Dia feliz para a Red Bull, que viu Max Verstappen e o seu monolugar cruzarem a linha da meta em primeiro lugar no Grande Prémio de Abu Dhabi. Depois de um fim que, por culpa da FIA, deixou muito a desejar, Max é Campeão do Mundo de pilotos, mas a Mercedes leva para casa o Campeonato do Mundo de construtores.
Depois de uma sessão de qualificação onde a Red Bull fez um trabalho de equipa fantástico, levando assim Max Verstappen para pole position no Grande Prémio de Abu Dhabi, o último da época e aquele que lhe podia dar (e deu) o título de Campeão do Mundo de Fórmula 1, estava na altura da corrida. Corrida que ficava à partida marcada por vários motivos:
- Nikita Mazepin de fora, já que testou positivo para Covid-19;
- Última corrida de Kimi Räikkönen, que se despede assim da sua carreira na F1;
- Adeus de Antonio Giovinazzi à Alfa Romeo e à F1, já que para o ano não tem lugar em nenhuma das equipas;
- Adeus de Valtteri Bottas à Mercedes, que para o ano se muda para um dos Alfa Romeo;
- Adeus de George Russell à Williams, que para o ano será o companheiro de Lewis Hamilton na Mercedes.
A primeira volta contou com um excelente arranque de Lewis, que depressa se meteu à frente do piloto da Red Bull, e com um terrível arranque de Bottas, que acabou por descer para P8. Mas a história da primeira volta, ou até da corrida, só se começava a escrever, lado a lado, à entrada da curva 6, quando Max trava tarde e acaba por fazer uma trajetória mais larva, forçando Lewis a ir fora para evitar acidente (algo que se consegue ver através dos movimentos das mãos do piloto da Red Bull). Ao ver isto, a direção de corrida decide que não é necessária qualquer investigação muito por culta da trajetória legal, mas menos correta, de Max, e ao facto (dizem eles) de Lewis ter voltado à vantagem que tinha antes da curva, deixando seguir a corrida sem investigação.
Depois disto, Lewis aumentou o ritmo e, a 11 voltas do início, já levava uma vantagem de cerca de 4 segundos. Max pára e troca para pneus de composto duro, Lewis pára também e calça o mesmo tipo de pneus. Dos três da frente, apenas Sergio Pérez fica em pista para, tal como na qualificação, jogar o jogo de equipa e tentar segurar um Hamilton que, ao aproximar-se do mexicano, já leva qualquer coisa como 8 segundos de vantagem sobre Max Verstappen.
Mas Pérez foi o herói e, juntamente com Lewis Hamilton, deu-nos o melhor momento da noite. Corrida pura enquanto defendia e aguentava o sete vezes campeão do mundo… tudo para que o seu colega de equipa se conseguisse sagrar campeão do mundo pela primeira vez. E que batalha… limpa, sem toques, com ultrapassagens e posições recuperadas. Sem pilotos a alargarem trajetórias, sem jogo sujo. Lindo!
Com a defesa divinal de Pérez, assim que Hamilton conseguiu parar, lá tinha um endiabrado Max Verstappen a pouco mais de 1s de distância. Mas pouco durou. Lewis voltou a ganhar ritmo e, uma volta depois, já levava 2.2s de diferença. Que corrida fantástica, o Grande Prémio de Abu Dhabi estava a ser uma verdadeira festa para o fim do Campeonato do Mundo de Fórmula 1.
Depois dois momentos tristes: Kimi chega mal a uma das curvas, bate e acaba por levar o carro até às boxes, retirando-se e acabando sua carreira na F1 cerca de 30 voltas mais cedo. O finlandês acabou por ganhar o prémio de piloto do dia, graças aos fãs que votaram em força no ex-campeão do mundo. Logo a seguir é a vez de George Russell despedir-se da Williams umas voltas mais cedo: problemas no motor do carro levaram a que o britânico fosse para as boxes… Retira-se o carro antes do fim da corrida.
Mas a corrida continua, volta 31 e Lewis leva 4.2s de vantagem. Chegávamos à volta 33 e eu escrevia nas minhas notas o seguinte: “Não fosse a última corrida, a decisiva, e dizia que isto [o Grande Prémio] já estava entregue”. Escrevia isto porque Lewis levava agora 5s de vantagem para o segundo classificado, Max Verstappen.
Parecia que estava a adivinhar. Gio, outro que estava de saída, decide sair mais cedo. Problemas na caixa de velocidades levam o italiano a retirar-se. Altura para um Virtual Safety Car e a Mercedes vê Max e Pérez a irem às boxes enquanto decidem deixar Lewis de fora, com os seus pneus de composto duro já bem usados. Até aqui tudo parecia tranquilo para os “Silver Arrows”, Max tinha que ganhar 0.8s por volta para conseguir chegar a Lewis e atacar assim o campeonato do mundo. Max não conseguia. Se ao início até ganhou mais que isso, depressa passou a ganhar apenas uns curtos 0.3s por volta.
A 10 voltas do fim, Max precisava agora de ganhar mais de 1s por volta, já que Lewis tinha 12.3 segundos de vantagem. Tudo parecia certo: Lewis Hamilton ia ser, pela 8ª vez, campeão do mundo de Fórmula 1. Trabalho fantástico por parte do britânico, que conseguia assim aguentar os pneus bem usados, ao mesmo tempo que conseguia também tempos rápidos o suficiente para deixar Max a uma distância saudável.
