Crítica – Somebody I Used to Know

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Somebody I Used to Know possui um elenco carregado de química e temas interessantes, mas o argumento formulaico peca por falta de profundidade e maior cuidado no tratamento das personagens.

Pessoalmente, Dave Franco nunca chegou a ser um ator que carregasse uma aura tal que automaticamente tornasse um filme ou série tremendamente interessante exclusivamente pela sua presença. Dito isto, a sua estreia como realizador e co-argumentista em The Rental deixou boas impressões, apesar da obra em si estar longe de ser perfeita. Do outro lado, Alison Brie, atriz que tem-se aventurado nos últimos anos na produção e escrita, junta-se ao marido em Somebody I Used to Know, protagonizando e partilhando o crédito de argumento.

Sinceramente, as expetativas não eram altas. Olhando para os últimos trabalhos de ambos, não só não existem obras verdadeiramente impactantes e inesquecíveis, como todas seguem uma certa previsibilidade. Somebody I Used to Know não reinventa o género nem surpreende narrativamente, mas também não o pretende fazer. Franco e Brie demonstram perfeita noção do que o seu filme é e as mensagens que desejam transmitir à audiência. Com bom ritmo e uma estrutura acessível, a história segue um rumo natural sem grandes desvios.

O elenco é, sem dúvida, o melhor que Somebody I Used to Know tem para oferecer. Brie lidera o filme com um carisma fantástico, mas tanto Jay Ellis como Kiersey Clemons impressionam. A química entre todos é tão genuína que dificilmente não terão vivido uma experiência bastante positiva durante as filmagens. O ambiente leve permeia a obra toda, desde o humor aos temas abordados… o que, infelizmente, levanta vários problemas.

Somebody I Used to Know possui enredos secundários que não são minimamente explorados, chegando mesmo a serem usados como meros dispositivos para criar conflito e drama sem razões para tal. A situação mais grave encontra-se relacionada com a orientação sexual de uma personagem que, durante todo o tempo de execução, raramente recebe qualquer tipo de atenção ou cuidado. É introduzida como se se tratasse de uma caraterística importante da personagem, mas só volta a ter destaque quando é necessária alguma fonte de confusão.

Para além deste e de outros momentos forçados, Somebody I Used to Know contém uma relação secundária entre a protagonista e a sua mãe que serve mais de “enchimento” do que um arco de personagem importante ou uma linha narrativa relevante. Não chega a receber uma conclusão digna do tempo de ecrã que ocupa, nem oferece momentos de comédia únicos, repetindo a piada formulaica de encontrar pais a terem sexo. No geral, a história nunca se torna demasiado ficcional ao ponto de se tornar absurda, mas não contém quaisquer surpresas que, do nada, aumentem os níveis de entusiasmo.

Em relação às personagens, Somebody I Used to Know torna-se num filme de fases. Os espetadores seguem pessoas bastante relacionáveis com dilemas de vida comuns que, pessoalmente, são verdadeiramente complicados e, muitas vezes, impossíveis de decidir. Franco e Brie conseguem construir uma história extremamente cativante quando se focam nesse tópico essencial de como misturar sonhos individuais com amor e vida conjunta, passando mensagens instigantes sobre auto-estima, confiança e liberdade, incluindo um paralelismo espirituoso com nudismo.

Pena que chega a ser tão frustrante seguir personagens tomarem atitudes tão horríveis e imperdoáveis sem terem de lidar com consequências sérias. Tudo o que acontece é desculpado e resolvido de forma demasiado rápida e leve. Esperei pacientemente por um par de diálogos impactantes e poderosos que dissessem tudo aquilo que as personagens pensam sobre situações claramente ofensivas e desrespeitosas, mas nunca se chega a esse ponto. Existe uma versão desta história que consegue superar todas as expetativas… apenas não é esta.

Veredito

Somebody I Used to Know possui um elenco carregado de química e temas interessantes, mas o argumento formulaico peca por falta de profundidade e maior cuidado no tratamento das personagens. Dave Franco e Alison Brie conseguem transmitir mensagens importantes sobre os dilemas que surgem ao misturar ambições individuais com a vida amorosa, mas à custa de conflitos e drama provocados à força através de ações humanas horríveis sem qualquer tipo de consequência pesada. Enredos secundários ligados a tópicos sensíveis são abordados de forma exploradora e até algo infantil. Um filme de fases que fica longe do seu potencial.

Manuel São Bento
Manuel São Bento
Crítico português individualmente aprovado no Rotten Tomatoes com uma enorme paixão pelo cinema, televisão e a arte de filmmaking. Uma perspetiva imparcial de alguém que parou de assistir a trailers desde 2017. Membro de associações como Online Film Critics Society (OFCS), The International Film Society Critics (IFSC) e Online Film & Television Association (OFTA). Portfolio: https://linktr.ee/manuelsbento
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