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Wolfs é dos filmes mais recomendáveis do ano.

De todos os serviços de streaming, a Apple TV+ é a que mais se aproxima do lema “quantidade não é qualidade”. Comparando com Netflix, Max, Disney+ ou Prime Video, a “rede da maçã” não produz tanto, mas o nível médio dos seus filmes e séries é capaz de ser maior que o dos anteriores. Porquê? Acredito na escolha acertada dos projetos e pessoas envolvidas. Afinal de contas, quem não ficaria altamente entusiasmado para uma obra como Wolfs, realizada e escrita por Jon Watts (realizador da trilogia do Spider-man de Tom Holland) e protagonizada por um duo icónico como George Clooney (Gravity) e Brad Pitt (Once Upon a Time in Hollywood)?

O interesse começa logo pelo título: Wolfs. Porque não Wolves? A premissa deixa à partida uma explicação natural. Clooney interpreta um profissional contratado para fazer “desaparecer” uma cena de crime. Mas quando um segundo agente (Pitt) aparece e os dois “lobos solitários” são forçados a trabalhar em conjunto, rapidamente a sua noite perde o controlo de forma que nenhum antecipava.

Wolfs é o mais recente exemplo de que é possível repetir fórmulas narrativas usadas desde sempre com sucesso ao executar as mesmas de maneira cativante e, neste caso particular de ação-comédia, com enorme valor de entretenimento. Tematicamente e narrativamente, a obra de Watts não possui surpresas de enredo, arcos de personagem profundos ou complexos, nem mensagens propriamente únicas. É uma espécie de buddy cop movie, mas ao invés dos dois protagonistas serem duas personalidades totalmente distintas, Clooney e Pitt interpretam personagens essencialmente semelhantes.

Desde a decisão de não partilharem o seu nome ao longo de todo o enredo, aos “truques” pessoais que ambos preferem manter secretos para provarem que são melhor que o outro a fazer o mesmo trabalho, Wolfs encontra-se no seu melhor quando deixa os atores principais meterem-se um com o outro através de quantidades infindáveis de sarcasmo, ironia e gozo. Felizmente, a maior parte do tempo de execução passa precisamente pelo diálogo constante entre os dois, elevando uma experiência que facilmente podia cair no esquecimento devido à previsibilidade geral do argumento genérico.

Mesmo em termos artísticos, não existe nenhum departamento técnico que se destaque particularmente. Pessoalmente, a banda sonora de Theodore Shapiro (Severance) é a que mais se aproxima de ter os holofotes virados para a mesma, mas são as escolhas de determinadas canções que realmente trazem impacto para o público, acompanhando hilariantemente algumas sequências de perseguição. Mas não há volta a dar: Wolfs é uma referencia de como atuar em frente à câmara por parte de Clooney e Pitt.

A química entre os atores é de tal forma inegável que não seria de surpreender que muitos dos momentos mais engraçados do filme fossem provenientes de improvisação por parte do mesmos. A partir do primeiro minuto em que estes personagens se encontram num quarto de hotel, Wolfs sobe imediatamente os seus níveis de entretenimento – dificilmente me esquecerei de como Clooney usa fita adesiva para facilmente enrolar um corpo em plástico ou um transportador de bagagem do hotel para levantar esse mesmo corpo do chão com uma eficiência impressionante.

Mesmo assim, Austin Abrams (Euphoria) consegue roubar o espetáculo do duo dinâmico com uma prestação fantástica enquanto um miúdo desorientado sem saber bem onde está e o que fazer. Abrams entrega inclusive um monólogo que tem tanto de dificuldade como de humor. Merece tantos elogios como os atores mais velhos. Filme para todo o tipo de espetadores com diversão para dar e vender.

VEREDITO

Wolfs é dos filmes mais recomendáveis do ano. Apesar de não reinventar a roda no género ação-comédia, destaca-se pela química irrepreensível entre George Clooney e Brad Pitt, que elevam um argumento genérico mas recheadíssimo de entretenimento memorável. Jon Watts mantém o ritmo ágil e divertido, aproveitando o diálogo constante entre os protagonistas para oferecer momentos de puro gozo irónico e sarcástico. Austin Abrams merece igualmente menção como uma agradável surpresa, conseguindo um equilíbrio perfeito entre ingenuidade e comédia. No fundo, é uma experiência leve e acessível para todos os públicos.

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