Crítica – Fantasy Island (A Ilha da Fantasia)

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No novo filme da Blumhouse, Fantasy Island (A Ilha da Fantasia), o enigmático Mr. Roarke (Michael Peña) realiza os sonhos secretos dos seus sortudos hóspedes num luxuoso e remoto resort tropical. Mas quando as fantasias se transformam em pesadelos, os convidados precisam de resolver o mistério da ilha para conseguirem escapar com vida.

Em primeiro lugar, não, não tenho qualquer conhecimento da série de televisão em que este filme se baseia. Depois de assistir a esta adaptação de Jeff Wadlow, definitivamente não irei ver mais nada relacionado com este mundo. Defendo sempre este princípio: os dois pilares de qualquer filme são a sua história e personagens. Não importa se tudo o resto é absolutamente perfeito. Se as duas peças centrais não convencerem o público, então todo o filme cai de chapa no chão.

Às vezes, alguns pedaços permanecem intactos. Raramente há um grande segmento que não tem qualquer arranhão, o que pode ajudar o filme a sobreviver e, ainda com menos frequência, realmente torná-lo “okay”.

Fantasy Island tem dois pedaçitos chamados Portia Doubleday (Sloane) e Maggie Q (Gwen) que entregam boas prestações, principalmente a primeira, que todos conhecem de uma das melhores séries de sempre, Mr. Robot. Touo o resto está totalmente destruído.

The Grudge ainda tem alguns momentos redentores, mas Fantasy Island é, sem dúvida, o pior filme do ano, até agora. Os dois pilares mencionados anteriormente são construídos com personagens irritantes e clichês, para além de uma narrativa ridícula que, no fim, faz tudo desmoronar.

Fantasy Island

O terceiro ato possui alguns dos plot twists mais irracionais, ilógicos e sem sentido que já testemunhei. Esta é a versão de 2020 de Serenity, outra película com um twist absurdo que só torna a mesma ainda pior do que já era. A grande diferença entre os dois plot twists é que o de Serenity é previsível desde o início. Já os últimos vinte minutos de Fantasy Island são extremamente inesperados, pois nenhuma alma sã teria sequer imaginado uma decisão narrativa tão desconcertante.

A melhor maneira de descrever o twist sem spoilar nada (e não vou) é através da edição. Durante a revelação carregada de exposição, a edição é tão estranhamente atrapalhada que me fez pensar que era tudo falso. Genuinamente, pensei que o plot twist era uma sequência enganadora. Quando percebi que não era, não resisti a rir-me, pois não consegui acreditar que alguém achou que isto fazia algum tipo de sentido lógico. Normalmente, um twist destes vem com algum build-up, mesmo que seja literalmente alguns minutos antes da divulgação explícita.

Este simplesmente aconteceu. Sem qualquer preparação, uma personagem aparece no ecrã e começa a explicar tudo. Não existe qualquer sentido racional. Gera tantas incongruências com toda a história que perdi a conta aos plot holes que consegui apontar.

O filme começa com a definição de algumas regras, apenas para, uma hora depois, ignorá-las ou mudá-las por completo. Uma personagem em particular age de uma certa maneira sem qualquer razão plausível. Se o argumento não é atrapalhado e confuso o suficiente, as personagens também são horrivelmente escritas.

Fantasy Island

Nunca apreciei escrever que um ator não fez o seu trabalho eficientemente, mas Ryan Hansen (JD Weaver) é claramente o elo mais fraco do elenco, mesmo que todos os guiões sejam terríveis. Para dizer a verdade, nem a escolha dos atores faz sentido: Michael Peña como um dramático Mr. Roarke? Uma personagem que é suposto ser séria e misteriosa? Estamos a falar de Michael Peña! Não quero insinuar que apenas consegue fazer comédia, mas torná-lo o vilão (se é que posso denominá-lo de tal) é mais uma nota a adicionar à lista de decisões questionáveis de produção.

Lucy Hale (Melanie) é razoável como a protagonista, mas tudo se resume aos guiões preguiçosos e sem imaginação. Tudo é tão inacreditavelmente confuso que nem sequer tenho observações técnicas… Talvez o início do filme e o conceito em si sejam interessantes. É o único elogio em que consigo pensar: não era uma má ideia (várias fantasias, géneros diferentes, poderia ter sido uma mistura divertida de estilos).

Fantasy Island é, sem dúvida, o pior filme do ano até à data. Considerem-no a versão de 2020 de Serenity, mas com um plot twist no terceiro ato tão inesperado que todos vão ficar de queixo caído devido à sua falta de sentido hilariante.

A história não estava nem perto de ser decente até à revelação e só se tornou em algo bem pior depois desta. Dezenas de incongruências e plot holes enormes são gerados devido à tentativa ridícula de um twist “à la” Shyamalan. Se as decisões narrativas absurdas não são suficientes, os guiões horríveis das personagens não ajudam em nada os atores, exceto Portia Doubleday e Maggie Q, os únicos aspetos positivos de todo o filme.

No final, os dois pilares de qualquer filme (história e personagens) são um fracasso total, fazendo com que tudo se desmorone sem nenhuma salvação possível.

Manuel São Bento
Manuel São Bento
Crítico português individualmente aprovado no Rotten Tomatoes com uma enorme paixão pelo cinema, televisão e a arte de filmmaking. Uma perspetiva imparcial de alguém que parou de assistir a trailers desde 2017. Membro de associações como Online Film Critics Society (OFCS), The International Film Society Critics (IFSC) e Online Film & Television Association (OFTA). Portfolio: https://linktr.ee/manuelsbento
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