Crítica – Fingernails (BFI London Film Festival 2023)

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Fingernails é, sem dúvidas, o título ideal para este filme sci-fi de alto-conceito que, apesar de ficar aquém do seu potencial narrativo e temático, não deixa de apresentar uma sátira eficiente e instigante sobre comportamentos humanos influenciados por amor e tecnologia.

Adoro filmes sci-fi de alto-conceito. Simplesmente, existe algo de verdadeiramente fascinante em observar o futuro da humanidade ser completamente alterado por, neste caso, uma invenção em particular, especialmente se for tão bizarra como em Fingernails. Christos Nikou (Apples) coloca os seus personagens num mundo onde o amor pode ser calculado através de uma máquina controversa, tanto pelo seu método de análise como pelo seu significado. Com a ajuda dos co-argumentistas Sam Steiner e Stavros Raptis, o cineasta grego oferece uma obra instigante, apesar de alguns problemas narrativos.

O desenvolvimento do conceito central é, naturalmente, um dos elementos mais cativantes de Fingernails. A sátira em volta dos comportamentos humanos irrevogavelmente afetados não só oferece inúmeros momentos de humor, mas mostra-se tremendamente eficiente em passar a mensagem de que, cada vez mais, a população deixa-se levar por novas tecnologias, mesmo que as razões para a existência das mesmas sejam absurdamente idiotas. Desde exercícios propositadamente ridículos de como “melhorar a conexão amorosa” num casal até ao sacrifício físico doloroso para obter o resultado do teste popular, todas estas sequências são inteligentemente executadas e interpretadas.

Fingernails torna-se previsível cedo, arrastando-se de alguma forma até chegar aos eventos antecipados do terceiro ato, mas curiosamente, nunca deixa de ser interessante assistir ao desenrolar dos vários enredos secundários que vão marcando o filme. Os protagonistas Anna (Jessie Buckley) e Amir (Riz Ahmed) trabalham no Love Institute, ajudando casais num plano de preparação para o eventual teste, fortalecendo a sua relação através dos tais exercícios tontos mas bem-humorados. Desde karaoke em francês a encontrar o/a parceiro/a através do cheiro, dificilmente terminarão a obra sem uma única gargalhada.

Os temas abordados sobre o amor são bastante genéricos. Que “o amor dói” e que “é complicado”, todos os espetadores sabem, mas Fingernails consegue provar estas frases-cliché eficazmente, apesar de não apresentar propriamente nenhum exemplo ou analogia nunca antes vista. Buckley e Ahmed trazem uma camada humana necessária a uma história que facilmente se perderia no tópico menos interessante sobre a tecnologia – ainda para mais hoje em dia onde parece que todos os filmes são obrigados a trazer AI para o seu argumento.

Infelizmente, as mensagens temáticas transmitidas sofrem de alguma inconsistência frustrante. Por um lado, Fingernails deixa claro que a máquina e os exercícios de melhoria do amor são, na sua mais simples definição, pura treta. O amor não se pode medir com números e o facto de uma relação entrar numa determinada rotina não significa que a paixão desapareceu. Por outro lado, o terceiro ato gira à volta de ações guiadas totalmente pela validação da tecnologia, com personagens a tomarem decisões incompreensíveis e até contraditórias com aquilo em que acreditaram o filme todo.

O final, infelizmente, não funciona, de todo. Arruína por completo a personagem de Buckley, tentando forçar a audiência a sentir pena por alguém que comete ações vergonhosas e extremamente hipócritas. Fingernails tanto defende o amor como algo incalculável como cria sequências inteiras não-satíricas dedicadas à defesa do que a máquina significa. O elenco faz um excelente trabalho com o guião apresentado – Buckley e Ahmed partilham boa química – mas faltou maior coesão narrativa nos últimos minutos para Nikou entregar uma das potenciais maiores surpresas do ano. Assim, fica-se pelo entretenimento competente mas pouco memorável, ignorando uma certa componente visual que deixará alguns espetadores mais sensíveis a desviarem o olhar do ecrã.

VEREDITO

Fingernails é, sem dúvidas, o título ideal para este filme sci-fi de alto-conceito que, apesar de ficar aquém do seu potencial narrativo e temático, não deixa de apresentar uma sátira eficiente e instigante sobre comportamentos humanos influenciados por amor e tecnologia. Jessie Buckley e Riz Ahmed lideram competentemente uma obra previsível, mas continuamente envolvente, bem-humorada e bastante humana. Mensagens inconsistentes e um final forçado e hipócrita não fazem jus ao resto do filme que merecia melhor conclusão para o seu estudo sobre as complexidades e poder do amor.

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