Final Fantasy VII Crisis Core Reunion

- Publicidade -

Final Fantasy VII Crisis Core Reunion é uma admirável conversão do exclusivo da PSP, que traz a aventura de Zack para as plataformas modernas com novos visuais mas com alguma foleirice atrelada.

Podemos dizer que nunca foi tão bom ser-se fã de Final Fantasy como agora. Colocando de parte as estranhas decisões da Square Enix com os seus modelos de lançamento e de negócio, não faltam jogos desta antologia para experienciar, sejam revisões perfeitas dos primeiros seis títulos da saga – agora anunciados para a PS4 e Nintendo Switch -, a continuação de Final Fantasy VII Remake, spin-offs como Stranger of Paradise e até o lançamento do tão aguardado Final Fantasy XVI em 2023. Seja em que plataforma estiverem, é quase garantido que têm à vossa disposição um ou mais jogos desta série icónica.

2023 promete ser um ano forte para os fãs de RPG, mas 2022 não se despede sem antes dar-nos mais uma surpresa vinda do universo Final Fantasy. É uma surpresa pensada para um grupo mais específico de fãs, pois trata-se da remasterização de Final Fantasy VII Crisis Core, lançado originalmente na PSP em 2007, onde permaneceu até agora.

Com este remaster, que mantém a aposta da Square Enix em adicionar mais nomes aos títulos dos seus jogos, Final Fantasy VII Crisis Core Reunion representa um mundo de oportunidades muito bem-vindas para o legado da série e para os seus fãs, sendo que as principais são a chegada às plataformas modernas e a apresentação da história de Zack a novos e antigos fãs, que nunca tiveram a oportunidade de jogar Crisis Core.

Limitado pelo hardware da PlayStation Portátil, podemos considerar que Final Fantasy VII Crisis Core é muito um produto do seu tempo, de outras sensibilidades e gostos específicos – não fosse 2007 ainda o início da sétima geração de consolas -, por isso lança-se a questão: como envelheceu e, mais importante, se é acessível para um recém fã da série?

Começando pela sua premissa, Final Fantasy VII Crisis Core Reunion é uma prequela de Final Fantasy VII que nos coloca na pele de Zack Fair, uma importante e misteriosa personagem do jogo original, antigo amigo de Aerith e de Cloud, a quem lhe passa a icónica Buster Sword. Em Crisis Core, conhecemos o perfil da personagem através de eventos convolutos que tentam expandir a mitologia da Final Fantasy VII para novos territórios fantásticos, com novas ameaças e personagens que acrescentam mais alguma profundidade a este mundo criado originalmente para o jogo da PlayStation 1, em 1997.

Se foram como eu e o vosso contacto inicial com Final Fantasy VII foi através do remake em vez do original, fica aqui uma nota, com possível spoiler. Atendendo ao final do Remake e do que nos foi apresentado no teaser de Final Fantasy VII Rebirth, Final Fantasy VII Crisis Core Reunion poderá não ser uma aventura essencial, isto porque é exatamente o mesmo jogo feito para a PSP, sem alterações narrativas. Para todos os efeitos, continua a ser uma prequela do jogo original, mas nunca se sabe o que poderá mudar em Rebirth e o que poderá ser canónico à nova trilogia de Final Fantasy VII.

Mesmo que seja um spin-off do original e não muito mais, Crisis Core não deixa de ser um pedaço de história para a saga com muito elementos que dão profundidade e complexidade às personagens que conhecemos, adoramos e das quais vamos ainda descobrir mais em futuras aventuras. Apesar de se manter virtualmente o mesmo jogo, é admirável a conversão técnica de Final Fantasy VII Crisis Core da PSP para as plataformas atuais. É, para todos os efeitos, um Remaster, mas numa qualidade que questiona outros lançamentos recentes auto-intitulados como remakes. Isto porque Reunion é “algo mais”.

Há um enorme salto geracional entre a versão original e a mais recente. Final Fantasy VII Crisis Core foi um jogo importante para estabelecer uma direção de arte e um tom mais realista ao mundo de Final Fantasy VII com a passagem para o 3D, muito influenciado pelos spin-offs e sequelas lançados após o jogo original – como Dirge of Cerberus, Advent Children e Before Crisis –, ao ponto de conseguirmos identificar a mesma linguagem visual nos novos remakes. A Square Enix foi inteligente em adotar o Unreal Engine 4 nesta conversão, aproximando assim esta nova versão de Crisis Core ao que vimos em Final Fantasy VII Remake.

