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A Adglobe e a Live Wire regressam ao mundo dos metroidvanias com Ender Magnolia: Bloom in the Mist, uma sequela que é superior em praticamente todos os aspetos e que se assume como um dos melhores títulos desta entrada em 2025.

No final de Ender Lilies: Quietus of the Knights, quase vinte horas depois de me ter aventurado por um metroidvania que desconhecia por completo – produzido por duas produtoras que se estreavam na indústria -, pude presenciar o nascimento de um futuro clássico do género. A colaboração entre a Adglobe e a Live Wire, ambas sediadas no Japão, não procurou reinventar os metroidvania e acredito que não houve sequer a intenção de subverter a sua fórmula de sucesso – onde o progresso é limitado pelo desbloqueio de habilidades ou ferramentas que são acesso a áreas anteriormente indisponíveis –, mas antes deixar a direção de arte, o seu foco na narrativa expansiva num mundo de cópias, androids e experiências cruéis, e o sistema de combate diferente da norma – onde o foco residia na combinação entre guerreiros com poderes únicos, denominados Homunculi – criarem uma experiência que se destacou no género sem necessitar de enormes valores de produção. A jogabilidade falou mais alto, o level design solidificou a excelente progressão da campanha e a narrativa e personagens injetaram mais alma num game loop que costuma ser mais mecânico do que emocional.

Quatro anos depois, ambas as produtoras regressam a Land of Fumes com uma sequela que procura realizar o mesmo feito. De facto, Ender Magnolia: Bloom in the Mist é uma sequela direta, décadas depois do título anterior, mas novamente centrada na Land of Fumes e nos seus recursos mágicos, mais uma vez caída em desgraça e à beira da decadência. Nesta sequela, somos Lilac, uma Attuner capaz de purificar e ajudar todos os Homunculi do reino, dando-lhes uma segunda oportunidade para combaterem os efeitos dos fumos que ameaçam a existência de todos os seres vivos e mecânicos. A aura melancólica e perversamente bela do título anterior mantém-se intacta em Ender Magnolia, mas a forma como a história é contada, agora equilibrada entre pequenas escolhas mecânicas e até a existência de um HUB central – onde podemos interagir com as personagens que salvamos e adquirir novos equipamentos, habilidades e itens –, revelam uma sequela mais segura e muito mais memorável. Em todos os sentidos, Ender Magnolia é um passo em frente e é também uma análise cuidada aos elementos que tornaram o título original num sucesso, elevando a fasquia ao ponto de se tornar num dos melhores jogos deste início de 2025.

O primeiro impacto é soberbo e não nasce da jogabilidade, mas antes da direção de arte. Em todos os sentidos, Ender Magnolia é um jogo com uma forte identidade visual, construído sobre a arte e design do jogo anterior, mas agora muito mais segura e aprofundada. Lilac é uma protagonista mais envolvida na narrativa, também ela à procura de respostas, mas o design da Land of Fumes é o verdadeiro destaque. Mesmo que falhem todos os colecionáveis espalhados pelos vários biomas e ignorem as cinemáticas que contextualizam o vasto elenco de personagens, os cenários continuam a falar por si. O nível de detalhe é surpreendente, tal como é a escala de certas zonas, agora mais verticais no seu design, mas com uma profundidade de campo que quase escuda a perspetiva 2D da ação. Os campos de destroços metálicos, as cavernas mal iluminadas, as cidades decadentes e abandonadas, sempre pontuadas por uma paleta de cores que contrasta com o frio do aço quebrado e torcido. Tudo isto é sentido assim que começamos a jogar, mas defendo que é na chegada a Old City, o ponto central da campanha, e a panorâmica para o castelo no horizonte, que falam mais alto do que as palavras: a beleza melancólica, a combinação entre natureza e as construções humanas, tudo num só pano de fundo que comanda a ação.

