurte.
Quanto às bebidas, estas são outro ponto forte do menu deste Lost In. Pode-se ir pelo cocktail – Caipirinha, Mojito, Daikiri, entre outros – ou pelos mocktails.
Optámos por uma Limonada de morango, lima e gengibre, que se revelou uma excelente opção, leve e saborosa, com um travo autêntico. Em relação aos vinhos, bebeu-se a copo, e vinho do bom. Foi a vez do Vinha dos Pardais, de Setúbal. Obviamente existem outras opções, de notável qualidade, desde os vinhos alentejanos, passando pelos durienses e algarvios, numa seleção de boas castas.
Saímos satisfeitos, não só com a magnífica refeição, como com o atendimento.
A razão de ser do nome, Lost In? Não perguntámos, mas como gostamos de conhecer os espaços, explorámos de facto o interior deste restaurante, marcado por recessos e escadinhas, paredes de cor forte e escura nos seus meandros onde uma atmosfera espectral faz lembrar as tavernas do tempo de Camões e dos fidalgotes de pequenas e grandes facécias.
Isto tudo, numa Lisboa hodierna e bem diferente da de outros tempos, no pior e no melhor, mas ainda e sempre ligada aos recessos da memória. Como se costuma dizer, uma cidade que agora é do mundo.
Localizado na Rua Dom Pedro V, nº56 D, o Lost In abre portas de segunda a quarta, das 16h às 00h, e de quinta a domingo, das 12:30h às 00h. Para reservas, basta ligar para o 917759282, enviar um email ou diretamente pelo site oficial.