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Turtles All the Way Down destaca-se como uma história de auto-descoberta complexa, envolvente e tematicamente rica.

Realizado por Hannah Marks (Don’t Make Me Go) e com argumento de Elizabeth Berger e Isaac Aptaker (Love, Simon), Turtles All the Way Down é a adaptação cinematográfica do livro com o mesmo título de John Green e conta a história de Aza Holmes (Isabela Merced), uma adolescente que tenta ser uma boa filha, amiga e estudante ao mesmo tempo que é obrigada a navegar uma quantidade infindável de pensamentos invasivos e obsessivos que não consegue controlar. Ao reencontrar-se com a sua paixão de infância, Davis (Felix Mallard), Aza é confrontada com questões fundamentais sobre o seu potencial para amor, felicidade, amizade e esperança.

Gosto particularmente desta sinopse, pois verifiquei em várias plataformas algumas variações que se focam numa espécie de sub-enredo de fundo numa tentativa de ludibriar as expetativas dos espetadores. Turtles All the Way Down é um drama romântico adolescente com um arco central típico de narrativas coming-of-age e não um mistério sobre um bilionário desaparecido, apesar da obra, de facto, ter alguns problemas com este contexto, no mínimo, estranho para a história tão pessoal, íntima e tematicamente rica que desenvolve.

Aza é uma protagonista que sofre de OCD – ou, traduzindo, TOC (transtorno obsessivo-compulsivo). No seu caso em particular, a sua cabeça entra em espirais caóticas sobre perguntas existenciais relacionadas com micro-organismos e o ser humano, levando a momentos desconfortáveis que demonstram na perfeição a frustração tremenda e falta de controlo total que assoberbam algumas pessoas com esta condição. Turtles All the Way Down é uma excelente lição sobre um transtorno mental que, ao longo dos anos, tem sido perigosamente simplificado – muitos acreditam que OCD não é mais do que pessoas com um fetiche por organização, como meter as canetas vermelhas e azuis divididas por cor em recipientes diferentes.

A obra não cai na armadilha de tentar encontrar uma justificação universal para esta condição, e muito menos uma solução simples para um problema bastante complexo. Turtles All the Way Down tem um cuidado notável na abordagem a este tema sensível, demonstrando como a OCD pode afetar severamente as relações humanas mais básicas e as interações diárias com o meio que nos rodeia. Até a ligação com o título contém um significado rico e crucial para a protagonista que lida igualmente com o facto de ter perdido o pai quando era mais nova.

Desde não ter a certeza se consegue ser verdadeiramente independente nem de sentir o apoio da sua mãe para tal, até às suas inevitáveis distrações que impedem que seja uma filha e amiga mais preocupada com os outros, Turtles All the Way Down leva Aza por um arco de descoberta pessoal interessante e, acima de tudo, capaz de tocar em várias áreas complicadas da vida de uma adolescente. As prestações convincentes do elenco, nomeadamente a relação incrivelmente natural entre Merced (Dora and the Lost City of Gold) e Cree (The Sleepover) – que interpreta a melhor amiga, Daisy – elevam a obra bem mais do que se espera, incluindo com alguns monólogos bem surpreendentes… e ainda bem, pois esta não está livre de alguns problemas.

Se o desenvolvimento da relação entre as melhores amigas não é só cativante como aparenta ser genuíno, o romance entre Aza e Davis nem por isso, e o tal mistério sobre o pai desaparecido do último partilha a culpa. Turtles All the Way Down insere as suas personagens em relações tão dinamicamente humanas que existir esta questão no ar sobre o que se passou com um personagem irrelevante para a narrativa geral não só retira foco do romance principal, como faz com que o mesmo seja colocado em dúvida sem necessidade. A outra parte encontra-se mais relacionada com o simples facto de não sentir a mesma conexão com Aza e Davis que senti com Aza e Daisy. Com as amigas, senti uma imersão tão real que me esquecia que estava a assistir a um filme. Com o ‘casal’, as interações parecem mais forçadas e dramatizadas porque simplesmente têm de ser.

De resto, Turtles All the Way Down sofre da previsibilidade estrutural e repleta de clichés deste tipo de histórias, mas nada que prejudique uma visualização caseira agradável com uma mistura ideal de entretenimento e educação. Nota ainda para a banda sonora simples mas doce de Ian Hultquist (Dickinson).

VEREDITO

Turtles All the Way Down destaca-se como uma história de auto-descoberta complexa, envolvente e tematicamente rica. Através das performances convincentes do elenco, Hannah Marks oferece uma visão autêntica e imersiva das lutas diárias de pessoas que sofrem com OCD e, embora não consiga combater a previsibilidade estrutural e o desenvolvimento menos convincente do romance principal, transmite lições importantes sobre este transtorno em particular, assim como sobre a saúde mental e relacionamentos humanos. Um equilíbrio entre entretenimento e reflexão que recomendo para espetadores que desejem uma visualização comovente e educativa.

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