E não será a única interessada.
Foi finalmente lançado na passada sexta-feira, dia 12 de janeiro, o concurso internacional para o primeiro troço da Linha de Alta Velocidade (LAV) que vai ligar Lisboa e Porto. O primeiro troço da LAV vai assegurar a ligação entre o Porto e Oiã, no distrito de Aveiro, um traçado de 70 quilómetros. A obra está orçada em 1950 milhões de euros e funcionará em regime de Parceria Público-Privada (PPP).
A linha que atualmente liga o Porto a Lisboa, a linha do Norte, é a principal linha ferroviária do país. Quase metade de todos os comboios de passageiros e mais de 90% dos comboios de mercadorias efetuados diariamente no país circulam, pelo menos, em parte da linha do Norte. Por esta razão, e apesar de existir procura, não é possível aumentar a oferta de serviço ferroviário no eixo entre o Porto e Lisboa. Além disso, após quase três décadas de investimento na modernização integral da linha do Norte, o melhor tempo de viagem possível de alcançar é de 2h49, podendo reduzir-se para 2h35 quando estiverem concluídas as obras em curso. Desta forma, com a capacidade e o potencial de aumento de velocidade da linha do Norte praticamente esgotado, a solução mais adequada passa pela construção de uma nova linha, com um traçado inteiramente novo.
A construção LAV entre Lisboa e Porto está dividida em três fases: uma primeira entre o Porto e Soure (que se subdivide nos troços Porto-Oiã e Oiã-Soure); a segunda, que ligará Soure ao Carregado; posteriormente, será feita a ligação entre o Carregado e Lisboa.
O troço entre Porto e Oiã faz parte da Fase 1 do projeto, onde também se inclui o troço entre Oiã e Soure, e tem um investimento de cerca de 3550 milhões de Euros.
Com a Fase 1 concluída, o tempo de viagem deverá reduzir-se logo das atuais 2h50 para menos de 2 horas. Após a Fase 2, prevê-se que um comboio sem paragens entre Lisboa Oriente e Porto Campanhã faça o trajecto em 1h19, enquanto um serviço com 4 paragens (Leiria, Coimbra, Aveiro e Gaia) fará o trajeto em 1h45.
A nova linha Porto – Lisboa tem uma velocidade de projeto de 300 km/h. Esta velocidade foi selecionada de entre vários cenários de forma a permitir um tempo de viagem que seja claramente competitivo com o transporte aéreo e que permita também ligações competitivas com a rodovia entre um leque maior de cidades, que inclui Leiria, Coimbra e Aveiro, mas também Braga, Guimarães, Évora, Faro, Figueira da Foz ou a Guarda, por exemplo.
Além das estações terminais de Lisboa Oriente e Porto Campanhã, que serão ampliadas, os comboios servirão estações intermédias em Leiria, Coimbra, Aveiro e Gaia. Todas as estações estarão em locais centrais, de fácil acesso e com ligação a outros serviços ferroviários e de transportes coletivos.
No caso de Leiria, Coimbra e Aveiro, serão utilizadas as estações existentes, que serão também ampliadas e requalificadas. Nestes casos, o acesso às estações faz-se pelas linhas existentes, a linha do Oeste e a linha do Norte, onde serão também necessárias intervenções de aumento de capacidade.
No caso de Gaia, trata-se de uma nova estação subterrânea, num local onde os comboios já circularão a uma velocidade mais baixa, por estarem já perto da estação terminal.
Com o lançamento da LAV, a a linha do Norte continuará a ter uma oferta de comboios Intercidades regular ao longo do dia que continuará a servir as estações que atualmente são servidas com tempos de acesso iguais ou melhores do que os atuais. Quanto ao preço dos bilhetes, será uma decisão comercial dos operadores. No entanto, tendo em conta que os custos operacionais não serão superiores aos atuais, os bilhetes deverão ter um custo médio semelhante ao dos bilhetes do serviço Alfa Pendular.
Linha de Alta Velocidade deverá ser explorada por outras empresas além da CP
Uma das razões para o estado deplorável das viagens de comboio em Portugal deve-se a dois motivos: os constantes desinvestimentos na ferrovia e, naturalmente, a inexistente concorrência. Ter somente a CP a desempenhar esse trabalho é contranatura – leva a que a empresa não tenha de se esforçar para ser melhor, simplesmente porque não há outra a oferecer melhores serviços.
E aqui, ainda que, a nível de investimento, falemos de outros valores, basta olharmos para a situação da Rede Expressos, cujos serviços melhoraram substancialmente com a entrada da alemã FlixBus em Portugal. E é isto que faz mexer o mercado – novos concorrentes, novos serviços, preços mais baixos.
No caso da Linha de Alta Velocidade, é altamente improvável que fique somente para exploração da CP. Primeiro porque o contrato com o Estado termina em 2029. E segundo porque, sendo uma nova linha, que leva passageiros a um determinado destino muito mais rapidamente, é natural que surjam interessados.
Um deles é o Grupo Barraqueiro, dono da Fertagus e um dos defensores de que o novo aeroporto de Portugal deverá localizar-se em Santarém. Em declarações à Renascença, o dono do grupo, Barraqueiro Humberto Pedrosa, disse que já pediu autorização para operar na LAV. E o objetivo não será apenas explorar a linha Porto-Lisboa, mas também uma eventual ligação ao Algarve, ainda que não esteja previsto, de momento, qualquer troço para a região algarvia.
Já o Público (acesso pago) refere que a B-Rail, primeiro operador ferroviário privado português, quer ter comboios a circular em 2029, com 12 circulações diárias entre Porto e Lisboa. Esta empresa fez, no final de 2022, um pedido de obtenção de horários na linha do Norte à Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT), com a AMT a declarar que, uma vez que o contrato de serviço público da CP com o Estado terminará em 2029, não só a B-Rail, como outros operadoras, poderão entrar no mercado sem quaisquer entraves a partir desse ano.