Um simpático jogo de plataformas que peca ao apostar numa longevidade que revela progressivamente os seus maiores defeitos.
Há algo de poético na forma como os produtores e estúdios independentes continuam a injetar vida em géneros que pareciam estar destinados ao esquecimento. Basta olhar para o terror de sobrevivência, para os jogos de plataformas, nomeadamente dos Collectathon, ou até títulos de gestão para compreendermos como a indústria dos videojogos seria muito mais pobre se os fãs destes géneros não ambicionassem recriar as experiências que os marcaram quando eram apenas adolescentes. Podemos até argumentar que são uma influência constante para os grandes estúdios, comprovando que existe vida em séries há muito estagnadas, e uma verdadeira mudança na própria comunidade.
Frogun é mais um dos inúmeros videojogos que nunca existiriam sem os produtores independentes. Não só o seu estilo visual é um reflexo das inspirações de Raúl Martínez Garrido, apostando numa estética próxima aos videojogos da PlayStation original e da Nintendo 64, como a própria jogabilidade segue os moldes de experiências muito específicas, longe dos mundos extensos, das animações detalhadas ou até das campanhas repletas de conteúdos. Em Frogun, é a simplicidade que reina, onde até a história de Renata, uma exploradora em busca dos seus pais, move-se sobre a mesma fórmula que alimentou Crash Bandicoot e Chameleon Twist há mais de duas décadas, com vários níveis, zonas e bosses a alimentarem uma narrativa que se constrói por diálogos esporádicos e cinemáticas muito pontuais.
Basta olharmos para Frogun para compreendermos as influências de Garrido e é o suficiente para percebermos também como tudo irá funcionar. Parece que voltámos atrás no tempo, à era dos níveis curtos, mas desafiantes, onde as mecânicas não apostam numa evolução de funcionalidades, mas numa escalada eficaz de obstáculos que mudam por completo a nossa perceção. No papel, Frogun até é bastante simples, ainda que o esquema de controlos seja inicialmente confuso, com a jogabilidade a focar-se na titular arma em forma de sapo que nos permite puxar e atirar Renata ou qualquer outro objeto pelos cenários. Com a língua da arma, conseguimos navegar entre plataformas, agarrar inimigos, ativar manivelas ou até evitar espinhos e poços sem fundo, onde a nossa destreza com a arma é tão importante como qualquer outro salto em jogo.
A jogabilidade foca-se totalmente nesta habilidade de agarrar qualquer superfície nos níveis, com Frogun a permitir que atiremos ou puxemos Renata sempre que precisarmos. É aqui que o esquema de controlos pode ser um pouco mais confuso, agravado pela jogabilidade nem sempre limada – especialmente no que toca à mira da arma, ao ponto de precisarmos de apontar calmamente em alguns momentos, caso contrário iremos cair e perder –, onde a ação de agarrar e impulsionar podem criar algum atrito na forma como jogamos, pois, existem alguns objetos e inimigos que não permitem que Renata avance para eles. É um pormenor, se calhar até um problema mais pessoal, mas devido à perspetiva quase isométrica de Frogun – mas não se assustem, a câmara é maleável e não uma imitação de Captain Toad: Treasure Tracker -, nem sempre conseguimos ver tudo o que está à nossa volta e basta escolhermos a opção errada para perdermos progresso.
Mesmo com os seus problemas, Renata é muito fácil de controlar e esta acessibilidade nasce pelo número limitado de mecânicas disponíveis em jogo. Não temos de nos preocupar com novas pistolas, habilidades ou mecânicas que procuram injetar desafio onde ele não é necessário. O que Frogun faz, e fá-lo bem, é que aposta no level design e na introdução de obstáculos e inimigos ao longo das zonas temáticas. Se começamos a campanha com níveis maioritariamente curtos e mais controlados, nomeadamente na forma como utilizamos a arma e evitamos precipícios, não demoramos muito a encontrar inimigos voadores, que nos obrigam a controlar melhor o espaço, plataformas móveis, molas, rampas e temporizadores que nos obrigam a dominar o leque limitado de habilidades o mais rapidamente possível. Frogun consegue ser enervante, especialmente se tentarem concluir os níveis a 100% com todos os colecionáveis, mas também é justo, até mesmo quando precisava de alguns retoques na jogabilidade e no equilíbrio de certos níveis.
No fundo, Frogun é uma viagem ao passado competente e que jorra carinho. Para um projeto criado por apenas uma pessoa, será sempre um triunfo, até mesmo nos seus piores momentos, onde nem tudo encaixa no lugar certo. No que toca a conteúdos, têm muito para descobrir, desde as medalhas em cada nível – para tempo, moedas, relatórios, caveiras e gemas colecionadas, mas também para quando terminam sem perderem uma única vida -, até às melhorias dos pontos de vida de Renata, a possibilidade de adquirirem chapéus e até um modo competitivo para dois jogadores e o Photo Mode. É um projeto pessoal que merece a atenção dos fãs do género, ainda que peque pela sua duração demasiado excessiva para a falta de novidade ao longo da campanha. Isso e levará à destruição de alguns comandos e teclados!
Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Honest PR.