Crítica – Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore

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Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore é uma melhoria significativa em relação aos seus antecessores, provando que Steve Kloves realmente consegue fazer milagres.

Sinopse: “O poderoso Feiticeiro Negro, Gellert Grindelwald (Mads Mikkelsen), prepara-se para controlar o mundo dos feiticeiros. O Professor Albus Dumbledore (Jude Law) percebe que não o consegue impedir sozinho e confia no magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne) para liderar uma equipa destemida de feiticeiros, bruxas e um corajoso cozinheiro muggle. Nesta perigosa missão encontram antigos e novos monstros, e defrontam a crescente legião de seguidores de Grindelwald. Mas com tudo em jogo, quanto tempo conseguirá Dumbledore ficar fora desta luta?”

No que toca a franchises cinematográficas, é frequente ver amantes de cinema com dificuldades em serem honestos com os seus pensamentos sobre as sagas respetivas, especialmente se não adorarem as obras como a maioria dos fãs. Felizmente, Harry Potter foi e continua a ser especial para mim como para quase todos os espetadores que se deixaram levar por este lugar mágico massivamente aclamado. Surge Fantastic Beasts e nostalgia preenche o nosso coração, criando uma onda de emoções que resultam num hype quase descontrolado que acabou por ser desiludido com os primeiros dois filmes. No entanto, apesar de possuir alguns problemas, The Secrets of Dumbledore consegue superar todas as expetativas e tornar-se na primeira obra sólida da agora trilogia.

Tendo em conta os vários problemas de produção que assoberbaram este projeto, é verdadeiramente um milagre que o resultado final seja tão positivo. Desde a substituição de Johnny Depp por Mads Mikkelsen às paragens e adiamentos causados pela pandemia global, não esquecendo o conflito entre J.K. Rowling e Katherine Waterston, que interpreta a “desaparecida” Tina, The Secrets of Dumbledore originou centenas de assuntos polémicos dos quais não só não quero abordar, como também não tiveram qualquer tipo de impacto na minha opinião. Aliás, a maioria das alterações forçadas acabam por contribuir para uma história muito mais interessante do que as antecessoras.

É precisamente no argumento que The Secrets of Dumbledore mais surpreende, nomeadamente na sua narrativa principal, assim como os temas que emergem da mesma e as personagens em destaque. Albus Dumbledore (Jude Law) e Gellert Grindelwald (Mikkelsen) tomam as rédeas da saga que, agora sim, se foca totalmente na sua relação misteriosa e amorosa. Assumindo que não sou o único fã no mundo que desconhecia da sexualidade de Dumbledore, a verdade é que considerar uma notícia de 2007 spoiler para uma obra lançada 15 anos depois é algo absurdo. Ainda para mais quando foi a própria autora JKR a desvendar essa informação e inclusive a referir que a saga Fantastic Beasts ia explorar este lado da vida do feiticeiro mais poderoso do mundo.

Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore

The Secrets of Dumbledore inicia precisamente com o primeiro diálogo explícito sobre o amor que Dumbledore e Grindelwald possuem um pelo outro e é a partir desta cena – algo apressada para um “novo” Grindelwald – que JKR e Steve Kloves desenvolvem uma história genuinamente cativante. Sempre que o filme se concentra nestes dois personagens, seja explorando o passado complexo e trágico da família Dumbledore ou seguindo as motivações firmes de Grindelwald, sem nunca desassociar a sua relação do centro de todos os eventos narrativos, consegue capturar o olhar e coração do público como nenhuma das outras duas obras conseguiram.

Law e Mikkelsen contribuem tremendamente para a ligação dos espetadores com os respetivos personagens, entregando prestações que merecem atenção só por si mesmas. O antagonista possui uma presença mais poderosa e assustadora que Depp e Colin Farrell – performances que também aprecio bastante – ao passo que o primeiro eleva impressionantemente o seu nível comparativamente à presença algo insípida em Crimes of Grindelwald. A química palpável entre os atores tanto gera diálogos extremamente tensos como uma sequência de ação climática há muito esperada.

No entanto, é mesmo o passado de Dumbledore e da sua família que traz revelações chocantes para o Wizarding World. Perguntas que atormentaram fãs durante anos são finalmente respondidas, através de momentos bastante emocionantes partilhados entre Albus, Aberforth (Richard Coyle), Newt (Eddie Redmayne) e até Credence (Ezra Miller). A melhor componente narrativa de The Secrets of Dumbledore é exatamente o aprofundamento de Albus enquanto personagem imperfeita. Todos os espetadores conhecem o grande feiticeiro em que se torna, mas foram os erros e más decisões do passado que o levaram a atingir tal patamar. O luto e o sentimento de culpa que ainda carrega, o amor que ainda vive e os problemas familiares que ainda enfrenta são abordados brilhantemente durante todo o filme.

