Lift torna-se rapidamente num filme de assalto esquecível, contradizendo a sua promessa inicial de intriga, emoção e uma sequência de abertura bastante envolvente.
As primeiras sessões de 2024 foram maioritariamente devido a vários fatores comuns, nomeadamente um elenco interessante, uma premissa promissora com o potencial para uma experiência verdadeiramente memorável e, no caso de Lift, a participação de um realizador conhecido, F. Gary Gray (The Fate and The Furious). Não tinha grandes expetativas para nenhum dos meus visionamentos anteriores e mantive-as moderadas também para esta obra da Netflix, não antecipando mais do que um filme genérico de assalto, muito provavelmente carente de inovação significativa.
Recebi exatamente isso. À medida que a narrativa de Lift se desenrola, torna-se cada vez mais evidente que o filme tem dificuldades para se libertar das restrições do género, aderindo a uma fórmula testada em inúmeras obras parecidas. A esperança por uma história cativante com reviravoltas inesperadas nunca esteve em cima da mesa, visto que Daniel Kunka (12 Rounds) redige um argumento bastante convencional com pouca criatividade – é apenas o seu segundo guião de longa-metragem em 15 anos – deixando todo o sucesso do filme inteiramente dependente da execução global.
O assalto de abertura e a subsequente perseguição pelos canais de Veneza são, sem dúvida, o ponto alto da obra, mostrando o talento do realizador para orquestrar ação visualmente envolvente. No entanto, a euforia gerada por esses momentos é efémera, já que Lift entra rapidamente num ritmo de previsibilidade e monotonia. Tirando uma luta entretida, mas parcialmente estragada por uma montagem agitada, num avião com teto de vidro, a narrativa geral não pode ser salva dos tropeços de uma história desinspirada.
O elenco debate-se com personagens mal delineadas que nunca evoluem além das suas introduções iniciais. Apesar da química palpável entre os atores, as suas interpretações são contidas pela falta de profundidade do argumento. A motivação do grupo criminoso, elemento narrativo central de qualquer obra deste género, parece mais uma desculpa obrigatória para efetivamente ter um filme do que uma exploração das complexidades das suas escolhas ou do peso emocional das suas ações.
Lift avança e o excesso de personagens torna-se inegável, diluindo o potencial para o crescimento individual e enfraquecendo a falta de urgência e perigo no enredo, afetando ainda mais a tensão e tornando difícil para o público investir totalmente nos eventos em desenvolvimento. Mesmo as personagens destinadas a servirem exclusivamente de comic relief possuem tempo de ecrã esporádico, contribuindo pouco para combater o tom gradualmente mais aborrecido.
Embora a incursão de Kevin Hart (The Man From Toronto) em papéis mais dramáticos seja louvável – discordo dos comentários de mau casting – Lift não aproveita totalmente a sua presença, relegando-o a momentos de seriedade no meio de um mar de conversas bem-humoradas das quais raramente faz parte. É uma oportunidade perdida para mostrar a amplitude do talento do ator e explorar o espetro emocional que poderia proporcionar. Por outro lado, Gugu Mbatha-Raw (Loki) consegue infundir algum gravitas muito necessário, carregando aos ombros uma boa porção do filme.
A decisão de filmar em vários locais reais é um dos poucos aspetos redentores de Lift, permitindo que o público atravesse o mundo ao lado das personagens. Obviamente, o longo assalto climático no avião especial depende muito de efeitos visuais, mas, no geral, gostaria que mais blockbusters de hoje em dia se comprometessem com o realismo ao aproveitar uma das infinitas localizações deslumbrantes do nosso planeta.
VEREDITO
Lift torna-se rapidamente num filme de assalto esquecível, contradizendo a sua promessa inicial de intriga, emoção e uma sequência de abertura bastante envolvente. Infelizmente, tudo é eclipsado por uma narrativa formulaica, desenvolvimento superficial de personagens e uma falha em inovar dentro de um género já bastante explorado. Uma narrativa que não consegue elevar-se acima do mundano, apesar de possuir um elenco talentoso e um par de sequências de destaque. Os créditos finais rolam e percebem-se as imensas oportunidades perdidas que poderiam ter feito desta obra uma sólida adição ao seu género respetivo…