Reunion brilha com os novos visuais. Não atinge a complexidade e fotorrealismo de Final Fantasy VII Remake, mantendo uma direção artística a cair um pouco para o cartoonesco, mas é admirável o conforto e familiaridade de visitar o mundo de Final Fantasy VII, tal como o revisitámos recentemente no Remake. Das personagens aos ambientes, aos adereços e até ao trabalho de voz, apesar da história não encaixar na narrativa do Remake, criam uma excelente ilusão complementar.

Outro grande destaque de Reunion são os seus controlos modernizados e adaptados aos comandos mais recentes, com atalhos de ataques, a gestão de itens e Materia e estratégia de combate em função das fraquezas dos inimigos, bem reminiscentes do remake, ainda que preserve um pouco da sua ação mais rápida. No geral, o combate é responsivo, rápido e fluído, e destaca-se novamente pelo sistema DMW (Digital Mind Wave), um sistema de summons aleatórios, cujos resultados são dependentes da narrativa.

O DMW é o mesmo do jogo original, apenas com um revamp visual na sua apresentação, o que significa que, infelizmente, não há qualquer interatividade do jogador. Embora apresente um twist interessante durante os combates, tornando-os únicos e inesperados, é um sistema redundante e demasiado aleatório que, trabalhado de outra forma, poderia ter entregue alguma profundidade extra ao jogo.

Felizmente, Final Fantasy VII Crisis Core Reunion é um jogo com algum sentimento de progressão mecânica, com avanços narrativos, uma coleção de summons que afetam DMW e o acesso constante a novas Materia, que também podem resultar da fusão entre elas. No fundo, é um jogo que dá ao jogador tudo o que precisa para experimentar novas estratégias ao longo da aventura e para quem quiser tirar o máximo de partido das suas habilidades, ao mesmo tempo que ganha oportunidade para desbloquear mais itens e summons opcionais, havendo uma longa lista de missões e desafios para ir explorando ao longo da história através dos pontos onde guardamos o jogo. As missões acabam por ser um excelente complemento secundário e opcional que ajudam a ritmar a nossa jornada de uma forma bem mais interessante do que alguns níveis principais mais chatinhos.

Voltando à apresentação e direção do jogo, temos cinemáticas refeitas, outras retrabalhadas para resoluções 4K através de inteligência artificial, mas também muitas sequências in-game que não foram alteradas, nomeadamente as interações com NPCs, que surgem no jogo apenas com a nova dobragem. Apesar do, mais uma vez admirável, esforço de conversão, a apresentação de Final Fantasy VII Crisis Core Reunion não é coesa, causa estranheza e, aliada à escrita e decisões de game design da sua época, os momentos de interação com NPCs acabam por cair no território do foleiro e redundante. As animações são hiper-animadas e as linhas de diálogo são repetidas com pequenas variações do texto e tornam-se rapidamente em puro entulho, criando vários momentos de filler que são obrigatórios, onde a história não avança e nós pouco aprendemos com ela. No fundo, faltou noção de ritmo a esta prequela e este remake acaba acidentalmente por evocar ainda mais isso.

O que também causa estranheza em Final Fantasy VII Crisis Core Reunion, especialmente em 2022, é a escrita desta história – extremamente melodramática, com um vilão de cartão irritante, personagens secundárias que puxam por emoções falsas e uma história que é bem mais simples e íntima do que aquilo que pretendem apresentar. Enquanto a origem e personalidade de Zack são bastante interessantes de conhecer, tornando-se fácil perceber o impacto que ele tem no grande esquema das coisas, quase tudo o que o envolve é, honestamente, desinteressante. Após anos de expectativas, adquiridas por osmose por fãs apaixonados por Crisis Core, admito que fiquei desiludido com o que experienciei, embora perceba que em 2007, enquanto jovem adolescente, toda a esta aventura tivesse um impacto diferente.

Sinto que Final Fantasy VII Crisis Core Reunion é, sem dúvida, um jogo do seu tempo. Uma pérola imaculada para alguns fãs, que faz todo o sentido ser modernizada e adaptada a novas plataformas e novas gerações. Para os fãs do original, acredito que seja um deleite poderem reviver esta experiência com uma nova camada visual e mecânica, ao mesmo tempo que encontra preservada a essência, história e personagens desta aventura. Um literal “embrace your dreams”, após anos de espera pelo regresso de Zack. Já para novos fãs, ou para quem vem de Final Fantasy VII Remake, com um tom bem mais ocidental e que se leva bem mais a sério, moderem as expectativas – este é um Final Fantasy muito diferente daquele a que estão habituados, para o bem e muito para o mal.

Final Fantasy VII Crisis Core Reunion pode ser jogado no PC, consolas PlayStation, consolas Xbox e Nintendo Switch.

Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Square Enix.

- Publicidade -

Deixa uma resposta

Introduz o teu comentário!
Introduz o teu nome

Relacionados