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Society of the Snow solidifica, sem qualquer dúvida, o estatuto de J.A. Bayona como um realizador injustamente subestimado.

No vasto reino de cineastas contemporâneos, J.A. Bayona destaca-se como um realizador absurdamente subestimado, entregando consistentemente filmes que incorporam uma visão criativa que ultrapassa os limites tradicionais do cinema. Ainda a recuperar do desapontante desastre que foi Jurassic World: Fallen Kingdom, é evidente que Bayona não foi o responsável pelo péssimo argumento – a sua direção, na verdade, salvou o filme de ser completamente irremediável. Intrigado pela sua capacidade de infundir o seu talento em géneros distintos, “entrei” para Society of the Snow com grandes expetativas, especialmente por explorar uma história verídica de sobrevivência da qual não possuía qualquer conhecimento prévio.

Ao navegar pelo caminho bem conhecido dos dramas de sobrevivência, Bayona injeta vitalidade genuína na narrativa, confrontando os desafios enfrentados pelas “personagens” – é estranho referir-me a representações de pessoas reais como tal – com uma intensidade chocante e visceral. Apesar de aderir a certas fórmulas previsíveis inerentes a estas adaptações – Society of the Snow baseia-se no livro de Pablo Vierci com o mesmo nome – o filme transcende essas limitações através da realização magnífica de Bayona, conferindo ao guião uma tensão palpável que justifica a sua duração considerável.

Um dos maiores feitos da obra reside na recriação assustadoramente real da miraculosa, praticamente inacreditável missão histórica de sobrevivência. A audácia de sobreviver a um acidente de avião nos impiedosos Andes, cercado por imponentes montanhas repletas de neve em todas as direções, é transmitida com um realismo que é simultaneamente inspirador e assustador. A sequência do acidente em si é retratada com tal brutalidade que é difícil manter o olhar no ecrã, com visuais e sons de ossos a partirem-se, passageiros a serem esmagados uns contra os outros e o avião a desfazer-se, sendo estes apenas alguns dos elementos chocantes que tornam este momento num dos desastres aéreos mais inesquecíveis da história do cinema.

Society of the Snow transcende os clichés do género respetivo para explorar temas profundos de perseverança, crenças, amor, e a extraordinária capacidade humana de ultrapassar os seus limites quando a própria vida está em jogo. Com a ajuda de Bernat Vilaplana, Jaime Marques-Olearraga e Nicolás Casariego, Bayona evita a maioria das habituais dramatizações típicas de argumentos de Hollywood, concentrando-se num estudo dos extremos a que as pessoas estão dispostas a ir para sobreviver, desafiando frequentemente as suas próprias crenças profundamente enraizadas e a sua bússola moral. A abordagem sensível de Bayona a estes tópicos eleva o filme a mais do que uma simples história de sobrevivência física.

Na sua essência, torna-se uma meditação sobre a resiliência do espírito humano, exibindo a força que emerge quando confrontada com adversidades aparentemente insuperáveis. Instiga o público a refletir sobre a fragilidade da vida e as transformações profundas que podem ocorrer quando as pessoas são empurradas até ao seu limite. À medida que as personagens lidam com a dura realidade da sua situação, Society of the Snow torna-se num espelho da natureza humana complexa. O elenco é crucial na representação da autenticidade do guião, proporcionando um esforço coletivo notável e dando vida a personagens que se encontram num ambiente incrivelmente inóspito. As suas prestações formam um conjunto coeso que adiciona profundidade e dimensão à história e às pessoas reais, culminando num final poderosamente catártico que não deixará nenhum espetador indiferente.

Visualmente, Society of the Snow é deslumbrante, demonstrando a beleza arrebatadora das paisagens naturais através de filmagens em locais reais. Enquanto as vastas montanhas de neve criam um cenário majestoso, o diretor de fotografia Pedro Luque (Don’t Breathe 2) infunde habilmente as cenas com uma sensação de claustrofobia e ausência de vida, sublinhando o dilema enfrentado pelas personagens. A grandiosidade visual da obra, aliada à capacidade de evocar um sentimento de confinamento, contribui significativamente para a experiência imersiva global.

E, finalmente, a música composta por Michael Giacchino (The Batman), que mais uma vez cria um acompanhamento comovente que enfatiza verdadeiramente a ressonância emocional de Society of the Snow. Com notas de piano encantadoras que chegam delicadamente ao coração do público, a banda sonora complementa a narrativa, criando uma sinfonia que enriquece as lutas e triunfos das personagens. Tecnicamente, é difícil encontrar qualquer problema com esta obra brilhantemente concebida. É difícil encontrar qualquer problema, na verdade…

VEREDITO

Society of the Snow solidifica, sem qualquer dúvida, o estatuto de J.A. Bayona como um realizador injustamente subestimado. Uma das histórias de sobrevivência mais inacreditáveis e angustiantes de sempre é recriada através de um elenco verdadeiramente notável, uma cinematografia deslumbrante que capta as paisagens impressionantes mas traiçoeiras, uma banda sonora profundamente comovente que toca no fundo do coração e um despenhamento aéreo como nunca antes visto. A convergência destes elementos transforma uma peça de sobrevivência admitidamente previsível numa experiência visceral e emocionalmente ressonante, instigando o público a refletir sobre os temas cuidadosamente abordados de resiliência humana, crenças e perseverança. Imperdível, especialmente no grande ecrã se possível.

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