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John Wick: Chapter 4 termina a saga revolucionária com uma impiedosa masterclass de ação que justifica a sua duração épica.

O primeiro John Wick saiu há praticamente uma década e o seu sucesso teve um impacto tremendo na indústria, revolucionando o género de ação em Hollywood. Ao longo dos últimos anos, tem-se visto uma evolução gradual na dedicação, tempo e orçamento despendido com as chamadas “stunts “(coreografias), nomeadamente sequências de luta. Atualmente, qualquer filme de ação tem, pelo menos, um momento onde os duplos têm a oportunidade de brilhar de forma memorável. A questão que se prende com John Wick: Chapter 4 é a mesma das outras sequelas: consegue elevar ainda mais o nível impressionante das coreografias dos antecessores ou perde o entusiasmo inicial que agarrou tantos fãs?

Creio que não vale a pena o suspense de deixar o comentário sobre a ação para o fim. John Wick é uma saga que promete aos espetadores sequências ininterruptas incrivelmente longas repletos com coreografias extremamente complexas, tiroteios com uma atenção ao detalhe nunca antes vista – recarregar das pistolas, balas a caírem, ricochetes, flashes – duplos a serem literalmente atirados contra tudo e mais alguma coisa imaginável e uma variedade infinita de objetos a serem utilizados como armas fatais. Este quarto capitulo entrega tudo isto… e muito mais.

John Wick: Chapter 4 contém sem dúvida alguma a melhor ação da franquia. Olhando exclusivamente para esta componente, não há qualquer comparação com as obras anteriores, sendo que o salto em “qualidade técnica” – sempre subjetiva – é titânico. O orçamento é cinco vezes superior ao original e tal diferença nota-se no grande ecrã. A história deste quarto e supostamente último filme – algo que desconhecia à entrada para o cinema – passa por praticamente todos os continentes, indo do deserto de Marrocos, à cidade gigante Osaka, ao ambiente de disco de Berlim, à beleza surreal de Paris e, claro, a onde tudo começou: Nova Iorque.

Excluindo a última, todas as cidades contam com uma ou mais sequências de ação de tal forma impressionantes que podiam perfeitamente ser a conclusão climática de qualquer obra de ação alguma vez criada. Dan Laustsen faz de John Wick: Chapter 4 o filme mais deslumbrante da franquia, de longe. Tanto na ação como no desenrolar da própria história, as cores vivas saltam à vista, o que deixará os maiores críticos da paleta cinzenta de Hollywood incrivelmente satisfeitos. O uso do vermelho em ambientes escuros reflete o estado de espírito vingativo que John Wick (Keanu Reeves) emana, sendo que o arco do personagem é possível de se compreender apenas através deste elemento técnico.

Mesmo assim, a cinematografia de Laustsen atinge outro nível quando tem de movimentar a câmara e os atores nas longuíssimas sequências de luta. John Wick: Chapter 4 tem perseguições a cavalo pelo deserto, espadas e nunchucks a destruírem um hotel inteiro, carros constantemente a atingirem personagens numa sequência extraordinariamente tensa na rotunda infindável do Arco do Triunfo, um sobe-e-desce numas escadas com 222 degraus absolutamente inesquecível, um duelo “à moda antiga” que deliciará fãs de Westerns e, finalmente, uma única sequencia ininterrupta filmada de cima com um drone (!) que entra para história como uma das melhores cenas de ação da história do cinema.

john wick 4 echo boomer 2

A sequência na discoteca de Berlim é a única que perde o momento perfeito para terminar. Cenas de ação são como subir uma montanha: os níveis de adrenalina vão aumentando até chegar a um pique, mas se a sequência continuar durante muito mais tempo, o interesse começa a diminuir e, colocando de forma bastante simples, os espetadores deixam de se importar. John Wick: Chapter 4 tem um excelente equilíbrio nesse aspeto, justificando a duração épica de quase três horas… algo que me leva a um debate que tem marcado os últimos tempos.

