Num local qualquer, numa realidade paralela, há certamente um guião um pouco mais coeso, repleto de cenas de diálogo inspiradoras que aproveitam ao máximo os excelentes atributos técnicos de The Pod Generation.
Pessoalmente, são as premissas de ficção científica que chamam mais a minha atenção do que qualquer outra. Especialmente no cinema, que é capaz de transportar as audiências para outros mundos, mesmo quando estes são fortemente baseados no nosso, com um enorme suporte visual. No caso de The Pod Generation, os espetadores são levados ao século XXII, onde literalmente tudo se tornou tecnológico, artificial ou simplesmente antinatural. Desde coisas tão mundanas como fazer o café da manhã e trabalhar num escritório até sair para respirar ar fresco, tudo aparenta ter algum tipo de tecnologia avançada envolvida. E sem grandes surpresas para mim, toda essa essência anti-natura inclui também um bebé.
Rachel (Emilia Clarke) e Alvy (Chiwetel Ejiofor) são um casal naquela fase da vida em que constituir família começa a ser uma prioridade. No entanto, enquanto Alvy acredita que deve ser a natureza a seguir o seu rumo, defendendo um procedimento natural para conceber um filho, já Rachel sente-se mais atraída pela conceção artificial por meio de um útero/casulo altamente capaz e destacável, que se parece com um ovo futurista muito sofisticado. A realizadora e guionista Sophie Barthes apresenta-nos, assim, uma premissa que procura explorar a evolução humana, com a nossa dependência pela tecnologia cada vez mais preocupante e através da análise do tipo de impacto que isso pode ter na nossa cultura e sociedade.
Numa narrativa nada surpreendente, esse estudo temático é tanto o melhor como o pior de The Pod Generation. Barthes é capaz de criar cenários suficientes para apresentar mensagens significativas sobre os tópicos acima, especialmente como a ligação emocional entre humanos nunca pode ser substituída pela ciência de ponta, e como a crescente dependência da tecnologia ao fazer tanto por nós já começa a afetar negativamente os nosso preguiçosos estilos de vida, assim como o impacto perigoso e ignorante que temos causado à Mãe Natureza. E, por fim, há também a questão da educação de gerações mais novas, repleto de atalhos perigosos para evitar as partes mais chatas, mas necessárias, do processo de crescimento de uma criança.
Infelizmente, The Pod Generation não vai muito além de lições genéricas com essas mensagens. Além de alguns problemas no tom, com alterações entre os paralelismos satíricos e cómicos e os problemas mais dramáticos e íntimos de um relacionamento, a premissa admitidamente intrigante não consegue atingir o potencial proposto, devido à abordagem superficial e repetitiva dos temas principais do filme. Ao tentar provar constantemente “algo mais”, mesmo quando o espetador já entendeu a mensagem, Barthes parece esquecer-se da genuína ressonância emocional tão importante entre o espetador e os protagonistas, fazendo até com que The Pod Generation pareça demasiado longo e pouco confiante na audiência.
Dito isto, The Pod Generation conta com uma construção de mundo notável e uma direção artística de produção fantástica (Clement Price-Thomas) que me permitiu manter investido no seu ambiente futurista tão credível. Ao assistir ao filme, dei por mim a observar todos os cantos do ecrã, totalmente imerso na estética deslumbrante do filme. A banda sonora de Evgueni Galperine e de Sasha Galperine também se destaca, principalmente nos momentos em que os personagens entram num estado de espírito meditativo, geralmente cercados pela natureza, seja ela real ou fabricada. De notar que Clarke e Ejiofor também contribuem com excelentes atuações.
Num local qualquer, numa realidade paralela, há certamente um guião um pouco mais coeso, repleto de cenas de diálogo inspiradoras que aproveitam ao máximo esses excelentes atributos técnicos. Infelizmente, não é no nosso plano de existência. Não é exatamente este.