F9: The Fast Saga leva as suas sequências de ação absurdamente ridículas a níveis inacreditavelmente intoleráveis, tudo enquanto tenta contar uma história demasiado longa, confusa e nada criativa em torno de um dos clichés mais genéricos do cinema.
Sinopse: “Dom Toretto (Vin Diesel) leva uma vida tranquila, longe de tudo, com Letty (Michelle Rodriguez) e o seu filho, o pequeno Brian. Mas todos sabem que para lá do horizonte pacífico, o perigo está sempre à espreita. Desta vez, esta ameaça vai forçar Dom a enfrentar os pecados do seu passado para conseguir salvar aqueles que mais ama. A sua equipa volta a unir-se para travar um plano que vai chocar o mundo, liderado pelo melhor condutor e maior assassino que alguma vez encontraram: Jakob (John Cena), o irmão abandonado de Dom.”
Ação é um daqueles géneros que acredito firmemente ter um lugar para cada tipo de filme. Desde lutas incrivelmente coreografadas e sequências de vida-ou-morte de fazer cair o queixo até sequências ridiculamente sem lógica e irrealistas, defendo que não existe um filme “automaticamente mau” baseado no estilo de ação. A franchise Fast & Furious não começou exatamente como uma saga admitidamente “parva” no que toca às suas perseguições de carros e combate homem-a-homem. No entanto, com o passar do tempo, a seriedade e o realismo foram desaparecendo cada vez mais – se é que existiu algum, para começar. A saga chegou a um ponto em que os espectadores aceitaram a sua tradicional suspension of disbelief como um requisito obrigatório para realmente desfrutar do potencial dos filmes como blockbusters para esvaziar baldes de pipocas.
Apesar de estar longe de ser um fã destas películas, não sou sinto um ódio de qualquer tipo. Na verdade, considero sagas como esta bastante úteis e necessárias para que as pessoas possam escapar dos seus problemas do mundo real. Por mais que quem não goste da franquia admita o seguinte ou não, The Fast Saga – como também é referida – é financeiramente bem sucedida, o que significa que os espectadores continuam a ir aos cinemas para assistir a estes filmes, mesmo após duas décadas. Pessoalmente, apenas aprecio genuinamente Fast 5, Fast & Furious 6 e Furious 7, ao passo que as sequelas restantes vão de desastres absolutos a filmes de ação algo nada memoráveis e inofensivamente tontos. Entrei no cinema para F9: The Fast Saga mentalmente preparado para testemunhar cenas desafiadoras das leis da física e personagens a sobreviverem a situações impossíveis…
Mas este filme supera todos os meus níveis de tolerância por uma grande margem. De todos os filmes de F&F, este é o que fica mais perto de ser um desenho animado em imagem real, e não escrevo isto de forma positiva. Desde carros conduzirem verticalmente através de uma ponte em colapso a personagens que se tornam astronautas da maneira mais chocante e estupidamente possível, Justin Lin não mostra nenhum sinal de se importar com o equilíbrio ou estabelecer um limite para a ação absolutamente ridícula. Até agora, os outros filmes iam misturando. Algumas cenas eram mais malucas que outras, mas durante uma sequência inteira, ainda era possível encontrar momentos de excelente ação com um trabalho de proeza notável. Basicamente, conseguia aceitar melhor estas cenas, pois a parte menos lógica da ação era apenas um momento e não a sequência completa.
Ao contrário dos seus antecessores, F9 pega nas ideias mais absurdas sobre como uma cena de ação deve ser apresentada e espalha-as por perseguições de carros, tiroteios, lutas e muito mais por longos minutos. Todos os segundos destas sequências pedem aos espectadores para desligarem os seus cérebros. Se conseguirem fazer isso durante a maior parte do tempo de execução de duas horas e meia, então provavelmente serão capazes de desfrutar deste filme. Infelizmente, esta última longa-metragem estica a capacidade de acreditar para lá dos níveis razoáveis, mesmo para os padrões da franquia. Tenho dificuldades em recordar-me de uma única cena de ação que realmente me tenha surpreendido, o que pode ser um efeito secundário de toda a absurdidade, incluindo a narrativa confusa e atrapalhada.
