Jesus Revolution funciona como um recontar dramático de um dos maiores movimentos espirituais da história da América, mas sofre bastante com a necessidade constante de entregar a próxima grande mensagem inspiradora, soando mais a pretensão moralista.
Os cineastas Jon Erwin e Andrew Erwin são conhecidos pelas suas obras espirituais focadas em histórias Cristãs. Em Jesus Revolution, Andrew oferece o seu lugar de co-realizador a Brent McCorkle, enquanto que Jon Gunn ajuda o outro Jon no argumento que conta as origens do Jesus Movement, um movimento evangélico Cristão que começou na passagem da década de 60 para 70. O público-alvo do filme é evidente, mas será que também funciona para pessoas totalmente desligadas de qualquer religião, Deus ou algo que transcenda a ciência?
Pessoalmente, defendo que uma crítica deve deixar clara a posição do autor em relação ao tema principal da obra. Se não me encaixo no público-alvo, devo ter o cuidado de passar essa informação, caso contrário, os leitores são facilmente enganados e levados a pensar que a obra não é indicada para eles. Roger Ebert dizia e bem que “uma boa crítica é aquela que consegue fazer o leitor perceber que provavelmente gostaria da obra mesmo que o autor seja da opinião contrária”. Dito isto, Jesus Revolution é claramente intencionado para espetadores Cristãos e/ou com uma forte ligação a alguma religião.
Apesar de ter nascido numa família Cristã, não acredito em qualquer Deus nem sou religioso. Aliás, não podia estar mais longe disso. Sendo assim, que tipo de interesse pode ter um filme como Jesus Revolution? Se há algo que Erwin e McCorkle acertam em cheio é em separar a fé e espiritualidade da religião. Todas as pessoas possuem os dois primeiros atributos, ao passo que religião encontra-se inevitavelmente ligada a algum tipo de entidade ou organização – tanto que algumas são descritas como autênticos cultos.
Enquanto espetador fora do espetro para o qual a obra foi criada, Jesus Revolution está no seu melhor quando se foca em contar os eventos verídicos que originaram o movimento respetivo, assim como oferecer uma perspetiva mais positiva sobre a comunidade hippie. A simples ideia de milhares de jovens deixarem tudo para trás para seguirem Jesus Cristo da forma incrivelmente dedicada que aconteceu há décadas atrás é, só por ela, impressionante. Nos dias de hoje, com tanta tecnologia nas nossas mãos, é difícil de imaginar que tal ajuntamento pudesse voltar a acontecer da mesma maneira.
Jesus Revolution aproveita as prestações extraordinários do elenco – Kelsey Grammer é hipnotizante como Chuck Smith – e uma daquelas bandas sonoras ideais para momentos de relaxamento e meditação para elevar uma obra que, infelizmente, não consegue fugir a uma estrutura narrativa repetitiva demasiado moralista. Diálogos profundamente inspiradores devem acontecer espontaneamente, mas o filme persegue incessantemente conversas atrás de conversas com frases-chave, ditados populares e “palavras bonitas” que acabam por sair forçadas e santimoniais.
Em adição a isto, Lonnie Frisbee – interpretado por Jonathan Roumie – é um personagem que levanta imensas questões. Durante a primeira metade de Jesus Revolution, Lonnie possui uma conexão única e pessoal com Deus, demonstrando uma devoção inigualável para com o divino e sendo uma influência tremendamente positiva para todos à sua volta. No entanto, à medida que a narrativa se desenrola, Lonnie torna-se extremamente egocêntrico e hipócrita, focando-se mais na atenção e fama que recebe por fazer milagres teatrais do que na sua missão inicial de união, paz e amor.
O filme concluí e a verdade é que fico sem perceber qual o intuito genuíno do personagem. Jesus Revolution também relativiza e até brinca com o consumo de droga dentro da comunidade, o que não me deixa particularmente agradado. Ultimamente, os arcos de descoberta pessoal de Greg Laurie e Cathe – interpretados por Joel Courtney e Anna Grace Barlow, respetivamente – assim como a sua relação amorosa, acabam por ser as linhas narrativas mais convincentes.
VEREDITO
Jesus Revolution funciona como um recontar dramático de um dos maiores movimentos espirituais da história da América, mas sofre bastante com a necessidade constante de entregar a próxima grande mensagem inspiradora, soando mais a pretensão moralista. Excelentes prestações e música repleta de boa energia fazem desta visualização uma experiência serena apesar de formulaica. É o tipo de obra ideal para espetadores devotos com ligação forte com a Cristandade, mas para quem não possui laços religiosos, dificilmente serão convertidos.