Guilherme Duarte mostra que estar no Limbo pode ser divertido

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Com muito humor negro, o humorista leva o público a atravessar vários níveis até chegar ao Inferno, num dos melhores espetáculos de stand up comedy em Portugal dos últimos tempos.

Cinema, rap e comédia tudo no mesmo espetáculo? É possível, graças a Guilherme Duarte e à sua nova digressão: Limbo. O Echo Boomer esteve na sessão de Alcanena, e, desde já, pedimos desculpa pela análise que estão prestes a ler, caso sejam leitores sensíveis a humor negro, e, acima de tudo, pelos spoilers que tem. Mas acreditem: não há maneira de analisar este incrível espetáculo de stand up comedy sem revelar alguns momentos. Dito isto, considerem-se avisados.

O Cine-teatro São Pedro ficou meio composto para ver Guilherme Duarte, um pouco longe de estar cheio, até. Ao longo dos dias anteriores, o humorista muito apelou nas redes sociais para que as pessoas da cidade e arredores optassem por passar com ele, salvo seja, uma noite gelada que quase impedia de bater palmas, e foi isso que fizemos.

Ao contrário do que tem acontecido em digressões de stand up comedy de outros humoristas, Guilherme Duarte marcou pela diferença logo no início do espetáculo, que começou de forma inusitada, mas bastante surpreendente. De repente apagam-se as luzes e um vídeo começa a passar no fundo do palco. Tratava-se de uma curta-metragem protagonizada pelo comediante, pelo agente Nuno Pires e pela comediante Joana Gama. O enredo era simples: as consequências do estilo de humor, para alguns um pouco negro e agressivo, característico de Guilherme Duarte. Ele morreu. Não literalmente, ou não estaríamos a escrever esta análise, mas é importante perceber que a “morte” do artista na curta é a introdução do texto que viria a seguir.

Guilherme Duarte entregou uma das melhores prestações em stand up comedy que nós já vimos em Portugal. O humor negro esteve presente em praticamente 100% do texto, durante cerca de uma hora e quinze minutos, por isso o alerta no início deste artigo: não é um espetáculo aconselhado a pessoas sensíveis. Ou é, se quiserem mudar mentalidades e rirem-se com aquilo que não achavam possível. O término da relação de mais de 10 anos, tornar-se ou não gay, violência doméstica ou o “politicamente correto” são temas que Guilherme Duarte aborda com um cariz cómico como há muito não víamos. A frase “Vamos descer mais um nível no inferno!” foi dita pelo comediante para assinalar a mudança de bit. E não eram apenas os bits que mudavam, as luzes também, a cada pedaço novo de texto. Um jogo de luzes surpreendente criou um ambiente cada vez mais intimista, mas ao mesmo tempo muito dark, tal e qual os temas que eram abordados. A interação com o público foi escassa, mas acreditamos que aumentar a dose só iria reduzir a qualidade do espetáculo.

O fim foi tão ou mais surpreendente como o início. O que começou com uma curta-metragem acabou com uma atuação musical. Guilherme canalizou o seu inner Gandim e proporcionou aos fãs – e a quem não era fã, mas que aposto que ficou depois de sair do teatro – um momento de rap. Um diálogo entre ele próprio e Deus e Lúcifer, o diabo em pessoa. Mais uma vez, o jogo de luzes foi incrível – a equipa técnica está de parabéns – e desta vez teve o propósito de ajudar a identificar em que plano estava o público, se no Céu, se na Terra, se no Inferno.

Resumidamente, foi um espetáculo de levar aos céus qualquer fã de stand up comedy, ao mesmo tempo que fazia com que ligassem para o inferno a reservar um quarto. Sabemos que nos vamos repetir, mas acreditem que cinema, texto, luzes, interação com o público q.b., e assuntos que merecem ser falados da forma mais cómica possível, fizeram deste um dos melhores, senão o melhor, espetáculo de stand up comedy a que assistimos nos últimos tempos.

A tour continua por Rio Maior (4 de fevereiro), Estarreja (10 de fevereiro), Porto de Mós (11 de fevereiro), Braga (17 de fevereiro), Tomar (18 de fevereiro), Maia (25 de fevereiro), Vila Real (2 de março), Espinho (3 de março), Covilhã (9 de março), Lourinhã (10 de março), São Miguel (25 de março), Póvoa de Varzim (15 de abril), Albufeira (22 de abril), Guimarães (29 de abril), Porto (30 de abril), Cartaxo (6 de maio), Setúbal (15 de maio) e Lisboa (2 de junho).

E se não puderem estar presente em qualquer uma destas datas, podem acompanhar a série Preliminares, no canal de YouTube do humorista.

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