Tecnicamente, Greyhound é ótimo, mas a história e desenvolvimento de personagens deixam francamente a desejar.
Inspirado em fatos reais da Batalha do Atlântico durante a Segunda Guerra Mundial, Greyhound encontra Tom Hanks na pele de George Krause, um oficial de carreira na sua primeira viagem como capitão de um destroyer e líder de um comboio de navios aliados que transporta milhares de soldados na perigosa travessia entre os EUA e a Europa. Sem cobertura aérea durante cinco dias, o capitão e o seu comboio são obrigados a enfrentar sozinhos as matilhas de submarinos nazis que os rodeiam.
Adoro filmes de guerra, especialmente quando são capazes de retratar a ação de uma maneira tão imersiva que os espetadores realmente sentem que estão presentes na mesma. Na minha opinião, é o género que mais requer uma qualidade de produção tecnicamente excecional. Os efeitos visuais precisam de ser absolutamente perfeitos. A cinematografia deve capturar a intensidade do campo de batalha. A produção sonora tem que ser incrivelmente poderosa. E claro, um filme de guerra necessita da banda sonora mais épica e arrepiante possível para que o público consiga realmente sentir a atmosfera inacreditável que este género possui. Greyhound tem um dos melhores atores de todos os tempos como o seu protagonista, mas será que verifica os pontos mencionados acima?
Sim e não. Tecnicamente, este filme mal tem quaisquer problemas. Os efeitos especiais são deslumbrantes, sem dúvida. Shelly Jackson, diretor de fotografia, tem uma das tarefas mais desafiadoras que um cineasta pode enfrentar: filmar num ambiente aquático. Shelly lida com este problema surpreendentemente bem, permitindo aos espetadores compreenderem tudo o que está a acontecer durante todo o tempo de execução. A banda sonora (Blake Neely) é emocionalmente poderosa, mas acredito que podia ter elevado muito mais sequências de ação do que as que conseguiu. A edição (Mark Czyzewski, Sidney Wolinsky) também é excelente.
Então, o que falhou? Bom, sempre defenderei que os dois pilares de qualquer filme são a sua história e personagens. Sem um destes dois, poucos filmes sobrevivem. Sem os dois, nenhum filme consegue. Tenho que usar Dunkirk como exemplo. Christopher Nolan usou toda a campanha de marketing referindo que o seu filme tinha como objetivo a representação de uma guerra “a sério”… sobre como era realmente estar presente num (ou, no caso do filme, vários) campos de batalha. Portanto, Dunkirk praticamente não possui qualquer tipo de desenvolvimento de personagens… porque não só nunca teve essa intenção, como não precisa dela para cumprir com a sua missão.
No entanto, a sua narrativa segue um método distinto que permite imensos momentos entusiasmantes pelo ar, terra e mar. As sequências de ação são tão fortes e incrivelmente realistas que considero a experiência de guerra mais imersiva que já assisti. Assim, a falta de personagens convincentes não me incomodou, pois estava no cinema para tentar sentir como é estar numa guerra. Greyhound também não tem uma única personagem que seja desenvolvida ou explorada. Todos têm nomes e é isso. Tom Hanks é obviamente impressionante no seu papel de ator…
Mas as suas qualidades como argumentista necessitam de imensas melhorias. Tal como insinuo acima, não existe problema algum em ter personagens sem profundidade, desde que a história e, neste caso, a ação, funcionem. Nenhum funciona. Não minto quando escrevo que 90% do argumento é Hanks a gritar “vira à direita”, “esquerda a todo o gás”, “mais devagar” e centenas de outras ordens de direção em linguagem náutica. A ação não tem brilho. Basicamente, o filme inteiro é um ciclo repetitivo e cansativo de um submarino a aparecer no radar, Hanks a olhar através de várias janelas dando ordens náuticas à sua tripulação e consequentes tentativas em eliminar os navios do inimigo.
Consigo sentir o suspense e a tensão que o destroyer de Hanks emana. Adoro o primeiro encontro e perseguição ao primeiro submarino, é uma sequência excecionalmente filmada e verdadeiramente fascinante. Mas a partir deste momento, o filme é simplesmente esta mesma sequência presa em modo de repetição até que não existam mais barcos.
Assim, apesar do ambiente de ação ser visualmente maravilhoso, estas cenas rapidamente perdem impacto. Aaron Schneider devia ter encontrado uma maneira de elevar o argumento de Hanks, mas infelizmente, não conseguiu fazer muito. No final, fico com uma personagem cujo nome mal me lembro (honestamente, precisei de dois minutos completos para recordar o nome do protagonista após o fim do filme). Mas não posso mentir: caso tivesse a oportunidade de ter visto Greyhound no cinema (especialmente em IMAX), a minha opinião provavelmente seria mais positiva.
Resumindo, Greyhound podia facilmente ser um Dunkirk de menor escala. Tecnicamente, tem tudo o que precisa para ser um filme de guerra brilhante: efeitos visuais fantásticos, produção sonora poderosa, cinematografia sublime e uma banda sonora épica. Ignorar um dos dois pilares do cinema (história e personagens) é apenas um problema se o outro também não funcionar. A falta de qualquer desenvolvimento de personagem pode ser perfeitamente compensada num filme de guerra, desde que o método de contar a história permita uma experiência única repleta de ação realista e imersiva.
No entanto, o filme de Aaron Schneider não possui uma história cativante e os momentos de ação estão presos num ciclo maçante de caça aos submarinos exatamente da mesma maneira durante todo o filme. A primeira sequência está carregada de tensão e suspense, mas a partir deste momento, o nível de entretenimento cai drasticamente. Tom Hanks é fantástico enquanto protagonista, mas o seu argumento está longe de ser considerado como tal. Todos os diálogos baseiam-se em personagens (principalmente a de Hanks) a gritar instruções náuticas durante a maior parte do tempo de execução e a olhar através de uma janela ou de uns binóculos. No final, acaba por ser underwhelming e desapontante, mas recomendo aos aficionados do género de guerra.
Greyhound pode ser visto no Apple TV+ a partir de dia 10 de julho.