A beleza seria meramente funcional ou até irrelevante se não servisse a exploração e Ender Magnolia excede-se nesse campo. À semelhança do título anterior, a sequela não procura propriamente reformular a estrutura ou adicionar elementos que associamos aos roguelikes e soulslikes, como tem vindo a acontecer nos últimos anos, e mantém-se confortavelmente num equilíbrio entre exploração, desbloqueio de habilidades e a descoberta de colecionáveis ao longo de uma campanha extensa, mas nunca cansativa. Encontramos aqui a alma dos metroidvania em todo o seu esplendor, agora enaltecida pela sensibilidade estética da série, onde a composição da campanha mantém-se forte devido à regularidade com que desbloqueamos novas habilidades e Homunculi, mas também pela presença de zonas secretas, nem sempre tão bem escondidas como o jogo pensa, que dão acesso a novos desafios, recursos e colecionáveis que deliciarão aqueles que procuram completar o jogo a 100%.

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Ender Magnolia: Bloom in the Mist (Live Wire)

Enquanto conheço melhor o género e traço uma linha evolucionária ao longo das décadas, desde o meu primeiro contacto com Castlevania: Symphony of the Night até a F.I.S.T Forged in Shadow Torch – que estou atualmente a jogar, lado a lado com Ender Magnolia –, sou levado a reforçar a minha teoria que os metroidvanias vivem pela sua mobilidade e nem tanto pelo sistema de combate. Se a exploração não for pensada como um crescendo mecânico, onde novas opções vão sendo introduzidas ao longo da campanha, o peso do backtracking, a repetição de zonas e de situações de combate podem estagnar a experiência dos metroidvanias. Neste sentido, Ender Magnolia é inteligente no seu design, mas não sai imaculado. Lilac tem acesso rapidamente ao duplo salto, ao dash e corrida, que procuram colmatar a velocidade reduzida dos seus movimentos – um problema que se sente especialmente nos combates -, mas a jogabilidade cresce e floresce quando grapling hooks, saltos verticais, entre outros, são introduzidos. O que demorava dois minutos, passa a ser percorrido em segundos, tudo através da combinação de habilidades que desbloqueamos. Os cenários transformam-se com esta acessibilidade mecânica e até os combates tornam-se mais rápidos e menos cansativos. Ainda assim, a Adglobe e a Live Wire decidiram introduzir um sistema de fast travel, que podemos ativar em qualquer parte do mapa para acedermos aos pontos de gravação.

O sistema de combate é, no entanto, um dos destaques de Ender Magnolia. Se a mobilidade mantém a experiência viva e constantemente envolvente, o sistema de combate é o sistema venoso que enaltece a jogabilidade. Para a sequela, as produtoras seguiram a via mais lógica e procuraram iterar as mecânicas apresentadas no título anterior e expandir a eficácia do sistema de combate. Se as habilidades de movimento fortalecem a exploração, essas mesmas habilidades são obviamente fulcrais em combate e esse foco é já um passo certeiro para dinamizar o sistema de combate. Depois temos o regresso dos Homunculi como método de ataque. Tal como Ender Lilies, a sequela relega a sua protagonista para um papel de apoio, servindo mais como ponto de defesa e proteção do que como personagem agressivamente ativa. O conceito de defesa mantém-se presente em Ender Magnolia e temos de garantir a segurança de Lilac enquanto evitamos golpes e procuramos os melhores momentos para contra-atacar, mas toda a ofensiva é representada única e exclusivamente pelos Homunculi que salvamos ao longo da campanha e essa diferença é a chave para o sucesso do jogo.

Com os Homunculi, temos acesso a um saudável e variado leque de ataques, armas e habilidades ofensivas do jogo. Lilac é incapaz de lutar e sem a ajuda dos Homunculi, a jovem seria um alvo fácil. Quando desbloqueamos um novo ajudante, que pode surgir organicamente através do progresso da campanha ou através de uma boss battle, temos à disposição um novo tipo de ataque que podemos equipar num dos botões do comando – no caso da versão PS5, são o quadrado, círculo, triângulo, cruz e R1. A possibilidade termos sempre quatro tipos de ataques diferentes em campo, desde ataques diretos, arremesso, projéteis ou então proteção passiva e até automática é uma mais valia que torna o combate mais versátil e sempre fresco.