Infelizmente, esta mudança de foco temático e narrativo algo brusca provoca vários contratempos. A saga Fantastic Beasts começa com Redmayne a liderar a nova história com Where to Find Them, onde Dumbledore nem se vê e Grindelwald “materializa-se” apenas no fim. Avança-se para Crimes of Grindelwald e o balanço entre as várias linhas narrativas e personagens é tão descontrolado que os holofotes ficaram a apontar para o vazio. Chega-se a The Secrets of Dumbledore e, afinal, é a relação amorosa que os personagens que dão o subtítulo a este e ao último filme que mais importa num mundo que começou como uma aventura mágica na América com animais e um magizoologista.

Esta falta de estrutura e de bases sólidas resulta num The Secrets of Dumbledore a corrigir inúmeros pontos de enredo definidos nas outras obras e a criar novos arcos para personagens outrora importantes. A primeira metade serve maioritariamente para salvar o barco de afundar e recolocar o mesmo numa rota completamente diferente daquela anteriormente planeada, o que acaba por prejudicar parcialmente os filmes anteriores, assim como as respetivas personagens. Newt passa de protagonista indiscutível com um interesse amoroso e uma missão clara para um mero pião no jogo de xadrez entre Dumbledore e Grindelwald. Redmayne é fenomenal e Newt é, de facto, um bom protagonista… mas para liderar outra saga.

Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore

Credence foi desenvolvido como elemento-chave nos últimos dois filmes, mas recebe um tratamento algo estranho durante The Secrets of Dumbledore, apesar de possuir um arco incrivelmente significativo que acaba por ser despachado em míseros segundos desapontantes – sem dúvida, o personagem com mais potencial desperdiçado. Curiosamente, o único enredo secundário que se revela consistentemente interessante ao longo de todos as obras é a relação entre Jacob Kowalski e Queenie Goldstein, hilariantemente interpretados por Dan Fogler e Alison Sudol. A maioria dos espetadores lembrar-se-á das gargalhadas que deram à custa destes dois, mas o drama intenso provocado pelos constantes obstáculos que lhes são colocados à frente oferece outro gravitas ao seu amor orgulhosamente tonto.

A tal primeira metade também necessita de tempo para introduzir personagens novas e outras recorrentes e lançá-las em missões aleatórias, a maioria sem qualquer impacto narrativo, afetando o ritmo inicial demasiado lento para um filme que não se interessa por estas aventuras secundárias. Para além disso, como uma das maiores premissas de The Secrets of Dumbledore é que Dumbledore é, de facto, um feiticeiro cheio de segredos que nunca conta tudo, os espetadores são obrigados a seguir personagens a cumprirem instruções cujo rumo e objetivo final é completamente desconhecido. Salva-se Jessica Williams como Lally Hicks, demonstrando que nasceu para pertencer a este mundo mágico com uma performance carismática.

Por um lado, JKR e Kloves – principalmente este último, visto que o seu regresso provocou uma melhoria drástica na qualidade de escrita da saga – criam um argumento em camadas que se assiste melhor numa repetição, mas independentemente do número de visualizações, tudo o que não envolva Dumbledore ou Grindelwald é praticamente insignificante até ao terceiro ato. Ironicamente, a exceção positiva acaba por ser algo que sempre foi um problema nos outros filmes: a presença dos monstros fantásticos. Pela primeira vez na saga, The Secrets of Dumbledore faz jus ao título principal, atribuindo um peso emocional tremendo a um “monstro” em particular, conseguindo finalmente juntar o mundo animal aos enredos humanos de forma eficiente.

Tecnicamente, David Yates volta a demonstrar aquele maior controlo criativo sobre as suas obras como nos últimos filmes de Harry Potter, apesar de ter jogado pelo seguro em várias ocasiões onde poderia ter tomado alguns riscos. A banda sonora de James Newton Howard nunca foi melhor nesta franchise, conseguindo balançar com sucesso os temas inesquecíveis de Hogwarts com a música de Fantastic Beasts. Com a evolução natural dos visuais, os confrontos entre feiticeiros até podiam ser simplesmente uma mescla de efeitos mágicos, mas existe o cuidado de criarem sequências imaginativas repletas com entretenimento que, sem dúvida, deixarão espetadores fascinados.

Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore é uma melhoria significativa em relação aos seus antecessores, provando que Steve Kloves realmente consegue fazer milagres – J. K. Rowling tem muito que aprender. Ao mudar completamente o foco da saga para a relação amorosa entre Albus Dumbledore e Gellert Grindelwald, assim como a exploração do passado complexo e trágico da família Dumbledore e as imperfeições do primeiro, esta ganha uma componente narrativa emocionalmente poderosa e genuinamente interessante, sendo que as prestações soberbas de Jude Law e Mads Mikkelsen contribuem imenso para tal.

Pena que a primeira metade sofra com os constantes ajustes à franchise, levando personagens outrora importantes por aventuras secundárias irrelevantes e corrigindo elementos de enredo definidos em parcelas anteriores, prejudicando imenso as mesmas e afetando negativamente o ritmo desta última. O barco já não se encontra a afundar, mas os danos poderão ser demasiados para continuar a navegar…

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