Godzilla Minus One atinge um equilíbrio excecional entre a construção envolvente de personagens, uma narrativa tematicamente rica e duas horas de entretenimento gigantesco, tornando-se ultimamente uma adição notável ao subgénero de filmes de monstros.
Como um devoto fã de Godzilla e entusiasta ávido de filmes de monstros, as minhas expetativas para Godzilla Minus One já se encontravam bem altas. As reações esmagadoramente positivas apenas aumentaram o meu interesse, preparando o terreno para o que esperava ser um potencial concorrente para o meu Top10 anual. O MonsterVerse tem sido marcado pela inconsistência, com algumas obras recebendo elogios enquanto outras deixaram fãs a desejar muito mais, mas até agora, nenhuma parcela conseguiu impressionar-me. Confiando na visão criativa do argumentista e realizador Takashi Yamazaki (The Eternal Zero), entrei na sala de cinema com otimismo, pronto para ser cativado por uma narrativa que fosse além das épicas batalhas de monstros.
No seu cerne, Godzilla Minus One não é meramente um filme de monstros; é uma história pós-guerra sobre a busca de um homem por perdão, propósito e paz interior. Kōichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki) é um protagonista complexo, assombrado pelos eventos traumáticos do primeiro ataque de Godzilla, que lida não apenas com o peso da culpa por ter abandonado o seu dever como piloto kamikaze, mas também com a sua incapacidade de salvar outros seres humanos durante o massacre do monstro epónimo. Yamazaki elabora uma narrativa íntima que aprofunda as lutas internas do personagem principal, revelando um homem guiado não por cobardia, como todos ao seu redor julgam, mas por um desejo profundo de preservar a vida e evitar mais derramamento de sangue. Este tema adiciona uma camada de complexidade a uma obra que transcende a narrativa típica de filmes de monstros e explora as consequências psicológicas da guerra.
Godzilla Minus One também aborda tópicos mais amplos como humanidade, ilustrando como as pessoas se unem na face de situações desesperantes. Ao contrário das normas de Hollywood, que muitas vezes forçam relacionamentos românticos através de montagens rápidas, Yamazaki adota uma abordagem menos romantizada. O cineasta foca-se em avançar o enredo e as relações entre personagens de maneira orgânica, usando saltos temporais apenas para sinalizar progressão sem comprometer a autenticidade. Esta quebra da forma formulaica de apresentar a história é um testemunho do compromisso da obra com a integridade da sua narrativa.
Um dos elementos técnicos marcantes do filme é a sua banda sonora de Naoki Satō. Uma composição verdadeiramente épica e catártica que eleva todas as sequências de ação, mas também os momentos mais pessoais e focados na família. O poderoso tema de Godzilla ecoa pelo cinema, mantendo o público na beira dos seus assentos. No entanto, a música também exibe subtileza, com notas de piano a carregar o peso emocional de cenas comoventes. É um equilíbrio delicado que enriquece a experiência geral, enfatizando o impacto visceral da história muitas vezes sombria.
A produção sonora, especialmente nas cenas do sopro atómico, é nada menos que poderosa. O áudio meticulosamente elaborado realça o poder destrutivo de Godzilla, englobando o caos do poder ilimitado do monstro em completo silêncio antes de uma explosão brutal que varre literalmente tudo e todos. Godzilla Minus One mostra uma das sequências de sopro atómico mais impressionantes que testemunhei até à data, tanto do ponto de vista audiovisual quanto do personagem. Para os espetadores que consideram Godzilla (2014) uma adaptação que diminuiu em demasia a presença do monstro, Yamazaki atinge o equilíbrio perfeito entre história, personagens e entretenimento. Um verdadeiro festival sensorial.
Visualmente, Godzilla Minus One é um triunfo. A cinematografia de Kōzō Shibasaki é deslumbrante e, assim como os demais atributos do filme, incrivelmente bem equilibrada. Não só captura a escala gigantesca do monstro e a devastação que deixa no seu rastro, mas a dedicação e cuidado empregues nestas sequências massivas também alcançam os frames que giram em volta do lado mais pessoal das personagens, que ocupam a maior parte do tempo de execução. A atenção aos detalhes estende-se ao design de Godzilla, que é totalmente badass. As cenas de regeneração de pele, bem como o seu corpo reage a mudanças súbitas na pressão da água, são elementos surpreendentes que levam a um terceiro ato explosivo – o ritmo é habilmente controlado durante todo o filme.
Uma pequena crítica rigorosa reside nos breves close-ups do seu rosto, onde, estranhamente, parece estar a sorrir como se fosse um ser humano. Embora isso não impacte significativamente nenhuma sequência, serve como uma distração leve num trabalho de efeitos visuais de outra forma magnífico. Para além disto, apesar da escrita assertiva e envolvente, as prestações principais ocasionalmente caem para o território melodramático. As emoções estão presentes, mas a entrega exagerada retira por vezes a autenticidade das experiências das personagens. Tal fator torna-se especialmente percetível em cenas que abordam PTSD, onde as performances tornam-se avassaladoras, afetando a seriedade do assunto.
VEREDITO
Godzilla Minus One atinge um equilíbrio excecional entre a construção envolvente de personagens, uma narrativa tematicamente rica e duas horas de entretenimento gigantesco, tornando-se ultimamente uma adição notável ao subgénero de filmes de monstros. A obra quebra as barreiras formulaicas dos filmes genéricos de criaturas, entregando uma história complexa que explora temas de redenção, perdão e as consequências da guerra. A banda sonora memorável, a produção sonora poderosa e os visuais imaculados contribuem para uma experiência cinemática emocionante e imersiva. As ocasionais inclinações para o melodrama pouco afetam o impacto geral de um filme que, sem dúvida, conquistou o seu lugar no topo da respetiva franquia.
Estava receoso de ir conferir, por isso procurei por uma crítica profunda sobre o filme.
Obrigado pelo seu trabalho.
Carlos,
Obrigado pela leitura 🙂