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Caddo Lake oferece uma experiência caseira envolvente, sustentada por uma narrativa intrincadamente construída e revelações intrigantes que mantêm o público cativado até ao fim.

M. Night Shyamalan não é, nem de perto, um nome unânime na indústria, tanto do lado dos estúdios que escolhem ou não apostar no cineasta, como do lado do público que tanto se vê surpreendido como desiludido com as suas obras habitualmente divisivas. Dito isto, é difícil negar o seu impacto na conquista da atenção dos espetadores, mesmo que apenas surja como produtor, como é o caso de Caddo Lake, realizado e escrito pelo duo Celine Held e Logan George (Topside). Com um elenco bastante atrativo protagonizado por Dylan O’Brien (Maze Runner) e Eliza Scanlen (Little Women), as expetativas aumentaram ainda mais com a premissa narrativa.

Caddo Lake centra-se no desaparecimento misterioso de uma menina de 8 anos e a sua interligação com uma série de outros desaparecimentos e mortes passadas, alterando para sempre a história de uma família quebrada. Parte thriller, parte mistério, parte ficção-científica, parte drama familiar… uma mistura de géneros interessante com um potencial tremendo para trazer algo de novo e até incorporar as reviravoltas chocantes que Shyamalan tanto aprecia. Resta saber em que lado cai: se no abuso de reviravoltas desapontantes ou se numa narrativa genuinamente intrigante.

Felizmente, Caddo Lake surpreende pela positiva. Held e George demonstram ter conhecimento, destreza técnica e artística mais do que suficiente para agarrar num argumento repleto de nós intrincados e interconexões lógicas e narrativas extremamente complexas e transpor as ideias arrojadas para o grande ecrã de forma verdadeiramente fascinante. Desde um controlo de tom e ritmo notável à execução de revelações relevantes de enredo e personagem, raramente recorrendo a exposição barata ou forçada, é deveras impressionante como determinadas informações são transmitidas à audiência com clareza suficiente para esta começar a encaixar as peças do puzzle admitidamente complicado, mas sem dar de bandeja respostas fáceis.

O valor de entretenimento principal encontra-se precisamente no mistério central que Caddo Lake utiliza para gradualmente oferecer pistas visuais para decifrar o porquê de certos eventos estarem a suceder em tempos distintos. O’Brien e Scanlen entregam prestações cativantes enquanto protagonistas que se encontram em linhas narrativas diferentes, mas com imensos elementos do mundo que os rodeia em comum, sendo que as diferenças do ambiente físico passam também para a palete de cores utilizada com cada personagem. Os pormenores são tantos que, após o fim da obra, existe uma certa tentação de voltar a assistir rapidamente para voltar a interpretar determinadas cenas com a história completa já inserida na mente.

No entanto, Caddo Lake peca pela superficialidade temática e até das próprias personagens, focando-se totalmente no mistério e na componente sci-fi para agarrar os espetadores ao invés de criar razões emocionais palpáveis para ajudar o público a ligar-se aos protagonistas. O drama familiar e os problemas provenientes de separações, sejam estas por escolha ou morte, levam a que tópicos como o luto sejam colocados de lado em prol do entretenimento, algo que não prejudica uma primeira visualização da obra, mas que causará problemas maiores em eventuais repetições.

Tirando um ou outro dispositivo de enredo conveniente, Caddo Lake possui uma estrutura narrativa incrivelmente coerente e intrigante de se seguir. As questões que o filme obriga os espetadores a processar nunca são confusas devido a alguma má execução ou falha lógica gritante, mas sim devido a precisamente uma organização sublime de como entregar as revelações certas no momento certo da forma mais adequada. A banda sonora de David Baloche também merece elogios.

Finalmente, uma última nota para o departamento de marketing de Caddo Lake. Numa Era de Hollywood onde entrar para o cinema totalmente livre de quaisquer spoilers ou informações que estragam qualquer fator surpresa é raríssimo, há que congratular quando tal acontece. É verdade que tive a oportunidade de assistir a este filme com antecedência e, como tal, longe do burburinho comum da antecipação a uma obra. Mas ao ver os trailers públicos, assim como as notas de imprensa pedindo para salvaguardar determinados aspetos que compõem o filme, sinto-me incrivelmente feliz por me aperceber que ainda existem pessoas na indústria que lutam pela melhor experiência possível para os espetadores.

VEREDITO

Caddo Lake oferece uma experiência caseira envolvente, sustentada por uma narrativa intrincadamente construída e revelações intrigantes que mantêm o público cativado até ao fim. Celine Held e Logan George conseguem equilibrar habilmente o mistério central com uma execução técnica sólida, principalmente através de narrativa visual. Apesar de algumas lacunas emocionais e temáticas que poderiam fortalecer a ligação com as personagens, a obra cumpre e bem no plano do entretenimento e intriga fascinante, demonstrando a influência de M. Night Shyamalan, mesmo num papel de produtor. Para cinéfilos que apreciam um thriller com múltiplas camadas e nuances, não há muitas oportunidades assim este ano.

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