Os Homunculi podem evoluir ao longo da campanha e essa evolução difere de Lilac, que está restrita a um sistema por níveis de experiência – que funciona como em qualquer outro RPG, onde os seus atributos melhoram a cada nível que ganhamos –, obrigando-nos a completar tarefas e a explorar os biomas em busca de recursos raros para desbloquearmos novos ataques e para melhorarmos os mesmos. Por Homunculi, temos acesso a três ataques, que podem ser equipados individualmente, ajudando-nos a construir uma classe mais personalizada, pensada para inimigos e situações específicas, visto que as habilidades, armas e padrões de ataque diferem suficientemente entre si para justificarem a sua rotatividade em combate.

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Ender Magnolia: Bloom in the Mist (Live Wire)

De facto, o sistema de combate de Ender Magnolia é vasto, mas sem nunca ser exasperante ou confuso, muito centrado na combinação de ataques e habilidades face ao leque de monstruosidades que enfrentamos ao longo da campanha. A possibilidade de equiparmos qualquer ataque em qualquer botão, dá-nos uma liberdade inesperada, visto que funciona praticamente como mapeamento de controlos para uma acessibilidade adicional. O combate também é enaltecido por um sistema muito intuitivo e progressivamente mais presente no género, que é a possibilidade de quebrarmos as defesas dos inimigos – ou entrar num estado stagger, se preferirem. Ao cansarmos os inimigos, as suas defesas ficam expostas e podemos não só contra-atacar com mais força, como podemos aproveitar a falta de resposta das criaturas para conseguirmos elevá-las através de ataques sucessivos. O combate encontra um ritmo entre ataque, distanciamento e contra-ataque quando o stagger acontece, com as batalhas de bosses a surgirem como picos de dificuldade nem sempre esperados – em parte, devido aos movimentos mais lentos de Lilac e a hitboxes nem sempre compreensíveis durante o dash e o salto.

Ender Magnolia é um passo definitivo para uma experiência mais equilibrada, agora mais influenciada pelos RPG de ação e outros metroidvania. A mobilidade de Lilac destaca-se quando comparada a Lily, a protagonista do primeiro jogo, e surge como uma personagem muito mais versátil e determinada. A presença do sistema de evolução mantém a aposta do título anterior, mas assistimos a um foco na personalização, e agora é possível não só equipar relíquias, tal como em Ender Lilies, mas também várias peças de equipamento. Não só temos um novo sistema monetário em ação, onde podemos comprar e criar novas peças de equipamento na Old City, como existe um maior incentivo à exploração. Há, portanto, mais combinações em jogo e maior liberdade na personalização de Lilac e dos seus ajudantes. São passos pequenos dentro do género, mas quando comparado ao título anterior, Ender Magnolia surge como a experiência mais completa, divertida e variada.

Há encanto no mundo de Ender Magnolia: Bloom in the Mist, mesmo quando está enterrado por baixo de montanhas de ferro. A direção de arte destaca-se pela composição de campo, os fundos detalhados e que tão bem contrastam com as cores mais esbatidas dos cenários principais, com a banda sonora a injetar emoção e densidade à existência das habilidades da Land of Fumes, caracterizada por composições em piano e com o uso de voz. A exploração e o sistema de combate são o coração do jogo, ambos simbolizando uma evolução palpável em comparação a Ender Lilies, e a fórmula metroidvania encontra-se saudável neste mundo melancólico. Talvez não seja o metroivania mais arrojado atualmente disponível, mas é, sem dúvidas, memorável e constantemente gratificante através da sua jogabilidade limada. Para mim, um dos melhores jogos deste início de 2025.

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Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela StridePR

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