Todos os pontos de enredo que abordo nos próximos parágrafos são mostrados na sua totalidade no primeiro trailer oficial, logo é quase impossível revelar qualquer informação importante que seja sobre este filme. Recomendo fortemente não assistir a nenhum trailer se não pretendem ver toda a história ser resumida em três minutos, incluindo plot twists e revelações supostamente surpreendentes. Dito isto… a linha narrativa cliché do “irmão perdido” não só prova que os argumentistas estão a ficar sem material novo e criativo para fazer mais filmes, mas também impacta negativamente o traço de personalidade mais importante do protagonista. Durante 20 anos, Dom foi desenvolvido como o “homem de família” perfeito, a pessoa que coloca a sua família acima de tudo. O próprio lema da saga e a mensagem geral são sobre família. Penso ter dado para perceber que a palavra-chave aqui é “família”…
Bom, Dom ter um irmão (John Cena) nunca antes mencionado não seria fácil vender aos espectadores, mas Daniel Casey e Lin são parcialmente capazes de justificar a sua separação com uma história convincente. No entanto, à medida que a exposição e os flashbacks ficam mais pesados, o seu passado torna-se menos interessante. No final, olhando para tudo o que aconteceu e como Dom foi desenvolvido ao longo destes anos, simplesmente não acredito que tenha passado todo este tempo ignorando o seu irmão mais novo por algo que ultimamente deixa a personagem de Vin Diesel retratada como alguém que contradiz a sua evolução até então. Adicionar mais dois antagonistas – Cipher de Charlize Theron e Otto de Thue Ersted Rasmussen – só torna tudo mais confuso.
De seguida, temos a situação de Han (Sung Kang). Trazer de volta uma personagem que morreu num capítulo anterior é sempre um grande risco em qualquer franquia. A menos que exista uma explicação infalível que suporte o regresso da personagem, esta decisão pode realmente prejudicar não só este filme, mas também o impacto emocional dos seus antecessores. Infelizmente, a história por trás do que realmente aconteceu em Tóquio é tão absurda quanto a ação geral. Como se a desculpa preguiçosa e inacreditável não fosse suficiente, o papel de Han neste filme é totalmente irrelevante. Não havia absolutamente nenhuma necessidade de trazê-lo de volta para contar esta narrativa, fazendo com que a personagem e todo o subplot para o encontrar seja tempo inútil adicionado à duração já “inchada”.
Honestamente, não sei se os fãs vão gostar de F9 ou não, mas ficaria surpreendido se terminasse como um dos seus favoritos. Obviamente, o orçamento gigante ajuda a oferecer um valor de produção espetacular com filmagens no local em diferentes países. No geral, é bem filmado com excelentes visuais e produção sonora, por isso, possui tudo aquilo que o espectador comum gosta de ver no grande ecrã. Os membros do elenco que regressam partilham uma química palpável, embora as cenas de Vin Diesel com John Cena não sejam exemplares de boas atuações…
F9 leva as suas sequências de ação ridiculamente absurdas a níveis intoleravelmente inacreditáveis, tudo enquanto tenta contar uma história demasiado longa, confusa e nada criativa em torno de um dos clichés mais genéricos do cinema. Justin Lin ignora o pouco equilíbrio que a saga ainda possui em filmes anteriores, entregando momentos absurdamente parvos ao longo de vários minutos, ao contrário de ter uma cena de ação algo aceitável com a necessidade ocasional de “desligar o cérebro” numa situação específica.
Daniel Casey e Lin também são incapazes de criar uma narrativa cativante sobre o irmão perdido de Dom, prejudicando anos de desenvolvimento de personagem do papel de Vin Diesel. Trazer Han de volta foi tão desnecessário quanto a explicação pouco convincente para o seu regresso, afetando não só o ritmo e o longo tempo de execução deste filme, mas também o peso emocional dos antecessores. Os membros do elenco original e o valor de produção excecional são suficientes para evitar que este filme seja um desastre autêntico.
Se forem capazes (realmente) de aceitar tudo o que apareça no ecrã por mais de duas horas, pode ser um momento de pura diversão tonta no cinema. No entanto, mesmo para fãs da saga Fast & Furious, duvido que este filme termine como um dos favoritos.