De acordo com o CEO da Endesa, José Bogas, a Europa deve reforçar a sua autonomia estratégica.
A Endesa realizou esta terça-feira a sua Assembleia Geral de Acionistas, na sede em Madrid, Espanha, com 85,63% do capital representado. A reunião teve lugar apenas um dia após o apagão que afetou vários pontos da Península Ibérica, circunstância que serviu de pano de fundo às declarações do CEO, José Bogas. O responsável frisou que a energia deve ser encarada como um pilar estratégico tanto para Espanha como para o conjunto da Europa. “Situações como a de ontem demonstram o quão crucial é garantir o fornecimento elétrico. A nossa sociedade é moderna porque está eletrificada e, por isso, assegurar a continuidade e a competitividade do fornecimento é absolutamente essencial”, afirmou.
No plano geopolítico, o CEO sublinhou que a conjuntura internacional tem vindo a alterar-se rapidamente, com novos fatores a redefinir equilíbrios de poder. A guerra no Médio Oriente, o prolongado conflito na Ucrânia, o regresso de políticas protecionistas, a saída dos EUA do Acordo de Paris e a imposição de barreiras comerciais são, segundo Bogas, sinais inequívocos de que a Europa deve reforçar a sua autonomia estratégica. “Neste quadro, a energia e a defesa surgem como prioridades incontornáveis”, apontou.
Na apresentação do plano estratégico da Endesa para 2025-2027, Bogas anunciou um investimento de 9.600 milhões de euros, o valor mais elevado desde que a empresa opera exclusivamente em Espanha e Portugal. Cerca de 80% deste montante será canalizado para redes de distribuição e produção de energia. O investimento em redes atingirá os 4.000 milhões de euros, mais 45% face ao plano anterior, enquanto a produção renovável contará com 3.700 milhões de euros, incluindo a recente aquisição hidroelétrica.
Outros 10% do investimento será dedicado à manutenção dos sistemas não peninsulares, produção nuclear e ciclos combinados, estando também previstos 900 milhões de euros para as áreas de comercialização de energia e serviços complementares. A Endesa espera atingir 7,1 milhões de clientes no mercado livre até 2027.
No que diz respeito ao planeamento energético nacional, o CEO da Endesa abordou a revisão do Plano Nacional Integrado de Energia e Clima (PNIEC), que prevê uma aceleração da capacidade renovável, o reforço das infraestruturas de rede e um aumento da eletrificação da economia para 35% da procura final de energia até 2030. O plano contempla um investimento global de 308 mil milhões de euros até ao final da década, mais 28% do que o inicialmente projetado.
Bogas reiterou a necessidade de reavaliar o plano de encerramento do parque nuclear, previsto no atual PNIEC, sublinhando que, perante a instabilidade energética e geopolítica, não seria sensato abdicar de uma fonte segura, competitiva e sem emissões. Destacou que a energia nuclear representa 20% da eletricidade consumida em Espanha e que as centrais estão em condições de operar até aos 60 anos. Alertou também para os impactos negativos no preço da eletricidade, nas emissões de CO₂ e na estabilidade do sistema caso as centrais venham a ser desativadas sem alternativas eficazes.
A carga fiscal sobre o nuclear foi igualmente apontada como um obstáculo à sua viabilidade económica, com mais de 25% do custo a corresponder a impostos e taxas. Bogas defendeu uma redução desta carga para tornar a produção nuclear mais sustentável.