Crítica – The Promised Land (Venice International Film Festival 2023)

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The Promised Land é um estudo de personagem profundo sobre o quanto ambições e desejos pessoais inevitavelmente não serão alcançados sem amor, compaixão e tudo mais que nos torna humanos.

Não importa se faz parte da cobertura de um festival de cinema ou se lançado para streaming, qualquer filme com Mads Mikkelsen, para mim, é visualização obrigatória. Um ator que consegue transformar uma obra por inteiro apenas com a sua prestação, se bem que a dupla Nikolaj Arcel e Anders Thomas Jensen também é razão mais do que suficiente para dar oportunidade a The Promised Land, adaptação cinematográfica do livro The Captain and Ann Barbara de Ida Jessen.

Arcel referiu que este é o projeto mais pessoal da sua carreira e percebe-se facilmente porquê. The Promised Land é um estudo de personagem profundo sobre o quanto sonhos e ambições gradualmente se tornam obsessões perigosas se não houver mais nada de valor na vida. No fundo, é uma jornada de auto-descoberta de Ludvig Kahlen (Mikkelsen), um soldado pobre de família desconhecida com um desejo intenso de um futuro mais rico e honrado para si. O protagonista coloca toda a sua dedicação e paixão fervorosa em conseguir provar ao reino e ao respetivo rei que é possível cultivar uma terra que nunca ninguém conseguiu cultivar.

Kahlen encontra-se numa posição inicial de sacrificar tudo e todos em seu redor para alcançar tal nobreza. Apesar de ser um homem com princípios e valores firmes, sente uma certa necessidade de validação, importando-se apenas com o sucesso da sua terra até a vida inevitavelmente lhe atirar obstáculos para a sua frente. Imprevisibilidade, caos, descontrolo fazem parte da natureza humana e do mundo, pelo que olhar para a vida de uma forma materialista equivale consequentemente a uma vida isolada, sem amor, respeito e carinho por parte de ninguém.

The Promised Land leva Kahlen por uma viagem onde o personagem aprende a utilizar os seus princípios e valores para amar, cuidar e valorizar o que realmente faz da vida memorável e, independentemente das complicações aleatórias que surgem, feliz. Mikkelsen oferece uma prestação subtilmente poderosa. Com expressões mínimas consegue transmitir os sentimentos conflituosos de Kahlen quando dilemas lhe são colocados, obrigando-o a escolher entre o seu amor por quem o rodeia e os desejos pelos quais tanto lutou para tornar realidade.

À medida que se torna mais humano, emocional, pai, amante e homem responsável por outros, Kahlen necessita de combater mais problemas. Compaixão é uma força, não um defeito, tal como comprovado pelo antagonista Frederik de Schinkel (Simon Bennebjerg), o suposto dono da terra que, tal como Kahlen, possui desejos individuais de riqueza. O paralelismo entre os dois personagens é evidente e belissimamente demonstrado. Possuem vários pontos em comum, mas o que os separa é precisamente a humanidade que um carrega ao peito e o outro despreza.

Amanda Collin é soberba como Ann Barbara, uma criada refugiada na terra de Kahlen após escapar das mãos abusivas de Schinkel – ou “de Schinkel” como o próprio incessantemente relembra a todos os que se atrevem se esquecer-se de quem se encontra no poder. A química palpável entre Mikkelsen e Collin contribui imenso para o terceiro ato violento, assim como justifica momentos chocantes de tortura que The Promised Land não se acanha em mostrar. Elogio final para a estreia da jovem Melina Hagberg como Anmai Mus, que demonstra imensa maturidade para a experiência que (não) tem.

Tecnicamente, a cinematografia de Rasmus Videbæk e a banda sonora de Dan Romer destacam-se. A primeira consegue captar a atmosfera sombria das sequências mais negras, para além de entregar cenas noturnas simultaneamente visíveis e realistas, incluindo um take ininterrupto de deixar qualquer cinéfilo deslumbrado. Já a música de Romer tanto acompanha subtilmente o desenrolar do enredo como acrescenta aquela camada épica nos vários clímaxes de The Promised Land. O guarda-roupa de Kicki Ilander também merece atenção para a temporada de prémios.

Peca por falta de maior criatividade narrativa e impacto nas suas mensagens temáticas. The Promised Land não é, de todo, uma história nunca antes vista e ouvida, contendo um certo nível de redundância desnecessária. Apesar de ter uma duração de 127 minutos, é uma visualização lenta e pesada devido à estrutura previsível do seu enredo, o que deixará espetadores dependentes de algum tipo de ação para se sentirem entretidos completamente aborrecidos. Felizmente, nem todos são assim…

VEREDITO

The Promised Land é um estudo de personagem profundo sobre o quanto ambições e desejos pessoais inevitavelmente não serão alcançados sem amor, compaixão e tudo mais que nos torna humanos. Acompanhado por uma cinematografia sombria e banda sonora impactante, o elenco entrega prestações soberbas, especialmente Mads Mikkelsen que utiliza toda a sua experiência para guiar a obra através de uma performance magnética. Pesado, previsível e algo repetitivo em determinados momentos, mas vale totalmente o bilhete.

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