Jurassic World Dominion é uma desilusão tremenda em praticamente todos os níveis.
Nunca me dediquei a escrever sobre os meus filmes favoritos de sempre nem possuo quaisquer listas semelhantes. No entanto, seria praticamente impossível Jurassic Park ficar de fora. Uma obra-prima que rapidamente se transformou num clássico e que, mesmo contando com os decentes The Lost World e Jurassic World, deu azo a sequelas drasticamente inferiores em todos os níveis. Apesar da desilusão tremenda que Fallen Kingdom provocou na maioria dos espetadores, o seu cliffhanger gerou uma premissa fantástica para o filme seguinte. Como não suceder com uma história a envolver dinossauros espalhados pelo mundo novamente e a humanidade a ter de aprender a coexistir com os mesmos? Infelizmente, Jurassic World Dominion consegue essa “proeza”.
Desde cedo que Colin Trevorrow afirmou ser este o filme que sempre quis realizar dentro da famosa saga, mas a verdade é que a parte mais interessante e entusiasmante desta premissa é remetida a um mero gráfico de exposição de poucos minutos. Dominion começa alguns anos após o fim do filme anterior, o que significa que todo o caos, terror, guerra, conflitos naturais e afins são passados à frente. Em vez disso, os espetadores são colocados num espaço temporal onde os humanos já se encontram habituados a viver com os dinossauros e os mesmos com outros animais e a respetiva natureza. Sendo assim, que narrativa desenvolveram Trevorrow e Emily Carmichael?
Um argumento genérico, previsível e sem quaisquer surpresas durante todo o tempo de execução com foco em enredos de espionagem e inspirados em Taken, desviando completamente a atenção para os personagens humanos e colocando os dinossauros como meros extras com presenças ocasionais no grande ecrã. Na verdade, encontram-se dois filmes num só, o que torna a duração do mesmo desnecessariamente longa. Desde um CEO antagonista cliché com motivações fúteis até à divisão terrível do elenco – o grupo de atores da trilogia original apenas se encontra com o novo já para lá do início do terceiro ato – Dominion comete o maior crime que um blockbuster de verão se pode atrever a realizar: ser entediante.
Chris Pratt e Bryce Dallas Howard veem-se envoltos numa narrativa de resgate que faz questão de passar pelos pontos de maior absurdidade lógica de toda a obra, mas o maior problema é mesmo a falta de impacto ou importância para a história geral. Todas as tentativas de recuperar aquilo que perderam de pouco servem para alterar o rumo do plot principal, sendo que a sequência em Malta podia ser totalmente removida do filme e apenas se perderia uma nova personagem – DeWanda Wise é fenomenal enquanto Kayla Watts, mas não deixa de ser uma simples companheira de aventura sem arco pessoal. Para além disto, Dominion não consegue entregar cenas de ação minimamente cativantes.
Seja devido ao movimento irrequieto insuportável da câmara ou à montagem extremamente confusa, chega a ser genuinamente chocante como é que um blockbuster de 2022 não consegue aproveitar a tecnologia que permite efeitos visuais impressionantes para criar dinossauros de deixar o queixo caído. Não só a ação com dinossauros é escassa para as duas horas e meia de filme, a vasta maioria peca por falta de qualquer tensão, suspense e até energia. Aliás, escapa-se apenas e só a melhor sequência de Dominion: um momento que dura menos daquilo que parece, envolvendo Claire e um dinossauro em particular, deixará todos os espetadores com os nervos à flor da pele. Tomara que o resto possuísse o mesmo nível de qualidade técnica e valor de entretenimento.
Bem longe destas personagens encontram-se Sam Neill e Laura Dern, de volta ao papéis icónicos de Alan Grant e Ellie Sattler. É deveras nostálgico ver o duo a contracenar novamente, mas, mais uma vez, o argumento de Dominion arruína o que podia ter sido uma conclusão brilhante e emocional para a saga. De forma simples, Grant e Sattler podiam ser substituídos por dois personagens aleatórios e desconhecidos que o enredo não mudaria. Os atributos dos doutores da paleontologia são insignificantes para a narrativa quase ofensiva em que são inseridos. Um enredo de espionagem com princípio, meio e fim questionáveis, onde até um sempre cativante Jeff Goldblum tem dificuldades em ultrapassar os one-liners nada cómicos.
Dominion apenas se safa de ser uma catástrofe completa devido aos fatores positivos inerentes à saga: elenco, efeitos visuais e banda sonora. Estes três elementos vêm de filmes passados e foram construídos e desenvolvidos anos após anos, criando uma ligação com o público que melhoraria sempre qualquer obra seguinte. No entanto, tirando pequenos e raros momentos, até Steven Spielberg deverá estar a pensar como foi possível uma saga se deteriorar tanto com o tempo. Até o clímax do terceiro ato desaponta devido à decisão terrível de filmar a batalha final entre os dinossauros em questão – momento que não teve qualquer build-up de louvar – com a lente focada nos humanos e a ação em segundo plano.
Finalmente, tal como Fallen Kingdom, colocar o peso emocional de toda a história em Maisie Lockwood (Isabella Sermon) demonstra ser um falhanço total. Obviamente, a jovem atriz faz o melhor com o que lhe oferecem, mas a relação entre Owen e Blue, a Velociraptor “adotada”, possui muito mais potencial que termina pouco explorado. Tal como os dinossauros a espalharem-se pelo planeta, a relação entre Maisie, Owen e Claire cresceu e fortaleceu-se fora do ecrã, forçando os espetadores a importarem-se com uma personagem mais daquilo que é suposto. Por decisões como esta e outras, Dominion termina a saga – pelo menos durante esta década – de forma lamentável…
Jurassic World Dominion é uma desilusão tremenda em praticamente todos os níveis. Com uma premissa incrivelmente cativante, Colin Trevorrow ignora os anos fascinantes da humanidade a tentar lidar com o caos da repopulação do planeta pelos dinossauros, optando por redigir um argumento genérico, formulaico e surpreendentemente entediante.
Além do péssimo tratamento dos personagens, o elenco é dividido por dois enredos com foco em missões de resgate e espionagem absurdos e desinteressantes, colocando os dinossauros em segundo plano durante o tempo de execução excessivamente longo. As sequências de ação atingem níveis de entretenimento drasticamente baixos, por vezes impercetíveis devido ao trabalho errático da câmara e à montagem confusa.
O elenco, os visuais e a banda sonora podem salvar a obra de ser um desastre completo, mas não deixa de falhar miseravelmente em entregar uma conclusão épica para uma saga que não merecia nada menos que isso.