SCREAM VI é satisfatório o suficiente. A nova localização e sets trazem uma frescura necessária à franchise. As mortes nunca foram tão visualmente violentas e gory, elevando os níveis de entretenimento de uma história com ritmo bastante rápido.
Vivemos na Era das Franchises e duvido que exista alguém querer defender o contrário. Hoje em dia, se uma obra original sem quaisquer intenções de criar uma nova saga de sequelas, prequelas e spin-offs, tiver um mínimo de sucesso comercial e financeiro, é uma questão de tempo até rumores de novos filmes se tornarem verdade absoluta. Scream renascer das cinzas não é, de todo, uma surpresa, mas o seu regresso no ano passado foi tão bem recebido que muitos – incluindo eu próprio – consideram a melhor sequela da franchise. Sendo assim, consegue Scream VI aproveitar a onda positiva gerada pelo seu antecessor ou fica aquém das expetativas?
Obviamente, não posso falar por todos os fãs da saga, mas acredito que uma das caraterísticas mais apelativas destes filmes passa pelo comentário meta sobre o próprio cinema, especialmente o género de horror. Desde as inúmeras fórmulas utilizadas por Hollywood até ao impacto das redes sociais nas expetativas dos espetadores, Scream destaca-se pelas suas ideias frequentemente instigantes. Pessoalmente, as melhores obras da saga são aquelas que conseguem misturar eficientemente as tais mensagens meta com o próprio enredo, algo que o filme original e o de 2022 executam exemplarmente.
Scream VI falha redondamente neste aspeto, mas prefiro começar pelo que os realizadores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett e os argumentistas James Vanderbilt e Guy Busick conseguem, de facto, acertar. Nova Iorque ser a localização principal da narrativa não só é incrivelmente refrescante, como oferece imensas oportunidades para o novo Ghostface atormentar as suas vítimas. O metro, lojas, um teatro abandonado, as ruas e becos da cidade, apartamentos grandes e pequenos… os novos sets contêm várias referências a todos os filmes anteriores, ajudando a expandir a escala desta obra.
Aliás, em Scream VI, tudo é “mais” ou “maior”. O orçamento sobe 10 milhões de dólares, o elenco é mais extenso, as sequências de perseguição são mais longas, as mortes são muito mais violentas e os níveis de gore nunca foram tão altos. Tudo com os objetivos de oferecer razões aos espetadores habituais para continuarem a voltar e de conquistar novos fãs. A própria banda sonora de Brian Tyler e Sven Falcouner parece mais complexa ao incorporar trechos clássicos com a música nova. São poucos os momentos para parar e respirar, fazendo com que as duas horas e pouco de duração passem relativamente rápido devido ao entretenimento constante.
Mesmo assim, acabam por ser as prestações que realmente elevam Scream VI. Para quem duvidava de Melissa Barrera, a atriz demonstra todo o seu talento ao liderar este sexto filme de forma soberba, aproveitando a instabilidade mental da sua personagem, Sam Carpenter, para mostrar duas versões de si própria. Jasmin Savoy-Brown (Mindy) e Mason Gooding (Chad) contribuem com imenso carisma e ironia, sendo que Dermot Mulroney (Detective Wayne) é o destaque no que toca às novas personagens. Pena que Samara Weaving e Tony Revolori possuam tão pouco tempo de ecrã.
No entanto, Jenna Ortega está a jogar noutro campeonato. A par de Mia Goth, a jovem atriz é a sensação do momento e demonstra o porquê em Scream VI. Desde a sua expressividade intensa ao seu alcance emocional gigante, Ortega tornou-se rapidamente num daqueles nomes que basta a sua presença para convencer-me em ver o filme. A sua química com Barrera não podia ser melhor, com ambas a ajudarem-se mutuamente para tornar a história o mais cativante possível. Os primeiros dois atos têm tudo aquilo que antecipava enquanto fã destas obras…
Infelizmente, o terceiro ato é dos mais desapontantes de toda a saga. Franchises e subversão de expetativas são precisamente os temas principais abordados nos diálogos satíricos entre as personagens, mas Scream VI peca por maior assertividade nestas conversas. Para além de muitas opiniões serem repetidas de outras obras anteriores, o impacto não é o mesmo e tal deve-se, em parte, ao facto de possuírem uma relação muito menor com o desenvolvimento da narrativa, principalmente o final que envolve a revelação do(s) Ghostface(s).
Scream VI tinha imenso terreno por desbravar, mas apenas tenta explorar os seus tópicos em duas cenas, focando-se mais na componente slasher básica do que em criar uma história tematicamente rica que elevasse esses mesmos momentos de suspense e horror. Mesmo observando as tais duas cenas, os diálogos passam muito por comparar filmes originais com as suas sequelas e remakes diretamente, gerando uma discussão superficial de gosto em vez de analisar como a indústria e a comunidade online lidam com as tentativas incessantes de criar novas franchises.
A revelação final é bastante previsível e a sequência que leva à mesma extremamente forçada. A saga é conhecida por não se levar a sério, pelo que inconsistências narrativas e lógicas são de se esperar, mas também nunca foi uma franchise de obrigar os espetadores a desligarem o cérebro por completo. Pessoalmente, problemas de “movie logic” são dos mais irrelevantes, mas Scream VI foi capaz de me levar ao limite com algumas decisões bem longe do “razoável”. Um par de mortes falsas são bastante frustrantes, especialmente pela forma como as mesmas são filmadas, sendo que o pior é mesma a falta de coragem em seguir em frente com decisões mais arrojadas.
VEREDITO
SCREAM VI é satisfatório o suficiente. A nova localização e sets trazem uma frescura necessária à franchise. As mortes nunca foram tão visualmente violentas e gory, elevando os níveis de entretenimento de uma história com ritmo bastante rápido. Melissa Barrera prova que é capaz de liderar um filme desta dimensão, mas Jenna Ortega joga num campeonato à parte. Infelizmente, o terceiro ato é tudo aquilo que não devia ser: previsível, forçado e incapaz de juntar o seu comentário meta – muito pouco desenvolvido – ao enredo em si – demasiadas inconsistências narrativas, mesmo para uma saga conhecida por não se levar a sério.