Tem surgido uma onda de comentários negativos sobre filmes com durações superiores a duas horas – algo que sempre considerei normal. Os meus dois cêntimos: não existem obras “demasiado longas” ou “demasiado curtas” devido à sua duração. Um filme deve demorar o tempo que precisa para contar a sua história, sejam oitenta minutos ou quatro horas. Denoto também imensa hipocrisia neste tópico de discussão, observando comentários negativos sobre a duração de um drama indie que nem chega à marca das duas horas – queixando-se de falta de tempo nas suas vidas -, mas os respetivos autores depois revisitam blockbusters de três horas ou mais inúmeras vezes no cinema.

Perdão pelo desvio, mas voltando à intenção inicial, John Wick: Chapter 4 é tão longo quanto deve ser. Não senti a repetição de coreografias do filme passado – onde lutas chegam a um ponto onde já só parecem danças sem consequências – pois Chad Stahelski e a sua equipa de stuntmen conseguem inovar e trazer algo de novo para cada sequência de ação. A produção sonora é das mais potentes que experienciei no cinema nos últimos anos, sendo que a música de Tyler Bates e Joel J. Richard acompanha essa alta intensidade, apesar de alguns momentos em que é demasiado imponente – para alguns espetadores poderá mesmo ser desconfortável.

Outro destaque do filme é o elenco secundário e as várias adições à franquia. A lenda Donnie Yen destaca-se dos restantes, interpretando um antagonista cego com um enredo individual emocionalmente cativante. O ator oferece ainda a sua habilidade fenomenal para as artes marciais para elevar todos os seus momentos de combate, assim como um timing cómico brilhante. Shamier Anderson também merece elogios pela sua prestação como Mr. Nobody, um personagem que vai crescendo com o decorrer da narrativa – tal como a sua motivação que serve de dispositivo de tensão – e que traz a quantidade necessária de humor a uma saga que também precisa de uns segundos para parar e respirar.

Laurence Fishburne, Lance Reddick e Ian McShane regressam para os seus papéis respetivos, sendo que o último entrega a sua performance mais emocional de toda a saga. É sempre fantástico ver Hiroyuki Sanada a assassinar um monte de figurantes com a sua espada, mas pessoalmente, destaco o cão presente em John Wick: Chapter 4, que rouba os holofotes diversas vezes. Keanu Reeves é… John Wick. Uma prestação de poucas palavras – raramente diz mais do que uma frase – mas de muito suor, sangue e sacrifício. Qualquer ator que execute a maioria das suas coreografias merecerá sempre o meu respeito e admiração.

Em relação a Bill Skarsgård, nota-se que o ator se divertiu imenso em interpretar um vilão arrogante e ambicioso, dando um certo charme a um personagem que, sinceramente, seria completamente esquecido fosse ele representado por outro ator. Shay Hatten e Michael Finch são os responsáveis pelo argumento que expande imenso o lore da saga, mas que não evita algumas fórmulas narrativas que relembram a estrutura de videojogos em que, para se poder desafiar o “final boss”, é necessário completar outras tarefas, derrotar vilões menores e obter objetos que, no fim, nem importam assim tanto.

John Wick: Chapter 4 volta a ter o peso emocional que faltou às outras sequelas. No fundo, é uma história de vingança e redenção sem grande profundeza temática, mas espero que este seja o verdadeiro fim dos filmes principais. A conclusão da obra é perfeita, encerra todos os arcos de personagem e não consigo imaginar um quinto filme com John Wick e companhia que fizesse sentido. No entanto, sinto-me totalmente investido na franquia e acredito que spin-offs, em cinema e/ou televisão, consigam atingir o mesmo nível de sucesso. Cá estarei para assistir com as pernas a tremer e as unhas cada vez menores.

VEREDITO

John Wick: Chapter 4 termina a saga revolucionária com uma impiedosa masterclass de ação que justifica a sua duração épica. As coreografias excecionais merecem a famosa hipérbole “das melhores de sempre” e o elenco secundário contém adições brilhantes – Donnie Yen e o cão são os meus MVPs. De longe, o filme mais deslumbrante de toda a franquia, com uma cinematografia carregada de cores intensas que espelham o estado de espírito das personagens. A importância do trabalho de luzes e câmara na ação arrebatadora é verdadeiramente impressionante – AQUELA sequência vista de cima é de deixar qualquer espetador boquiaberto. Original mantém-se supremo, no entanto.

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