No fundo do mar encontramos uma experiência diferente, mas que rapidamente joga todas as suas cartas e que é apenas recomendada a fãs da exploração marítima que procurem o menor desafio possível.
Podemos criticar Endless Ocean: Luminous por vários motivos (como UI desinteressante, uma campanha dividida por missões condicionadas por uma progressão rudimentar, uma jogabilidade assente na repetição e no prolongamento de momentos mortos com pouca interação, a ausência de tarefas únicas mais empolgantes, um modo online pouco memorável já que se mantém bastante solitário na sua abordagem), mas é difícil acusá-lo de publicidade enganosa. A Arika e a Nintendo prometeram-nos um jogo de exploração marítima com foco na catalogação da fauna e na descoberta de tesouros escondidos (que surgem em vários feitios e que servem pouco mais do que pontuação para a prestação destes mergulhos subaquáticos) e é isso que encontramos em Endless Ocean: Luminous. Até certo ponto, esta determinação em ser algo tão particular e a roçar o nicho é de louvar, já que poucos são os jogos que se arriscam num cenário tão restrito a nível de oportunidades mecânicas, mas simultaneamente expansivo (talvez até demasiado) na oferta de locais e terrenos desconhecidos para explorar que o novo exclusivo da Nintendo é tão refrescante, como um exemplo do porquê de termos tão poucos títulos nestes moldes.
É a primeira vez que conheço a série Endless Ocean. Os títulos da Nintendo Wii, como muito do catálogo da consola, escaparam-me, e dentro do género, se é que podemos definir já como um género, a minha experiência restringe-se a poucos minutos com Everblue 2, também desenvolvido pela Arika e lançamento na PlayStation 2 em 2002. Não sabia, portanto, o que me esperava ou o que poderia pedir de um título que se propõe a colocar os jogadores num fundo do mar como investigadores marítimos e Luminous é um primeiro contacto agridoce. Se aprecio a liberdade de movimentos e a aposta num mapa muito mais extenso do que antevia, com cavernas para descobrir e várias zonas de interesse – onde se escondem, por exemplo, destroços de navios e fissuras na terra que desvendam o magma que percorre o nosso planeta –, não fui capaz de ultrapassar a repetição do processo de catalogação e o arcaísmo de uma campanha que se divide por missões curtas com pouca interação – fora a voz AI que nos guia e que nunca deixou de ser desconcertante – e uma enorme rigidez nos diálogos, curtas cinemáticas e até no desenvolvimento de um mistério verdadeiramente interessante. Para piorar, a campanha é constantemente interrompida para fazermos tarefas adicionais, como fazer um número específico de scans, e não podemos contornar estas barreiras sem sermos atiramos para os modos de mergulho a solo ou online.
Endless Ocean: Luminous não procura ser uma experiência abrangente ou acessível, antes algo muito mais restrita. Podemos até apelidar a sequela como um jogo “zen”, onde a pressão do tempo é inexistente e os jogadores são deixados à sua imaginação, onde podem, ou não, abraçar as missões ou então simplesmente explorar o mar à procura dos peixes mais raro. Seja na campanha ou nos modos de mergulho a solo e online, Luminous coloca-nos no papel de um mergulhador sem nome ou cara – cujo design podemos personalizar com novas cores e emblemas, mas pouco mais – munido de um scanner para catalogar a fauna marítima. Com o scanner na mão, podemos explorar o mapa à vontade e analisar todos os peixes que encontrarmos. Os modelos são detalhados e cada espécie marítima é acompanhada por uma breve descrição, com Luminous a apostar logicamente num tom mais educacional do que propriamente competitivo na sua jogabilidade. Com uma espécie catalogada, a viagem continua e mais peixes poderão ser descobertos se soubermos onde e como explorar o extenso mapa, com o modo a solo a oferecer as já mencionadas missões adicionais que exponenciam o ritmo da exploração e incentivam os jogadores a conhecer melhor o mundo aquático de Luminous.
Com uma jogabilidade intuitiva, onde não temos de nos preocupar com um medidor de oxigénio ou pontos de vida – o combate é inexistente e podemos explorar livremente durante o tempo que quisermos –, Endless Ocean: Luminous não demora a cair na rotina e na repetição do processo de catalogação. Apesar das áreas únicas, o mapa não oferece desafios interessantes que injetam alguma desafio à exploração e sentimos que estamos apenas a deslocarmos para os mesmos locais e a descobrir quase sempre as mesmas espécies de animais. Também temos a descoberta das espécies mais raras, verdadeiros troféus da catalogação e que estão (quase) sempre associados à conclusão das missões adicionais. Luminous tenta, assim, investir os jogadores no seu loop de descoberta e recompensa mornas, com o incentivo adicional do ranking final de cada mergulho, que determina o nosso nível e o número de objetos cosméticos que podemos desbloquear com o dinheiro conquistado. Os sistemas estão lá e funcionam logicamente entre si, mas a Arika debruçou-se demasiado sobre o tema para criar um loop empolgante e pouco cansativo.
A possibilidade de jogarmos com outros jogadores é um dos trunfos de Endless Ocean: Luminous, uma adição interessante enquanto conceito – um oceano extenso, várias espécies para catalogar e a cooperação no centro da experiência com todos os jogadores a lutarem pelo mesmo objetivo –, mas cuja longevidade é difícil de determinar para já. Existem eventos associados ao modo online, é possível criar sessões ou então juntar-nos às sessões de outros jogadores, mas assim que saímos do menu principal e entramos no titular oceano supostamente infinito (penso que é um requisito fazer esta piada para todos os que escreverem sobre o jogo) vão encontrar o mesmo level design, zonas de interesse, espécies e até missões. Não existem motivos fortes para voltar se a jogabilidade não vos convenceu até ali. É mais do mesmo, só que na companhia de outros mergulhadores coloridos com zero comunicação, fora a utilização de stickers e emojis. Ao menos o desempenho é sólido, até em modo portátil.
Enquanto grito aos peixes, é bom relembrar que Endless Ocean: Luminous é exatamente aquilo que pensam que é: um jogo de exploração com foco na descoberta de espécies marítimas. A campanha é vazia e demasiado fragmentada, o sistema de evolução é uma motivação, mas a jogabilidade não evolui ao longo das horas e não são adicionas novas ferramentas ou novos métodos de navegação que justifiquem o investimento na evolução da personagem. Mesmo para o modo online, que não apresenta funcionalidades únicas que justifiquem o investimento prolongado dos jogadores. Mas longe destes problemas, Endless Ocean: Luminous é um relaxante jogo sem pressões, combate ou qualquer conflito, fora os ataques à paciência e resiliência dos jogadores. É um jogo para jogarmos de mente desligada, só nós e o mar, enquanto preenchemos uma longa lista de peixes, peixinhos e peixões que culminam num sistema de conquistas que só os jogadores mais investidos quererão completar.
Cópia para análise cedida pela Nintendo Portugal.