Uma crítica conjunta à vida e à arte: “Revolutionary Road”, Malvina Reynolds e Kacey Musgraves

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Revolutionary Road é o nome de um filme realizado por Sam Mendes em 2008. Malvina Reynolds foi uma compositora e cantora de folk/blues que nasceu em 1900. Kacey Musgraves nasceu em 1988 e é,  atualmente, uma compositora e cantora de country. E o que é que estes três têm em comum? Uma grande dificuldade em serem felizes.

Claro que um filme é um objeto ficcional e, por isso, não tem que enfrentar esse desafio, mas o autor que escreveu o livro em que o filme se baseia não teve a mesma sorte. Richard Yates é o nome do autor e neste caso, o nome do infeliz.

Mas voltando ao início, convém explicar a razão da minha afirmação. Afinal, quem sou eu para proferir tal coisa? Bem, eu nunca conheci nenhum dos três mencionados. Contudo, já ouvi/li o que eles escreveram. E quem escreve como eles pode ser muitas coisas, mas feliz é dificilmente uma delas.

Na letra da canção “Little Boxes”, Malvina Reynolds diz:

“Little boxes on the hillside
Little boxes made of ticky tacky
Little boxes on the hillside
Little boxes all the same

(…)

And the people in the houses
All went to the university
Where they were put in boxes
And they came out all the same

And there’s doctors and lawyers
And business executives
And they’re all made out of ticky tacky
And they all look just the same”

No fundo, é uma maneira mais palavreada de dizer que somos todos uma amálgama homogénea feita de nada. Somos ocos. Das muitas coisas que a educação superior pode dar, uma delas não é, de certeza, a individualidade de espírito e de criação. Fomos todos instigados a pensar da mesma maneira e a aprender sobre o mundo segundo os mesmos padrões. Não nos educaram para pensar, educaram-nos para pertencer a um grupo.

E se não fossemos para a universidade? E se fugíssemos da hipocrisia metropolitana e nos refugiássemos no encanto catita das pequenas vilas? Que seria de nós? Bem, a Kacey Musgraves tem algo a dizer sobre isso na canção “Merry Go ‘Round”:

“If you ain’t got two kids by 21,
You’re probably gonna die alone
At least that’s what tradition told you

And it don’t matter if you don’t believe,
Come Sunday morning you best be there
In the front row, like you’re s’posed to

Same hurt in every heart
Same trailer, different park

Mamas hooked on Mary Kay
Brothers hooked on Mary Jane
And Daddies hooked on Mary two doors down”

Quem cresceu numa aldeia ou numa vila pequena sabe que, por debaixo da ingenuidade e da ignorância inocente, esconde-se o pudor da repressão religiosa e a hipocrisia do quotidiano. É, por isso, que os homens vão para o café como beatas vão para a procissão. Os velhos vão para o campo cavar porque nasceram demasiado pobres para ousarem divertir-se antes de morrer. As mães vêem a novela depois de tomarem os calmantes para a depressão. E os filhos? Alguns vão para a universidade.

Posto isto, será que não há escapatória? Será que estamos todos condenados? No livro Revolutionary Road, Richard Yates escreve: “It’s a disease. Nobody thinks or feels or cares any more; nobody gets excited or believes in anything except their own comfortable little God damn mediocrity.”

Embora esta afirmação possa parecer desesperante, há uma certa esperança contida nela, mas vou guardar essa revelação para o fim. Antes disso, vale a pena falar do filme em que o livro se inspira. Neste, John Givings (Michael Shannon) numa conversa com Frank (Leonardo DiCaprio) diz: “Hopeless emptiness. Now you’ve said it. Plenty of people are onto the emptiness, but it takes real guts to see the hopelessness.”

Tendo em consideração esta nova informação, volto a perguntar: O que é que estes três têm em comum? Todos tiveram a coragem de enfrentar a verdade. Mas será que foram capazes de ir para além dela?

Isso não sei. Mas de uma coisa tenho a certeza: a vida não é inerentemente infeliz. A vida é inerentemente imperfeita e ser corajoso é ter a vontade de esboçar um sorriso, mesmo sabendo a verdade toda. Por isso, tenham a coragem de ser felizes.

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