Mas o circo começou. Latifi bate no mesmo local onde Kimi tinha batido na segunda sessão de treinos livres, e o Safety Car está fora da pit lane. A Redbull decide chamar Max às boxes e calçar pneus novos de composto macio, enquanto que a Mercedes diz a Hamilton para ficar fora. Assim não perdiam posição na pista e, de acordo com os regulamentos (e eventos passados), isso devia ser suficiente. As coisas podiam (ou deviam) ir de duas maneiras:
- Os carros com uma volta de atraso podem ultrapassar o safety car e os carros que vão na volta do líder podem tentar, sempre em segurança e mantendo uma velocidade “segura”, regressar à fila do Safety Car. A corrida deverá recomeçar (se a situação de perigo estiver resolvida) na volta seguinte depois de todos os carros com uma volta “a menos” terem ultrapassado o Safety Car;
- Os carros com uma volta de avanço não têm autorização para ultrapassar e a corrida recomeça assim que o Safety Car entrar de volta nas pits, não devendo carro algum ultrapassar até que a linha de safety car seja ultrapassada. Os carros com uma volta de atraso terão bandeira azul de imediato para que deixem os carros na volta do líder ultrapassar assim que a corrida recomeçar.
Michael Masi, diretor de corrida para a Fórmula 1, decidiu “animar” as coisas. A primeira decisão foi baseada no ponto 2, ou seja, ninguém ultrapassa. A Mercedes via o mundo a sorrir para o seu lado, ao passo que a Red Bull reclamava que os carros deviam ter a oportunidade de ultrapassar o Safety Car, deixando assim Max lado a lado com Lewis Hamilton. Mas ao acontecer isto, o mais provável era que a corrida acabasse atrás do Aston Martin que servia de Safety Car.
Passado uma volta, e quando se ia na penúltima volta do Grande Prémio de Abu Dhabi, o mesmo Michael Masi decide o contrário: os carros podem ultrapassar o Safety Car, mas só os cinco entre Lewis e Max. Tal fazia com que a corrida acabasse sem Safety Car, com Lewis a defender-se de um Max com pneus novos. A missão era impossível, e assim foi… Max Verstappen é o Campeão do Mundo de Fórmula 1 na época de 2021.
Max consegue também a volta mais rápida no Grande Prémio de Abu Dhabi com 1:26:106.
Depois de um campeonato como há muito não tínhamos, é uma pena que tenha que acabar assim, acabar como tem sido em múltiplas ocasiões ao longo da época: com decisões estranhas, pouco éticas, por parte da FIA e do seu diretor de corrida. Max e Lewis, que tanto lutaram para sair dali campeões, não mereciam isto. O desporto não merecia isto. Os fãs não mereciam isto. No fim, quem ganha é a equipa que produz a série da Netflix, Drive to Survive, que terá muito por onde pegar.
Deixo ainda uma dica: Um acidente a seis voltas de uma corrida que vai decidir tudo era para puxar logo da bandeira vermelha. Altura em que todos os carros metiam macios novos… quem os tivesse pelo menos. No fim, tínhamos cinco voltas de “motor racing”, sendo que qualquer coisa podia acontecer. Os fãs ficavam contentes, era justo para as equipas e pilotos, e a Netflix tinha emoção. Todos ganhavam. Mudar decisões que mudam estratégias no fim de um GP não pode acontecer quando os profissionais que lá estão são isso mesmo, profissionais.
Mais uma vez, parabéns a Max Verstappen pelo campeonato do mundo e parabéns à Mercedes pelo campeonato do mundo de construtores. A corrida foi acompanhada, pela última vez, na Eleven Sports Portugal. Para o ano, a SportTV toma as rédeas da competição maior do desporto motorizado.
Campeonato do Mundo de Fórmula 1
Posição | Piloto | Equipa | Pontos |
1 | Max Verstappen | Red Bull Racing Honda | 395.5 |
2 | Lewis Hamilton | Mercedes | 387.5 |
3 | Valtteri Bottas | Mercedes | 226 |
4 | Sergio Perez | Red Bull Racing Honda | 190 |
5 | Carlos Sainz Jr. | Ferrari | 164.5 |
6 | Lando Norris | McLaren Mercedes | 160 |
7 | Charles Leclerc | Ferrari | 159 |
8 | Daniel Ricciardo | McLaren Mercedes | 115 |
9 | Pierre Gasly | AlphaTauri Honda | 110 |
10 | Fernando Alonso | Alpine Renault | 81 |
11 | Estaban Ocon | Alpine Renault | 74 |
12 | Sebastian Vettel | Aston Martin Mercedes | 43 |
13 | Lace Stroll | Aston Martin Mercedes | 34 |
14 | Yuki Tsunoda | AlphaTauri Honda | 32 |
15 | George Russel | Williams Mercedes | 16 |
16 | Kimi Raikkonen | Alfa Romeo Racing Ferrari | 10 |
17 | Nicholas Latifi | Williams Mercedes | 7 |
18 | Antonio Giovinazzi | Alfa Romeo Racing Ferrari | 3 |
19 | Mick Shumacher | Haas Ferrari | 0 |
20 | Robert Kubica | Alfa Romeo Racing Ferrari | 0 |
21 | Nikita Mazepin | Haas Ferrari | 0 |
Campeonato do Mundo de Fórmula 1
Posição | Equipa | Pontos |
1 | Mercedes | 613.5 |
2 | Red Bull Racing Honda | 585.5 |
3 | Ferrari | 323.5 |
4 | Mclaren Mercedes | 275 |
5 | Alpine Renault | 155 |
6 | Alpha Tauri Honda | 142 |
7 | Aston Martin Mercedes | 77 |
8 | Williams Mercedes | 23 |
9 | Alfa Romeo Racing Ferrari | 13 |
10 | Haas Ferrari | 0 |