O Grande Prémio do Bahrain teve Lewis Hamilton como vencedor, mas nem foi por isso que pode ficar conhecido com um dos mais quentes da temporada de 2020 de Fórmula 1. O impressionante acidente que deixou o carro de Romain Grosjean em chamas relembra a importância do Halo e de todas as medidas de segurança na prova rainha do desporto automóvel.
Texto por: André Santos
Depois de uma semana de paragem, a Fórmula 1 está de volta para as últimas três corridas da temporada de 2020, numa altura em que alguns pilotos ainda nem sequer têm lugar garantido para a próxima época, a iniciar-se em março de 2021. Um dos pilotos sem lugar para 2021 pode muito bem ter terminado a sua carreira na F1 na primeira volta do Grande Prémio do Bahrain, a corrida que teve lugar durante a tarde do último domingo de novembro.
Falo de Romain Grosjean. A corrida do piloto da Haas durou pouco mais de três curvas e acabou, literalmente, em chamas. Depois de alguns toques ligeiros nas primeiras curvas e, à primeira vista, sem razão aparente, o piloto francês desviou de forma abrupta, e ainda em aceleração, o seu carro para a direita (ok, talvez o tenha feito para evitar algum pedaço de outro carro) o que fez com que acabasse por tocar em Daniil Kvyat antes de sair disparado contra o rail de proteção e acabar com o carro em chamas e dividido em dois. No entanto, mais impressionante do que o acidente, foi o facto de Grosjean ter saído do cockpit, que se encontrava quase fundido com o tal rail, pelo próprio pé, com o que parece ser a possibilidade de ossos partidos na mão, costelas partidas e algumas queimaduras leves.
Ao ver o acidente em direto, a reação foi de choque, saltar do sofá, soltar uns impropérios e ficar, de queixo caído, a olhar para a TV. Coração a mil, mesmo sem conhecer pessoalmente nenhum dos intervenientes, e esperar que algo se soubesse. Talvez com a temporada passada ainda bem presente na memória as imagens do acidente demoraram a aparecer, imagens essas que mostravam o que mais queríamos ver: o piloto a sair, pelo seu próprio pé, de um daqueles acidentes que fazem com que qualquer um de nós pense logo no pior.
O pior não aconteceu. Um carro bateu contra uma proteção de metal enquanto seguia a uma velocidade entre os 200 e os 300 km/h e o pior não aconteceu. Não aconteceu porque o carro está desenhado para que não aconteça… ou para que o pior raramente aconteça. Não foram só as camadas de roupa anti-fogo e o capacete que salvaram Romain. Foi, também, a forma como o monolugar está desenhado. Desde o carro dividir-se ao meio com o impacto, deixado a power unit e todo o sistema onde se encontra o combustível de um lado e o cockpit de outro, até ao aparecimento, em 2018, do Halo.
Criticado na altura, vem agora provar-se eficaz. Estima-se que a força do impacto tenha rondado os 50G, impacto que, na sua maioria, foi absorvido pelo Halo que, caso não existisse, faria com que fosse o próprio piloto a levar com essa força, tornando o acidente e a corrida de hoje em algo muito diferente. Há que agradecer à FIA, aos Marshalls, à equipa médica que respondeu ao acidente logo de seguida… todos juntos salvaram a vida a Romain Grosjean e fizeram com que o dia de hoje não fosse um dia triste para o desporto que todos gostamos.
Agora, as outras 56 voltas do Grande Prémio do Bahrain. De volta à corrida, algumas curvas passadas e já temos bandeira amarela e safety car. Kvyat está de regresso, mas desta vez com alguma culpa no cartório, já que acabou por levar uma penalização de 10 segundos e, após toque com Lance Stroll, faz com que o Racing Point do norte-americano fique de pernas para o ar…
Ok, agora sim, estamos de volta e os carros já passaram oito vezes pela reta da meta. Uma volta sem incidentes, por isso posso dizer que, por esta altura, a corrida já tinha recomeçado. Recomeça e Valtteri Bottas tem um furo, perdendo assim ainda mais posições e fazendo com que Max Verstappen comece a olhar para o segundo lugar no campeonato de pilotos como uma possibilidade. Quem também não teve um recomeço fácil foi Sebastian Vettel que, aparentemente, teve algum tipo de desentendimento com o seu colega de equipa e acabou por perder algumas posições, estando por esta altura em 15º, uma posição acima do finlandês da Mercedes.
Estamos na volta 15 e Charles Leclerc já foi passado por Sainz, Ricciardo, Ocon e Gasly… a Scuderia Ferrari está cada vez mais longe de um triste 3º lugar no campeonato de construtores e faz com que o mais provável seja mesmo um nada honroso 6º lugar. Já que na frente pouco muda, a corrida continua a avançar e a animação está da P3 para baixo, onde Sainz e Albon lutam pelo 4º lugar, Gasly e Bottas pelo 7º e os dois Renaults tiveram que ser separados pelos engenheiros da equipa, já que nenhum dos pilotos queria ceder a sua posição.
Albon acaba por passar Carlos Sainz Jr. e conquistar a 4ª posição, mantendo-se longe o suficiente de Pérez para não atrapalhar o piloto mexicano, mas com uma boa distância segurança para não ser atrapalhado por Lando Norris que seguia em 5º lugar. Tudo parecia certo, P1 para Lewis Hamilton, P2 para Max Verstappen e P3 para Sergio Pérez, que nunca tinha conseguido dois pódios consecutivos na sua carreira… mas ainda não foi desta.
Ainda sem lugar para a temporada de 2021, o “Checo” precisa de impressionar e quase que o fazia. Porém, o motor Mercedes do seu Racing Point começou a deitar fumo… e onde há fumo há fogo.
Segundo carro em chamas, embora menos dramático, e segundo Racing Point de fora naquele que foi um duro golpe para Pérez, mas também para a equipa dos Mercedes cor-de-rosa que ainda ambicionam um terceiro lugar no campeonato de construtores antes de passarem de rosa a “verde Aston Martin”.
A corrida acabou com o Safety Car em pista até à última volta. Sem emoção, talvez para nos fazer relaxar depois de tanta adrenalina nas primeiras voltas, e com o vencedor do costume. Lewis Hamilton soma mais 25 pontos naquele que já é o seu 7º título de campeão do mundo de Fórmula 1 e Max Verstappen leva para casa o ponto extra para a volta mais rápida com 1.32.014, ficando, assim, 15 pontos mais perto do segundo lugar, ocupado por agora por Valtteri Bottas que, ao acabar em 8º lugar, apenas conquistou quatro pontos.
Uma pequena nota: no fim do dia, Romain Grosjean ganhou a votação para piloto do dia no Grande Prémio do Bahrain. Rápida recuperação Romain, é o que todos desejamos.